Entrevista com o Prof. Dr. Marcelo Fantinato

Entrevista com o Prof. Dr. Marcelo Fantinato

Conversamos com o Prof. Dr. Marcelo Fantinato sobre Carreira Acadêmica em um dos encontros do Café Filosófico do PET. O Café Filosófico é uma atividade realizada pelo PET-SI, na qual nós convidamos alguém para conversarmos e debatermos sobre um determinado assunto. Durante a conversa, que durou cerca de duas horas, fizemos diversas perguntas e o professor nos contou um pouco sobre como foi o caminho percorrido por ele até chegar a trabalhar aqui na USP, como nosso professor, e também nos contou algumas coisas sobre como é trabalhar dentro da academia. Você pode conferir abaixo a transcrição da nossa conversa:

Profª. Sara: Esta é a nossa 4ª sessão do Café Filosófico. Para essa sessão, Tatiana e Geraldo escolheram conversar sobre carreira acadêmica e o Prof. Fantinato está aqui para responder as perguntas de vocês.

Grupo PET-SI: Primeiro obrigado por aceitar o convite e pela disponibilidade. Nossa conversa vai assumir um caráter informal. Temos uma lista de perguntas, porém elas estão formuladas para nos dar uma linha de discussão, mas conforme a conversa fluir, não precisamos, necessariamente, segui-las. Primeiro, gostaríamos de saber qual a motivação que o senhor teve para entrar na carreira acadêmica, porque quando nós estamos para nos formar ou então pensamos sobre nosso curso, nós sempre ficamos na dúvida entre ir para o mercado de trabalho ou seguir na carreira acadêmica. O que lhe motivou a escolher a carreira acadêmica?

Prof. Fantinato: Não é uma pergunta fácil, porque a resposta também não é fácil. Eu não sei se existem pessoas para as quais a resposta é fácil, porque dizer “ah, eu sempre soube”, ou “ah, eu sei exatamente o porque” … pelo menos no meu caso as coisas foram caminhando de uma forma que me levaram a estar aqui hoje, mas o histórico é um pouco complexo. Primeiro, durante a minha graduação eu acho que não tinha a quantidade de informação que vocês têm hoje. Eu tenho a impressão de que vocês, hoje, tem bem mais informação do que eu tinha na minha graduação. Eu demorei muito para entender o que era um mestrado e um doutorado, começa por aí… Depois eu fui fazer mestrado meio que por questões acidentais, ou até falta de maturidade. Eu acho que quando nós entramos na graduação nós somos muito imaturos, mas quando a gente sai da graduação nós ainda somos imaturos. Esse é o problema, então, para vocês terem uma ideia, eu terminei a minha graduação e fui fazer um estágio na Suíça de seis meses, mas eu não gostei e foi uma experiência bem traumática para mim. Eu queria voltar para o Brasil e, na época, havia alguns amigos meus que estavam fazendo inscrição para o mestrado, e eu pensei: “Ah, uma forma de eu voltar para o Brasil agora é eu já me inscrever e começar um mestrado”. Para vocês verem como as coisas às vezes acontecem de uma forma não muito planejada: eu acabei indo fazer o mestrado porque eu queria voltar para o Brasil e eu vi que a melhor forma de encaixar as coisas era fazer um mestrado, não que eu nunca tivesse pensado em um mestrado, mas foi uma forma de eu encaixar as coisas. Então eu fui fazer o mestrado na Unicamp e fui morar em Campinas. Saí de uma cidade relativamente pequena, Maringá, onde o mercado de trabalho não era muito aquecido na área de computação, e fui pra Campinas, onde o mercado é muito mais forte. Lá comecei a ter a visão que vocês têm hoje de mercado de trabalho. Foi quando eu comecei a me perguntar se valeria a pena ou não me dedicar à carreira acadêmica. Mas, como eu comentei, eu acho que eu ainda era muito imaturo, e eu fui fazendo o meu mestrado… Amigos meus indo trabalhar, ganhar o dobro da minha bolsa de mestrado … de repente veio aquele desespero de querer ganhar dinheiro, de querer fazer as coisas, e o que eu fiz foi: quando eu acabei o primeiro ano de mestrado (o cumprimento das as disciplinas), eu passei a trabalhar e terminei o mestrado em dedicação parcial. De forma parecida eu também fiz meu doutorado, todo em dedicação parcial, sempre sem saber exatamente o que eu queria da minha vida. Mas como eu acho que sempre fui uma pessoa cuidadosa com o meu futuro, e sem saber exatamente o que eu queria e, ao mesmo tempo, querendo tudo, eu pensava: “Eu quero ter o mestrado, eu quero ter o doutorado, porque eu não sei o que eu quero no futuro, eu quero ter uma carta na manga.” Mas eu não sabia que ia acabar aqui na USP, eu achava que ia ficar no mercado. Tanto que se as pessoas acham que dá trabalho fazer um mestrado trabalhando, imagina um doutorado… e eu fiz o meu trabalhando… cheguei a pensar em desistir no meio do doutorado. É difícil a gente entender o que nos dá prazer realmente. Eu acho que isso é uma coisa que dá muito trabalho, eu escutava aquelas frases de efeito: “Escolha uma trabalho que lhe dê prazer e você nunca terá que trabalhar na vida”. Ah tá! :-/ Então eu trabalhava e fazia meu doutorado, mas pensava: “Eu quero ter o título de doutor”, até por uma questão de vaidade. Mas foi só quando eu estava realmente terminando o doutorado que começou a me dar vontade de ir para a universidade definitivamente, e isso aliado a uma decepção na empresa onde eu trabalhava, porque eu tinha sido bem avaliado na avaliação anual de desempenho da empresa e, ainda assim, não tinha recebido nenhum tipo de aumento nem promoção. Eu tinha ficado entre os 10% melhores das 20 pessoas do meu grupo e recebi um parabéns… eu fiquei chateado: “o que precisa para subir nessa empresa? O que é preciso para receber aumento se ficar avaliado entre os 10% melhores não é suficiente?”. Faltavam seis meses para eu terminar o meu doutorado, e eu acho que isso foi uma coisa que me deu uma séria decepção. Quando eu terminei o doutorado, abriu concurso aqui na EACH eu me inscrevi e passei. Só que eu só fui ter certeza que eu tinha tomado a decisão correta depois que eu já estava aqui, não era uma coisa que eu sabia. Depois que eu estava aqui trabalhando como professor, pesquisador e tudo o mais, foi que eu percebi que estava realmente fazendo aquilo que eu gostava. E como que a gente sabe? A gente sente. É uma coisa que não dá para explicar, a gente simplesmente sente. Eu acho que aquela coisa de “ache um emprego que lhe dê prazer, que você nunca mais vai ter que trabalhar”, que eu achava palhaçada, acaba fazendo sentido, por quê? Porque a sua vida profissional acaba se misturando com sua vida pessoal. E isso é bom e ruim, porque de um lado você perde um pouco da sua vida pessoal, que é o que acontece com muitos professores que gostam do que fazem, por outro lado, parece que você já não está trabalhando, então tem um lado bom e um lado ruim. Mas se a minha vida pessoal e profissional estão misturadas, será que eu estou perdendo a vida pessoal, ou será que a minha vida profissional me dá tanto prazer, e eu gosto do que eu faço a ponto de eu achar que não é uma vida profissional, é a minha vida? Até porque, depois que a gente entra na vida profissional a gente trabalha 40 horas por semana, se a gente for descontar o tempo que passamos dormindo, quanto tempo sobra para a vida pessoal? Muito menos do que para vida profissional. Enfim, isso para contar para vocês que as coisas às vezes, são aleatórias: a gente vai tomando um rumo na nossa vida… E isso sem contar para vocês como foi que eu caí na área de engenharia de software, por que eu fui fazer mestrado nisso, por que eu fui fazer doutorado naquilo. Acaba sendo muitos fatores aleatórios: “por que hoje eu sou um pesquisador na área que eu sou e não em outra área?”. Também não é uma coisa que a gente consegue estabelecer, muito pela questão da imaturidade que a gente tem, e quando eu digo que vocês hoje são imaturos como eu fui não é uma crítica, é uma constatação, é uma questão de desenvolvimento.

