Fonte: Revista Turismo Estudos e Práticas - RTEP/UERN; Vol. 9 No. Dossiê Temático 2 (2020): Seminário Virtual Perspectivas Críticas sobre o Trabalho no Turismo; 1-13
Palavras-chave:
Resumo: Este artigo foi realizado com base em uma pesquisa sobre o trabalho de cozinheiras, cozinheiros e chefs de cozinha. Parte da contradição de cozinhar ser atividade historicamente associada às mulheres - quando restrita ao âmbito doméstico -, uma vez que, nas cozinhas profissionais requintadas, este ofício torna-se predominantemente masculino. Assim, com base em entrevistas com mulheres e homens chefs e cozinheiras/cozinheiros, discute-se duas questões que perpassam o trabalho em cozinhas profissionais. Primeiro, observou-se que há uma divisão sexual do trabalho interna à cozinha, que direciona as mulheres à cozinha fria, e os homens à cozinha quente, impondo dificuldades às mulheres que atuam nesta segunda, relacionadas à falta de cooperação dos colegas homens. A segunda questão observada refere-se à existência de casos de assédio, em diferentes níveis, mas muitas vezes realizados por homens no cargo de chef de cozinha, em relação às mulheres cozinheiras. Ambas as questões de diferenciação de 'lugar' na cozinha profissional e de existência de assédio no ambiente de trabalho parecem se atrelar a modelos tradicionais e binários de masculinidade e feminilidade, que se apresentam, muitas vezes, de forma naturalizada. Conclui-se que há uma urgência de transformação das relações de trabalho, visto que as concepções tradicionais de gênero ainda estão presentes na estrutura e nos processos do trabalho em cozinhas profissionais e, que a distinção afeta injusta e prioritariamente as mulheres.
