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Quando o Silêncio é Rompido: Homossexualidades e Esportes na Internet
 
     Quando o Silêncio é Rompido: Homossexualidades e Esportes na Internet
     
     


Autor(es):
Dos Anjos, Luiza Aguiar


Periódico: Licere

Fonte: LICERE - Revista do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer; v. 16 n. 1 (2013): março

Palavras-chave:
Homossexualidade; Esporte; Internet; Torcedor


Resumo: As homossexualidades podem ser apontadas como um tema pole^mico, que, como tal, parecem demasiadamente desagrada´veis para serem tratadas no cotidiano jornali´stico. Questo~es que as abordem, assim, costumam ganhar notoriedade apenas quando ocorrem episo´dios que rompem com o cotidiano, atraindo a atenc¸a~o da sociedade. O que chamo de “episo´dio Michael” foi um exemplo recente disso: em partida va´lida pela semifinal da Superliga masculina de vo^lei, entre as equipes do Sada Cruzeiro e Vo^lei Futuro, um coro praticamente uni´ssono de torcedores cruzeirenses entoava gritos homofo´bicos contra o jogador Michael, da equipe adversa´ria. Ao final da partida, o jogador expo^s sua revolta com o ocorrido e, a partir dai´, durante semanas, a situac¸a~o foi comentada nos vei´culos midia´ticos. O episo´dio, assim, rompeu com o rotineiro silenciamento acerca das homossexualidades, especialmente se considerarmos o cena´rio esportivo. Assim, o corpus desta pesquisa sa~o os discursos veiculados sobre o caso nos sites dos jornais Estado de Minas, Folha de Sa~o Paulo, O Estado de Sa~o Paulo e O Globo, por meio de mate´rias e seus respectivos comenta´rios de leitores. Tais textos foram analisados sob uma perspectiva de uma abordagem discursiva, no qual os registros analisados sa~o vistos como discursos, construi´dos dentro de redes de poder, em que certas representac¸o~es assumem valor de verdade (HALL, 1997). O objetivo deste trabalho e´ analisar tais discursos, possibilitando reflexo~es sobre as homossexualidades no esporte e, mais amplamente, na sociedade. Refleti acerca do ambiente virtual a partir dos conceitos de cibercultura (LEMOS, 2004), sociedade em rede (CASTELLS, 2005), mediac¸a~o (MARTIN-BARBERO, 2003) e comunidade virtual (LE`VY, 1999). Ponderei, ainda, sobre possi´veis efeitos do anonimato nesse espac¸o, baseando-me nas reflexo~es de Marques (2006). A liberdade de expressa~o e a censura sa~o conceitos acionados pelos leitores- comentaristas, tendo a maioria desses demonstrado desconhecimento acerca dos limites entre as duas categorias. Trato das homossexualidades a partir de perspectivas dos Estudos de Ge^nero e da Teoria Queer. Os discursos encontrados, mesmo entre os que criticam as manifestac¸o~es da torcida, se pautam em para^metros heteronormativos, supondo um alinhamento entre sexo, ge^nero e sexualidade. Analisando as especificidades impostas pelo cena´rio esportivo, verifica-se a forte presenc¸a da viole^ncia simbo´lica. Nesse sentido, os discursos estabelecem uma disputa: de um lado, a defesa de comportamentos menos agressivos das torcidas nas arenas esportivas; de outro, a legitimac¸a~o da flexibilizac¸a~o de normas de civilidade e viole^ncia. Encontra-se, ainda, a possibilidade de uma posic¸a~o intermedia´ria, que reconhece as arenas esportivas como espac¸o ritual, mas no qual tambe´m sa~o necessa´rias certas atitudes de controle. Os argumentos expostos sa~o, em sua maioria, pautados em estereo´tipos do esporte e do torcedor que, regulados por redes de poder, sa~o tidos como verdades estabelecidas, noc¸o~es que questiono.