Grupo PET-SI: Professor aproveitando o gancho, o senhor falou da decepção de estar numa empresa e perceber que não era muito visível o que acontecia, o que foi que fez o senhor pensar: “Ah, acho que vou tentar a carreira acadêmica” e não “Ah, vou procurar outra empresa.”? Teve alguém que te deu essa ideia, teve alguém que falou que é legal ou não é legal?

Prof. Fantinato: Eu cheguei a pensar em trocar de empresa, cheguei a entrar seriamente no processo seletivo de outra empresa e também tive outra decepção com essa tentativa. Como eu estava terminando o meu doutorado e eu tinha me dedicado muito a isso, eu queria ter isso valorizado e o que acontece hoje em dia no Brasil é que as empresas valorizam o mestrado, mas o doutorado não. Você ter um mestrado acadêmico agrega para sua carreira nas empresas, talvez não formalmente no plano de carreira da empresa, mas indiretamente isso vai trazer benefício para você. Mas você ter o doutorado não valoriza e, dependendo da empresa, atrapalha.

Grupo PET-SI: Eles acham demais …

Prof. Fantinato: É, dependendo da situação, isso pode ser até ruim. Eu acho que tem mudado, acho que desde que eu sai da empresa onde eu trabalhava para hoje isso já mudou um pouco e acho que a tendência é mudar cada vez mais. Mas não é uma coisa que muda da noite para o dia. E lá na empresa onde eu estava isso acontecia, embora fosse uma multinacional e nos Estados Unidos o cenário fosse outro, no Brasil era esse o contexto. E como eu recebia e-mails da pós-graduação da Unicamp, que era aonde eu fazia meu doutorado, eu recebi o e-mail de uma oferta de emprego aqui em São Paulo, também de uma multinacional dizendo assim: “Há vagas para…”, não lembro como eles chamavam a posição, mas que eram para “mestres e doutores na área de ciência da computação”. Eu falei: “Caramba! Um empresa, um laboratório de pesquisa, com vaga para mestre e para doutor, a coisa deve ser legal e eles devem valorizar a experiência, o perfil de um doutor. Mandei meu currículo, no mesmo dia o cara me retornou, dizendo querer marcar uma entrevista … realmente eles estavam interessados. Então eu vim na empresa, lá na Berrini, não lembro exatamente aonde era, predião … super legal …. super chique …. aquelas coisas de encher os olhos. Passei por várias entrevistas e o cara … super empolgado! Só faltava “bater o martelo”. Nesse meio tempo, eu tinha feito concurso na USP já, o resultado já tinha saído e eu só estava esperando a convocação aqui. Então, eu tinha que tomar uma decisão rápida porque eu tinha que tomar uma decisão de vida. O cara falou “Olha, com a gente aqui está tudo certo. Na semana que vem virá o diretor internacional da nossa área. A gente só quer que você converse com ele para ele dar o ok”. Eu toquei no assunto do salário antes de ir para essa última conversa. O cara começa a desconversar daqui, desconversar de lá. Eu comecei a colocar ele contra a parede. Ele falou qual era o salário. No final das contas, o salário era ruim e eu me decepcionei porque eu refleti “Caramba! É uma vaga para um doutor. O cara quer um doutor. Ele chama o doutor na chamada para emprego. É para ser o líder técnico do laboratório de pesquisa e é para receber isso?”. O salário era mais do que eu ganhava na empresa que eu estava, mas não era grande coisa a mais. Só que na empresa em que eu estava eles não me contrataram por eu ser um doutor e ali eles estavam me contratando para ser doutor. Meu atual emprego na época era em uma empresa do interior e a essa nova empresa era uma empresa de São Paulo. Então, o pessoal de Campinas tinha alguns índices: “Trocar um emprego de Campinas para São Paulo tem que ganhar tanto por cento a mais para empatar, no ponto de custo de vida”. Na verdade, era esse percentual que eu ia ganhar a mais. O que o pessoal de Campinas falava é que tinha que ganhar a mais para empatar, que era pouca coisa a mais que eu ia ganhar como professor na USP. O cara estava botando a maior pilha e eu teria uma responsabilidade enorme no laboratório, porque eu era um doutor. Eu falei para ele “Não está batendo a expectativa. Eu imaginava uma coisa totalmente diferente!”. Então ele falou “Qual era a sua expectativa?”. Quando eu falei, o cara quase caiu da cadeira!!!! Ele disse que tinha alguma coisa errada e, então, eu falei para ele todo o meu raciocínio e, então, ele disse que não tinha como acompanhar essa minha expectativa. Eu disse para ele “Olha, eu sinto muito por a gente ter vindo até este momento sem a gente falar sobre isso”. Eu lembro, inclusive, que quando eu vim para o meu concurso aqui [na USP] para professor, o cara da banca perguntou para mim assim “Você está na indústria já há um tempo. Você tem certeza que você quer vir para cá para ganhar tão menos assim?”. Eu falei assim “Gente, eu devo ser muito azarado… eu devo não saber onde que se ganha bem no mercado”. Porque, como assim ganhar tão menos assim como professor? Aonde tem esses salários tão absurdos no mercado que o professor da USP ganha pouco assim? Um dos motivos de eu ter entrado para a área acadêmica, também, foi esse. Eu procurei outra oportunidade, vi essa oportunidade como uma forma de valorizar todo o esforço que eu tinha feito pelo doutorado, mas o salário tem que compensar também. E aí veio aquela história de “Olha você vai entrar, a gente vai te dar uma responsabilidade… se você mostrar que lá na frente (…)” e essa conversa para mim … já foram em duas empresas, eu não vou entrar em uma terceira fria não, porque isto eu aprendi: “O salário que você entra ganhando é o salário que você sai depois”. No máximo as correções de sindicato e dissídios, porque para você ter promoções nas empresas é muito difícil.

Profª. Sara: Se você foi contratado, já na empresa que você estava, em uma posição que já era um pouco avançada … então …

Prof. Fantinato: Para quem quer trabalhar em uma empresa no mercado, o momento de você ter a sua valorização é o momento em que você se vende na contratação. Agora, tem outro risco. Eu já vi casos em que a pessoa se vende, muito bem, e depois as expectativas ficam abaixo… passam-se seis meses, a pessoa está fora. Isso foi outra coisa, quando eu estava na tal entrevista, o cara chegou a falar para mim em uma hora “Marcelo, o diretor está vindo aqui e eu gostei muito do seu perfil. Eu posso tentar conversar com ele”. Aí eu pensei bem e falei “Não, não precisa”. Porque depois, eu pensei assim: “Ele já estava me pondo uma responsabilidade pelo salário que ele queria me pagar. Se eu conseguir que ele me pague o tanto que eu estou querendo receber, acabou a minha vida, porque eu vou ficar tão estressado, mas tão estressado, e eu não sei se é isso que eu quero para mim”. Por outro lado, depois que eu entrei na universidade, eu tive momentos de estresse que foram muito maiores do que os momentos de quando eu trabalhava e fazia o doutorado junto, com a diferença que uma pessoa que trabalha em uma universidade como a USP tem uma certa flexibilidade para escolher o que quer fazer. Eu acho que vocês já devem ter percebido isso. A pessoa que gosta de trabalhar, e gosta do que faz, e quer crescer na carreira, ela, às vezes, acaba trabalhando muito mais do que ela trabalharia em outro lugar porque, aqui, ela é a sua própria chefe, normalmente. Aconteceu comigo, mas no meu caso, em específico, aconteceu porque eu organizei dois congressos brasileiros, sendo um em seguida do outro. Agora, por exemplo, eu estou entrando em um ciclo em que se eu não me cuidar, eu vou me estressar, porque eu peguei a coordenação da pós-graduação e isso é uma tarefa adicional que pode estressar, também, mas são coisas que eu gosto de fazer. Eu, realmente, sinto que eu gosto de fazer, mas não é o mesmo prazer que eu sentia quando eu estava no mercado, diferente de outras pessoas que devem ser, exatamente, o oposto. É bom quando você pode viver os dois lados e você pode, realmente, tirar a sua própria conclusão no final.

Grupo PET-SI: Quando você fez a pós-graduação, mestrado e doutorado, você citou o estresse que sentia trabalhando e estudando, mas como você conseguiu gerenciar esse processo? Você entrou no mercado de trabalho durante o segundo ano do mestrado, quando já tinha cursado os créditos… o segundo ano é mais tranquilo?

Prof. Fantinato: Eu acho que depende, muito, da personalidade e do momento de vida de cada um. Eu, hoje, por exemplo, acho que não aguentaria. Logo depois que eu terminei o doutorado, se eu tivesse que começar, de novo, eu acho que eu não começaria. Então, é aquela coisa de “faz enquanto é novo, enquanto é jovem, enquanto tem energia e de supetão… emenda tudo e faz!”. Porque, senão, depois que você passa dos trinta, na minha opinião, a energia que a pessoa tem e a forma do corpo gastar energia, eu acho que muda. Eu acho que é uma questão fisiológica. O outro ponto é que a pessoa tem que ter muita força de vontade e tem que ser sistemático. E aí, cada pessoa tem uma forma de trabalhar. Na minha tese, na minha época de projeto (sem considerar as disciplinas que, realmente, o período da disciplina é diferente do período do projeto), eu pegava o final de semana e trabalhava sem parar. Às vezes, tinha feriado no meio da semana, e eu já reservava. “O feriado vai ser o dia inteiro. Da hora em que eu acordar até a hora em que eu for dormir, trabalhando naquilo e, sabendo que eu trabalhei o final de semana inteiro, trabalharei o final de semana posterior, mas depois eu vou ficar três semanas sem pensar naquilo”. Cada um funciona de uma forma. Também vai depender do orientador que você pega. Tem orientador que te deixa largado e aí você larga também. Tem orientador que puxa demais e nunca é o suficiente, ele sempre acha que você tinha que dar dedicação exclusiva e nunca vai achar quando você está trabalhando que você está fazendo um bom trabalho. Em relação às disciplinas, eu não fui com “muita sede ao pote”. Na época do doutorado, eu fiz uma disciplina por semestre. Então, eu fiquei dois anos para fazer as disciplinas do doutorado. Depois que eu fiz todas as disciplinas, eu entrei como aluno regular. E eu tive quatro anos para fazer a tese de doutorado. Então, eu demorei para fazer o meu doutorado, mas porque, naquele momento, realmente, eu fazia como uma carta na manga, não tinha a intenção de fazer logo para poder ir logo para a academia. Porém, isso teve um preço. Quando eu fui contratado na universidade, recém doutor, recém contratado, eu não tinha um currículo tão bom como outras pessoas que tinham entrado junto comigo porque outras pessoas que estavam se dedicando só ao doutorado tinham um currículo melhor. Isso fez com que eu tenha ficado um pouco para trás, mas não muito. Tem de tudo! Tinha gente que se dedicava só ao doutorado e, ainda assim, tinha o currículo pior que o meu, mas eu acredito que se eu tivesse me dedicado só ao doutorado eu teria um currículo melhor. É difícil você recuperar um período em que não produziu muito. Entrar em um ritmo de produção total …. por exemplo, aqui no Brasil, a gente tem um programa do CNPq que nos permite ser bolsista pesquisador e eu não consigo atingir o nível de produção mínima para conseguir essa bolsa, e é bem complicado consegui-la. Eu não consigo e, dificilmente, vou conseguir e eu acho que é reflexo de eu não ter entrado no sistema já no nível mínimo que precisava, até porque cada vez mais, a cada ano que passa, a minha produção deveria ser um pouco maior. Então, sempre que eu chego em um ano em que eu fiquei no nível em que eu tinha que estar no ano anterior, eu já tinha que estar um pouquinho melhor. É difícil eu conseguir chegar naquela produção em que eu precisava estar, mas paciência…

Profª. Sara: Por outro lado, você não ficou alguns anos aí morrendo de fome com a bolsa do doutorado.

Prof. Fantinato: Por outro lado, eu já tenho um apartamento um pouco melhor do que quem ficou com a bolsa do doutorado e começou a ganhar dinheiro só quando passou no concurso para professor. Hoje, alguns professores pesquisadores estão ganhando a bolsa de um mil de duzentos reais que eu não estou ganhando [bolsa do professor pesquisador CNPq], mas eu acumulei o salário de quando eu ganhava mais do que eles com a bolsa de doutorado. Então, tudo tem os seus prós e contras. É só uma questão de avaliar o que você quer e o que você não quer. Às vezes você não avalia, às vezes, você não toma as decisões. Às vezes, as coisas acontecem e quando você vê, já foi e o máximo que pode acontecer é, no futuro, você achar que tomou a decisão correta ou se arrepender.

Grupo PET-SI: E hoje, o senhor pensa em fazer uma especialização?

Prof. Fantinato: O que eu penso em fazer hoje é o que chamamos de pós-doutorado (pós-doc), que consiste em um período em que tiramos uma licença, tanto de aulas quanto da vida administrativa. Isso porque aula e administração (por exemplo, eu ser coordenador da pós-graduação) ocupam muito o nosso tempo, então tiramos uma licença remunerada, ou seja, continuamos a receber o nosso salário, e temos o direito de sair por 3 meses, 6 meses, 1 ano, até 2 anos (que acho que é o período máximo), e ir para uma universidade, que normalmente tem que ser uma universidade melhor do que que nós estamos e ter um supervisor que deve ser um pesquisador melhor do que nós somos. Teoricamente, se isso não acontecer, não deveríamos ter nosso pedido de licença aprovado. Conseguimos essa licença se o grupo em que trabalhamos não estiver com problemas, porque não é para termos a licença se os alunos forem ficar descobertos, sem aula. Eu penso em fazer o pós-doc em algum país estrangeiro com algum pesquisador mais importante e tirar, talvez, um ano e me dedicar à pesquisa para melhorar um pouco a minha produção científica, por exemplo. É uma forma que a gente tem depois do doutorado para se especializar mais ainda na nossa área. Tem pessoas que usam esse pós-doc para mudar completamente a área de pesquisa. Tinha um professor que trabalhava aqui que fez “doutorado direto” na área de redes de computadores com alguma coisa de segurança e fez pós-doc em aspectos sociais de sistemas de informação. Ou seja, mudou completamente a sua área de pesquisa e hoje é nessa a área em que ele pesquisa. Provavelmente porque ele foi fazer doutorado em redes de computadores por uma questão de “não escolha”, e talvez ele tenha percebido que o que ele queria mesmo era trabalhar nessa outra área. Talvez nesse momento [no momento de ir para pós-doc] ele já tinha atingido um nível de maturidade maior para escolher o que ele julgava ser melhor para ele.

Grupo PET-SI: Mas você pode mudar assim de área?

Prof. Fantinato: As pessoas que defendem a carreira acadêmica em comparação com o mercado usam esse argumento como uma das principais características para defendê-la. Na área acadêmica, você é dono da sua carreira, você pesquisa e trabalha com o que quer, até para dar aula, por exemplo. Teoricamente, a gente presta um concurso para dar aula em um determinado conjunto de disciplinas, mas a flexibilidade é tão grande que se você começar a trabalhar com uma outra área e conversar com a coordenação do curso e falar “estou me sentindo mais preparado para dar aula nesse conjunto de disciplinas”, se não for criar problema para os alunos, de modo que eles não fiquem sem aula naquela outra área, não tem problema, você vai passar a dar aula na outra área. Em termos de pesquisa, você não precisa pedir autorização para ninguém.

Grupo PET-SI: Professor, como é definida a hierarquia de professores dentro da USP? Ela é diferente de outras universidades?

Prof. Fantinato: A hierarquia varia um pouco, mas não muito. Varia dentro do Brasil, fora do Brasil. Vou relatar como é dentro da USP, que é o que eu conheço mais, e farei um paralelo com outros lugares. Dentro da USP existem alguns níveis. Alguns não se aplicam mais hoje por conta da busca por qualidade e excelência, mas eles ainda existem. Antigamente, por exemplo, alguém que terminou a graduação, poderia ser contratado para dar aula e até fazer pesquisa na universidade. Na USP, eu não sei se tem alguma lei que proíba, mas não se contrata mais. Mas em algumas universidades no interior, contrata-se na falta de alguém com qualificação maior. Esse seria o nível um, o graduado. Depois, o próximo nível seria o mestre. A USP também já não contrata mais. Se você olhar a tabela salarial da USP você ainda vai ver o salário do graduado e do mestre porque pode ser que tenha alguém que tenha sido contratado como graduado ou mestre há 20, 30 anos e que não evoluiu na carreira, não se aposentou e não pode ser demitido, então ele tem que continuar a receber aquele salário. Então na tabela continua lá, mas, em geral, não se contrata mais. Mas mestres, ainda em universidades do interior, é bem comum. E aí depois vem o nível de doutor que é comum, é padrão contratar como doutor. Depois, acima de doutor, na USP tem dois níveis: professor associado e o professor titular. O associado também é chamado de professor livre-docente. É a forma de subir na carreira dentro da universidade. Como nas empresas, é uma pirâmide. É para ter mais professores doutores, menos associados e menos ainda titulares. Para subir de nível, é necessário fazer algumas avaliações. Algumas dessas avaliações são provas, concursos. Recentemente, de uns cinco anos para cá, foram estabelecidos sub-níveis: no nível do doutor tem o doutor 1 e o doutor 2. Depois, no nível de professor associado, que é o livre-docente, tem o associado 1, associado 2 e associado 3 e depois tem o topo, que é o titular. Com isso, tem-se uma pirâmide com todos esses níveis. Quando você está em um determinado nível e quer mudar para o próximo sub-nível, por exemplo, de doutor 1 para doutor 2 ou de associado 2 para associado 3, nós chamamos de progressão horizontal. Essa mudança é feita de uma forma mais simples. Submete-se um documento, que é um currículo super detalhado, chamado de memorial, que vai para uma comissão que vai avaliar se você merece ou não subir de nível. Dentro da universidade, isso é feito pelos pares, ou seja, se eu sou da computação, serei avaliado por alguém que também é de computação. A própria computação define os critérios para essa avaliação. O problema é que a computação é uma das áreas mais rígidas. Para vocês terem uma ideia, na primeira vez que isso foi implantado aqui na USP, aproximadamente 40% dos pedidos da computação foram aprovados, enquanto teve área com aproximadamente 90%.

Grupo PET-SI: Mas esse é o único jeito de progredir na carreira ou existem outras maneiras?

Prof. Fantinato: Dentro a universidade, é só assim. Para subir nesses níveis horizontais, que é de doutor 1 para doutor 2 e de associado 1 para associado 2 para associado 3, é por meio desses memoriais, cujas submissões, teoricamente, são abertas duas vezes por ano, e que são avaliados pelos seus pares. Mas desde o final do ano passado não se abriu mais por conta dos problemas financeiros pelos quais a USP está passando. Para você ir para o nível de associado ou de titular, é diferente. Você tem que fazer um concurso público. Que é similar ao concurso de contratação. Para você ser associado, você faz um concurso que tem quatro provas: uma prova escrita, uma prova didática (que é dar uma aula), uma prova de defesa do memorial (que é esse mesmo currículo que você submete para essas intermediárias), e você faz uma tese, como se fosse uma tese de doutorado, pode ser uma tese mesmo, como no doutorado, você fez uma pesquisa mais recente e vai defender como defendeu no doutorado, ou você pode fazer uma coletânea de toda a pesquisa que você fez desde quando você terminou o seu doutorado, como se fosse um resumo analítico da pesquisa que você fez nos últimos cinco, dez anos depois do seu doutorado. São dois dias de provas mais ou menos, com uma banca de cinco professores no mínimo associados lhe avaliando. E para professor titular também é uma prova similar. A diferença é que, para ser professor associado, a universidade (geralmente) abre chamadas todo semestre, e basta você dizer “Estou me sentindo preparado! Quero me submeter à prova para professor livre-docente!”. Então você se inscreve, e a banca avalia. Se passar, você sobe de nível na mesma “vaga” que você já tinha ocupado quando foi contratado pela USP. Para ser titular, que é o topo da carreira, não é assim. Para ser titular, é preciso que a unidade tenha vagas para professor titular. Então quando a unidade diz que abriu novas vagas, deve ser averiguado se foram vagas de professor doutor ou professor titular. Normalmente, é para professor doutor, porque deve ter mais professores doutores do que titulares. Assim, você tem vagas diferentes. Se a pessoa já é professor doutor, ou está na mesma vaga de associado e abriu uma vaga de professor titular e ela concorre e ela passa, ela troca de vaga, e teoricamente abre uma vaga para contratar um novo professor. Além disso, nessa vaga de titular que abriu, pode vir gente de fora, não precisa estar dentro da USP para concorrer. Então, se abriu duas vagas de titular na EACH e abre o edital para o concurso, quem pode se inscrever? Todo mundo que já está aqui, na EACH, na USP, normalmente quem já é livre-docente ou associado, ou pessoas de fora. Se passar alguém de fora, essa pessoa é contratada, se passar alguém de dentro, essa pessoa é contratada como titular e, teoricamente, a vaga dela de doutor abre. Quando uma pessoa passa de doutor para associado, isso não acontece [troca de vaga], ela simplesmente deu um “up” na carreira dela.

Grupo PET-SI: Quantos professores doutores e titulares nós temos em SI e na EACH?

Prof. Fantinato: Na EACH nós temos mais ou menos, no total de professores, uns 280 professores. Desses, eu chuto que 40, 50 são livres-docentes. E titulares, eu acho que são sete. Para ser diretor da escola você sabe o que deve ser? No mínimo associado 3 ou titular, senão não pode ser diretor.

Grupo PET-SI: E para ser reitor?

Prof. Fantinato: Eu acho que deve ser mais ou menos a mesma coisa. Antes só podia ser titular, porque? Não tinha o livre-docente 1, 2 ou 3. Na verdade se chama “Associado”, “livre-docente” é o jeito que você chama. Então, do mesmo jeito que você recebe o titulo de mestre ou de doutor, quando você passa nessa prova super complicada, você recebe o título de livre – docente. O que isso significa? Você recebe um diploma que você defendeu uma tese e que você virou livre-docente. Quando você termina o doutorado, defende e recebe o título de doutor, você mostrou que é capaz de fazer pesquisa. E , quando você recebe o título de livre-docente, você mostra que já está num patamar superior, além de fazer pesquisa você é capaz de orientar trabalhos de pesquisa, de liderar grupos de pesquisa, liderar doutores.

Profª. Sara: Respondendo a sua pergunta, são quatro livres-docentes em SI, era para ser cinco, contando o Marcone. Você (Marcelo), Xavier, Fátima, André Martins, e o Marcone. O Marcone fez o concurso de livre-docência no IME. Não tem problema, do mesmo modo que o Xavier fez o dele há muitos anos na UNICAMP. Só a Fátima, o André e o Marcelo fizeram na EACH. E agora tem uma vaga aberta, e (geralmente) todo semestre abre.

Prof. Fantinato: Nós temos professores de SI que tem currículo para ser livre-docente, mas como SI é computação … vocês já sabem né? É complicado.

Grupo PET-SI: Além da vantagem salarial, o que mais se ganha sendo livre-docente?

Prof. Fantinato: A questão de aulas não muda nada, o salário aumenta e você começa a poder ter mais privilégios em alguns casos específicos. Por exemplo, da mesma forma que para ser diretor você tem que ser titular ou associado 3, dependendo do tipo de comissão que você estiver, por exemplo, se você estiver na comissão de graduação, ou na comissão de pós-graduação, que é a CG e a CPG, ou na de pesquisa, que é a CPQ, ou a CCEX, que é a de extensão, se você já for associado, então você tem preferência para ser presidente dessas comissões, basta ser associado 1.

Profª. Sara: Mas isso nem sempre é um privilégio. Eu costumo chamar isso de responsabilidade, eu acho que quando você muda o seu status como pesquisador, você ganha mais responsabilidade, você é chamado “na responsa”.

Prof. Fantinato: Mas todas essas funções são gratificadas. Você geralmente ganha em torno de R$1000 ~ R$1500 reais por mês a mais por conta dessas funções.

Grupo PET-SI: Mas compensa?

Prof. Fantinato: Boa parte dos professores almeja um dia ser titular. E tudo isso é uma forma de construir a carreira. Por exemplo, tem muita gente que vai para o mercado sem nem pensar em ser gerente, muito menos diretor. Mas tem muita gente que está sempre olhando a cadeirinha de diretor pensando “um dia eu chego lá!”. Então ele começa a assumir mais responsabilidades, trabalha mais sem receber mais por isso. … E um dia ele chega lá e pensa “não era isso que eu queria.” E aqui é do mesmo modo, são subidas na carreira, e você tem as contrapartidas salariais.

Profª. Sara: E você tem o reconhecimento externo. Por exemplo, você quer submeter um projeto à FAPESP. Um projeto que você vai solicitar uma verba maior, vai coordenar uma equipe maior. Sua titulação de livre-docente prova que você está apto para um projeto daquele porte. Se você não tem a livre-docência mas tem o currículo do mesmo porte, pode dar certo, mas a titulação torna esse processo mais “automático”.

Prof. Fantinato: Isso é um círculo virtuoso. Você vai crescendo, vai crescendo e vai ajudando a crescer cada vez mais. Se você fica parado, quanto mais tempo parado, mais difícil fica de crescer. Então uma coisa chama a outra. Não são todos os professores que vão ser titulares um dia, e não é para ser assim. O sistema é da forma que é para forçar as pessoas a serem mais produtivas. Se o sistema fosse por tempo, depois de um determinado período você se torna associado e depois de outro período, titular, as pessoas não buscariam ser melhores. Por que as pessoas buscam ser mais produtivas? Porque elas querem chegar lá. E é claro que isso tem efeitos colaterais, são os efeitos colaterais que a gente conhece do capitalismo. Eu sou da opinião de que o capitalismo é ruim, mas não inventaram nada melhor. Então é assim que a gente fica. Na universidade, a gente ainda tem muito do contrário. A gente tem muito de pessoas que querem ficar quietas no seu canto e não tem grandes problemas com isso. Em unidades bem consolidadas, que não é o caso da EACH, em escolas mais antigas, a escola tem de 15% a 20% dos seus professores titulares. Isso está em alguma regra, não sei bem onde, mas tem.

Profª. Sara: E em escolas mais antigas, na UNICAMP, na USP, nas federais mais antigas, você escuta que estão esperando algum titular se aposentar para abrir vaga.

Prof. Fantinato: Nos Estados Unidos, um colega de departamento matou um titular porque ele não morria! Ele não se aposentava! Para abrir vaga! :-p Isso leva a outra discussão, que é a da aposentadoria compulsória. Há discussões no Brasil para aumentá-la de 70 para 75 anos. Por quê? Por um lado, essa expectativa já é bem antiga. A expectativa de vida aumentou consideravelmente. Hoje, nós temos pessoas que, com 70 anos, estão produzindo muito, e que são forçadas a se aposentar, podem continuar trabalhando, mas devem se aposentar. Por outro lado, essa discussão foi malvista, e inclusive engavetada no congresso, porque cria uma desilusão maior ainda para as pessoas que estão começando na carreira. Porque elas pensam “Quando que eu vou conseguir subir na carreira?”. Mas isso não é só para a carreira acadêmica, isso vale para várias outras áreas. Vários outros órgãos públicos trabalham da mesma forma, juízes do STF, por exemplo. Uma vez que eles são indicados para o STF se eles puderem eles ficam lá até os 70 [anos]. Por isso que até os próprios juízes acham que um juiz se aposentar aos 70 é ruim. Por outro lado, deixar que eles trabalhem até os 75 é ruim para os mais novos.

Grupo PET-SI: Existe algum mínimo de produção que deve ser feito dentro da USP?

Prof. Fantinato: Eu não sei se existe em termos bem definidos, mas teoricamente você deveria ter o mínimo de produção mesmo que você [não possa ser facilmente mandado] seja mandado embora. Um fator importante mesmo é a dedicação exclusiva. Você é contratado para trabalhar 40 horas semanais. Até é possível que o profissional exerça outras atividades, no entanto isso não é interessante para a universidade, pois é razoável considerar que seu rendimento não seria o mesmo. Por isso ela oferece bônus para os professores com dedicação exclusiva, chamado RDIDP (regime de dedicação integral e a dedicação à pesquisa). Há também a possibilidade de 20 horas semanais, porém sem o bônus. Cada um tem sua vantagem para o profissional e para a faculdade. Para isso existe a CERT (Comissão Especial de Relações de Trabalho), que serve para verificar se o status do professor é condizente com os seus benefícios. Ainda assim, o que eu vejo é que a grande parte [dos professores] faz por merecer mesmo porque é exigido o mínimo de pesquisa.

Profª. Sara: E não é só a pesquisa. Tem professores que preferem trabalhar com a extensão. O ideal é que seja tríade [ensino, pesquisa e extensão]. Ensino é básico a todos, mas entre os outros dois há uma maior inclinação dependendo da pessoa.

Prof. Fantinato: Quanto aos níveis de hierarquia existentes aqui na USP, o mesmo vale para outras universidades também. O que pode diferenciar é em relação a outros países como a Inglaterra. Nem sempre há uma relação precisa entre os nomes usados aqui e os de lá. Nas universidades federais muda também. Uma curiosidade é que esse nível de livre-docência que usamos aqui é interno daqui do Brasil. Quer dizer, da forma como conhecemos aqui. A livre-docência é o título recebido, o diploma que pegamos. No sistema administrativo, esse nível corresponde a professor associado, ou seja, para você ser professor associado no sistema da Universidade você precisa ter o título de livre docente. Porém, o título de livre docente não é utilizado como o de doutor apesar de ser possível utilizá-lo da mesma forma. Por exemplo, “Professor Livre-Docente …” não é comumente utilizado mesmo que o docente já possua o título; normalmente continua-se utilizando “Professor Doutor ….”.

Profª. Sara: Já o título de Titular eu acredito que seja mais utilizado, como por exemplo “Professor Titular …”

Prof. Fantinato: Outro detalhe ainda nessa questão de títulos é que o de livre-docência te acompanha, isto é, mesmo que você saia da universidade atual na qual você conquistou o título você continua sendo livre-docente. Já a titularidade não funciona assim, porque você é titular daquela universidade, o título não vale em outro lugar. Contudo, o título de livre docência além de ser um título que só tem aqui no Brasil ainda está mais restrito ao estado de São Paulo, no resto do país perdeu a força e em alguns locais as pessoas nem o conhecem. Nos locais em que é reconhecido, tem ativação automática quando da contratação em uma vaga de assistente, que seria o nível de um professor doutor; em outras palavras, quando você se inscreve para um edital, as vagas são para professor doutor, mas se você já possuir o título de livre-docente você pode ativá-lo automaticamente quando é contratado e aí você já vai para um nível, digamos … superior, que é o de professor associado.

Grupo PET-SI: Qual a diferença da nomenclatura de doutor ou livre-docente ou PhD?

Prof. Fantinato: PhD é o doutor, ou seja, PhD e doutor são títulos equivalentes. PhD significa Philosophiæ Doctor. Quem faz um doutorado em um país de língua inglesa recebe o título de PhD por uma questão histórica, porque eles não tem o título apenas de doctor, só de PhD. Existem duas interpretações para a equivalência de PhD e doutor: existem os que defendem que você precisa ter feito o doutorado em um país de língua inglesa para utilizar o título de PhD e outros que defendem que você tendo obtido o título de doutor em qualquer lugar do mundo você pode e deve usá-lo como PhD quando se fala ou escreve o título em língua inglesa porque seu texto está sendo transferido para aquela língua e a tradução ou equivalência para isso é PhD. Editoras inglesas, por exemplo, utilizam PhD como tradução ou equivalência para doutor mesmo. Quando eu fazia graduação eu achava que pós-doutorado era um nível a mais se comparado com doutorado, mas não é porque não muda seu título de doutor, ou seja, depois de fazer doutorado você continua sendo doutor. Um pós-doutorado é você tirar um tempo para fazer uma colaboração de pesquisa com algum pesquisador de ponta. Tanto que pós-doutorado não tem essa denominação no exterior, onde eles usam período sabático. É um período que você reserva para pesquisa. Pós-doutorado no exterior tem uma conotação totalmente diferente, porque para eles, existe um estágio “pós-doc”, que é um período em que o doutor passa na universidade recebendo uma bolsa para trabalhar com um pesquisador assistente. Isso não acontece aqui porque temos poucos doutores, então é difícil um doutor não conseguir uma vaga em uma universidade como professor assistente. Mas lá fora, esse estágio “pos-doc” é muito comum.

Profª. Sara: A diferença entre período sabático e pós-doc é que no primeiro você vai para uma parceria e no segundo você fica a disposição do professor assistente lá.

Prof. Fantinato: Por isso que se você solicitar um pós-doc para um professor de lá ele não vai entender o porquê de você querer fazer esse “estágio” se você já é professor de uma universidade.

Grupo PET-SI: A gente queria saber como é o processo de contratação de um docente na USP.

Prof. Fantinato: Abrem-se editais nas universidades públicas brasileiras para a contratação de novos professores. O processo antes da abertura dos editais eu não vou explorar muito porque depende muito dos grupos e suas decisões estratégicas e políticas, os órgãos colegiados dentro da universidade abrem vagas estrategicamente. Pulando, então, essa parte mais complicada e assumindo que o edital está publicado oferecendo vaga para professor (normalmente doutor, com dedicação exclusiva), será formada uma banca de doutores para avaliar os candidatos que se inscreverem. É importante citar que se o candidato já possuir título de livre-docência, tem que apresentá-lo no ato da inscrição para que a banca julgadora seja montada de modo a ter avaliadores com no mínimo o mesmo título que o candidato. Se entre os candidatos não tem nenhum livre-docente, então a banca pode ser formada por professores que também não são livre-docentes, mas se tiver pelo menos um livre docente, toda banca tem que ser no mínimo livre-docente. E assim como no concurso para titular, toda banca tem que ser titular.

Grupo PET-SI: Mas a banca na contratação é da área. E se não tiver professores titulares da área disponíveis?

Prof. Fantinato: É necessário ir atrás, nem que sejam professores externos à unidade. Na verdade, dos cinco membros da banca, dois são da casa e três são obrigatoriamente externos. Mas buscar essas pessoas não é um problema. E quem é convidado para banca ganha uma remuneração por participar. Quando você participa de banca, incluindo as de defesa de mestrado e de doutorado, você normalmente também recebe.

Grupo PET-SI: E como funciona o processo para montar a banca de contratação?

Prof. Fantinato: Inicialmente abre-se o concurso e o edital informando quantas vagas e para quais áreas. Nesse edital ele tem sempre as especificações, podendo variar de universidade para universidade e de unidades para outras unidades dentro da universidade, mas sempre tem as regras que dizem que o edital deve ser de uma determinada forma. Nos editais da EACH é informado que tem que ser esclarecido pra qual curso a pessoa vai ser contratada na graduação. A pessoa tem que ser contratada para graduação, e não para a pós-graduação, mas desde que ela esteja na graduação, ela pode começar a integrar algum curso da pós-graduação dependendo da produção mínima dela. Além do curso, também é especificado para quais disciplinas ele será contratado. Há uma lista de dez pontos, que diz quais tipos de conteúdo poderá ser cobrado na prova. Então por exemplo, abre um edital para o curso de Sistemas de Informação para a Disciplina de Engenharia de Sistemas de Informação e para a disciplina de Interação Humano Computador e estarão presentes dez pontos, como: processo de desenvolvimento de software, métodos ágeis, validação, verificação e teste de software, requisitos de software, enfim, dez tópicos relacionados a essas duas disciplinas. Para a pessoa se inscrever em um edital aberto, ela obrigatoriamente tem que entregar o memorial dela, que é um currículo detalhado no qual contém informações de quando as coisas foram feitas, como e porque, explicando com mais detalhes os feitos na carreira dela e as documentações que comprovam que ela realmente fez tudo o que está descrito no memorial dela. Com base nas inscrições é sugerido para a congregação, que é o órgão máximo da unidade, pessoas que podem participar da banca. Na verdade, quem define a banca é a congregação, que é a reunião das pessoas de nível mais alto e alguns indicados dos outros níveis, eleitos, que vão variando. A congregação escolhe uma banca com boa capacidade para avaliar os candidato em termos de sua qualidade profissional, e que sejam da área do concurso em aberto. São critérios subjetivos usados para tentar sempre escolher a melhor banca possível.

Grupo PET-SI: Após contratado, existe algo que possa levar o docente à exoneração?

Prof. Fantinato: Uma vez que a pessoa é contratada é igual a qualquer outro serviço público, para pessoa ser mandada embora ela tem que fazer algo muito grave que desemboque em uma sindicância ou em um processo administrativo, como por exemplo, deixar de aparecer na universidade. Em outras universidades do mundo existem diferenças com relação a esse quesito. Elas agem de forma semelhante a empresas, paga-se mais para quem produz mais, o diretor da escola pode oferecer salários maiores para atrair grandes mentes, pode-se mandar embora um funcionário contratado de forma muito mais fácil. Apesar de tudo, se me perguntarem, eu diria que não gostaria de perder minha estabilidade. Apesar de acreditar que eu estaria longe do início da fila de pessoas a serem mandadas embora, eu não gostaria de perder essa tranquilidade que eu tenho de achar que nunca seria mandado embora. Essa situação é um problema, mas se eu pudesse escolher eu diria para que continue a estabilidade e pague-se esse preço por essa escolha, porque a gente acaba sendo defensor dos direitos adquiridos.

Profª. Sara: Mas tem umas ponderações de quem é estatutário ou CLT. Por exemplo, nós não ganhamos fundo de garantia. Não temos uma série de coisas, mas temos uma estabilidade.

Prof. Fantinato: O fundo de garantia é para garantir uma poupança caso a pessoa seja mandada embora. Como não somos [ou dificilmente somos] mandados embora, não tem que ter fundo de garantia. Então, voltando ao processo de contratação, a prova de contratação em si tem três etapas, a de livre-docência tem uma a mais. A primeira etapa é uma prova escrita em que um daqueles dez pontos que aparece no edital é sorteado e o candidato tem que escrever tudo o que ele sabe sobre aquele assunto. É o mesmo tema para todos os candidatos e você tem uma hora de consulta para poder anotar tudo o que você conseguir. Eu lembro que na minha prova de livre docência eu levei uma mala comigo, pois para cada ponto tinha um livro, ou dois ou três relacionados. E o tópico que caiu na prova precisava de um livro só. Após anotar tudo o que foi possível durante essa uma hora, você tem quatro horas para poder preparar o texto, depois de terminar, vem a parte da leitura pública da prova. A secretária tira cinco cópias da sua prova e entrega uma para cada membro da banca, que acompanha seu texto enquanto você o lê. E é só leitura, ninguém pergunta e nem comenta nada. Essa é a primeira fase. Depois disso tem quem passa para a segunda fase e quem é desclassificado nesse momento. Como se faz isso? Para você passar para a segunda fase você tem que ter tirado mais que 7 de pelo menos 3 membros da banca, então se 2 acharem que sua prova foi muito ruim e te derem menos que 7, que seja 0, mas se 3 te derem pelo menos 7 você passa para a segunda fase. Não importa se é 7, se é 9 ou se é 5, é nota que a pessoa diz “eu quero que você passe” ou “eu não quero que você passe”, “você merece passar” ou “você não merece passar”. Quem não ficou com 7, acabou, mas quem passou acima de 7, essa nota vai ser usada ainda. Então vem a segunda fase, a qual é individual. Há então uma prova didática, daqueles 10 tópicos. Sorteia-se um tópico para a pessoa dar uma aula. Sorteia com 24 horas de antecedência. A pessoa tem 24 horas para preparar uma aula e aí o tópico varia. Na prova escrita era o mesmo tópico para todo mundo, mas a didática varia, cada um pode sortear um diferente, não tem problema. Cada pessoa tem de 40 à 60 minutos para dar sua aula, se ficar menos de 40 ou mais que uma hora é zero. E a pessoa vai ser avaliada nesse caso pela didática, pela profundidade da aula dela … pelo conteúdo apresentado … se ela falar coisas erradas em termo de conteúdo isso vai ser um problema. Vai ser avaliada a aula em termos didáticos, técnicos, como ela preparou a aula, enfim, é avaliado o conjunto da aula. Na prova de contratação, embora não esteja exatamente claro isso nos editais, o esperado é uma aula para graduação e na livre-docência é esperado uma aula para pós-graduação, então o nível da aula é diferente. E a outra prova específica é a defesa do memorial. Na prova didática também, a pessoa dá a aula e não tem pergunta, não tem nada, aí cada membro da banca dá a nota pela aula que a pessoa deu, na de livre-docência a banca pode fazer questionamentos na aula como se fossem os alunos perguntando, na de contratação não. A defesa do memorial é o seguinte: você apresentou seu memorial, aí tem a defesa, a arguição do memorial. Cada membro vai te perguntar coisas sobre o seu memorial e aí se você está no lugar certo na hora certa, vai ser um pouco menos traumático. Você vai para lá preparado e sai de lá se achando a pior pessoa do mundo. Quando você fica sabendo que você passou você fala “me passaram por dó”. A pior coisa é perceber que a banca usa suas palavras contra você mesmo. Eu passei por isso depois de ter passado pelo concurso de contratação e estar em bancas três vezes. Você passa para frente a experiência que você adquire. Não sei se isso é bom ou ruim, mas por isso a área da computação como um todo é como ela é, a gente aprende com a nossa referência. Eu não sei se bancas em outras áreas são tão pesadas ou não, na computação é dessa forma. Mas o objetivo é a qualidade.

Profª. Sara: A gente aprende muito com as pessoas mais experientes. Às vezes a gente não gosta de ter uma pessoa que diga que estamos fazendo errado ou que fale o que temos que fazer, mas a gente aprende muito. Eu aprendi muito na USP, embora eu já tenha chegado na USP com alguns anos de experiência acadêmica, já que não é meu primeiro emprego, eu acho que cresci muito aqui, principalmente quanto a pesquisa. E eu ganhei um “puxão de orelha” de um professor da FEA uma vez … ele não tinha a intenção de me ofender de forma alguma … mas eu fiz uma pergunta e ele simplesmente disse que “quem é bom não precisa fazer aquela pergunta”. Em linhas gerais, foi isso que ele falou, se a pessoa é boa, ela não precisa se preocupar com o que eu estava preocupada.

Grupo PET-SI: E qual foi a pergunta?

Prof. Fantinato: .. Ele não disse que não precisava fazer aquela pergunta, que não precisa se preocupar com isso …

Profª. Sara: Ele falou “quem é bom não precisa se preocupar com isso”. Hoje, eu acho que ele estava completamente certo e se alguém fizer essa pergunta para mim, eu não daria a mesma resposta que ele deu porque acho que não estou no mesmo patamar que o cara para falar daquela altura, mas de uma forma ou outra eu acabaria levando a pessoa a essa experiência mesmo que eu tivesse que dizer “eu fiz essa pergunta e levei uma chamada do fulano de tal”. Agora, se eu tivesse no patamar dele eu faria igual. E não é que ele fez isso por mal, é experiência, e realmente ele estava corretíssimo.

Grupo PET-SI: E qual foi a pergunta?

Profª. Sara: Quanto à pergunta, foi logo quando começou o mestrado aqui. A gente é avaliado para ministrar aulas no mestrado, para isso há uma produção mínima e para a gente se manter tem que ter uma produção mínima mais alta que a exigida para entrar. A avaliação é baseada em índices nacionais de qualidade de publicações, e esses índices mudam a cada ano ou a cada dois anos. Então, por exemplo, hoje eu tenho uma publicação em um periódico com índice B2 que vale 50 pontos e eu tinha que ter 70 pontos para me manter no doutorado. Então eu poderia conseguir um B4 e, somando os dois, daria 70. No ano seguinte ou dois anos depois, no dia que eu seria avaliada ele caiu para B3, se eu tivesse no passado me prendido ao fato que aquele artigo era B2 e só precisava de um B4 e pronto, teria alcançado o mínimo. No ano seguinte o índice muda, nesse caso o índice caiu de B2 para B3, eu não precisaria só de 20, mas sim de 35. Isso foi para vocês entenderem o contexto. Minha pergunta foi: “Se hoje eu publico num periódico A1, daqui a três anos quando eu for avaliada o periódico for B1, o que conta, o B1 do atual momento ou A1 do momento da publicação”? E ele falou “Não importa”. O que ele quis dizer era que você não deve ficar se prendendo aos índices. Eu não sou uma pessoa que faz o mínimo e para, mas sou uma pessoa que fica preocupada em conseguir atingir os índices e então eu queria saber por onde eu me guiava para estabelecer minhas estratégias … e ele falou isso para mim: “quem for bom vai conseguir as publicações”. E, um pouco por conta disso e por conta do amadurecimento, hoje eu sou desprendida dos índices, nesse sentido. Somos avaliados por esse índice, então procuro me guiar pelo índice. Mas, se é B2 ou B1 ou qualquer outra qualificação, eu não me preocupo mais porque é tudo muito dinâmico, e quem tiver que conseguir, vai conseguir. Se depois de três anos você não consegue índice, você não “merece” ficar no programa de pós.

Prof. Fantinato: Apesar de todas essas dificuldades, indo ao que interessa, todos vocês já tiveram curiosidade de ir no site do RH da USP para ver qual é o salário de um professor? O salário dos professores é público, não está atualizado desde maio. O salário do professor doutor um é R$9.184,94. A partir daí cada progressão é quase mil reais a mais, o professor titular é por volta de treze mil e seiscentos, esse é o salário base, . Além disso, há o quinquênio que é 5% a cada 5 anos em cima do salário base. Tanto eu quanto a Sara temos mais de cinco anos na USP, quando completarmos dez anos, teremos 10% de acréscimo em cima do salário base. Quando der vinte anos, nós temos a chamada “sexta parte”, que é um abono para fazer as pessoas mais produtivas e antigas ficarem mais tempo. Quando você tem vinte anos, você recebe 20% de acréscimo devido ao quinquênio e recebe também um sexto do total, ou seja, 20% mais 16% e alguns quebrados, o que dá 36% de acréscimo. Além disso, essa função gratificada que eu tenho por ser o coordenador da pós-graduação, enquanto eu for coordenador eu recebo por volta de mil e duzentos reais, mas a cada ano como coordenador eu incorporo mais 10% e esta porcentagem persiste mesmo depois da saída da coordenação.

Profª. Sara: Aí vocês se perguntam como pode existir aquele escândalo dos professores da USP que ganham mais que o governador se você olha essa tabela salarial. A questão é que esses professores são mais velhos, titulares, tem os quinquênios e incorporaram algumas coisas porque já foram coordenadores, diretores, pró-reitores.

Prof. Fantinato: Sobre essas funções administrativas. Quanto mais alto o cargo, maior o bônus da função. O coordenador é um dos que recebe menos, o diretor recebe uns dois mil e quinhentos e vai juntando tudo isso. Um professor amigo nosso que fez cinquenta anos recentemente e completou vinte anos de USP viu que o salário dele subiu, ele achou estranho e foi procurar saber o que aconteceu e descobriu a tal da “sexta parte” e a incorporação da função gratificada. Ele levou um susto! Agora ele passou o salário do governador e a USP retém oitocentos reais do salário dele. Há disputas jurídicas para decidir o que deve ser contado para reter o salário em relação ao do governador, todos os bônus ou se alguns deles não devem ser contabilizados.

Grupo PET-SI: Por que começou essa discussão de que o governador ganha menos que alguns professores?

Profª. Sara: Porque por lei, o governador, no serviço público estadual, é o cargo que deve ganhar mais. No governo federal é o de quem?

Prof. Fantinato: Do ministro do Supremo Tribunal Federal, o presidente ganha bem pouco.

Grupo PET-SI: Você gosta mais de dar aula ou de pesquisar?

Prof. Fantinato: Respondendo, não exatamente a pergunta, eu acho que o que eu mais gosto de fazer é administrar as coisas da universidade. Eu não tinha perfil para ser gerente de empresa. Eu não me via, de forma alguma, sendo um gerente de uma empresa. Até, um dos motivos que eu não queria continuar na empresa é: eu não ia subir numa empresa porque eu não ia querer, não tinha perfil para virar um gerente lá. Mas, aqui, na universidade, eu gosto da função administrativa.