A tecnologia na Copa do Mundo FIFA 2014

A tecnologia na Copa do Mundo FIFA 2014

A Copa do Mundo FIFA 2014, que teve o Brasil como país-sede, trouxe uma ideia de Copa do mundo mais tecnológica com várias novidades e implementação de recursos até então inovadores, tanto no que diz respeito à inovação para o evento quanto na aceleração de implantação de algumas tecnologias no nosso país.

Geraldo dos Santos Júnior e Thais Neubauer

Com a realização da Copa do Mundo FIFA 2014 aqui no Brasil, pudemos perceber várias novidades e mudanças ocorrendo no país. Investimentos foram feitos na segurança em locais estratégicos e até mesmo a indústria de eletrônicos, como de televisores, recebeu um maior incentivo e atenção. Além disso, pequenos e grandes empresários também aumentaram sua aposta em investimento e em número de contratações.

Entre essas mudanças, as tecnológicas tiveram grande destaque, dado o investimento realizado, a quantidade de novidades implantadas em um período de tempo relativamente curto e a variedade de segmentos afetados. O corpo de bombeiros da capital federal, por exemplo, contou com a aquisição de um sistema de alta tecnologia que consiste em um laboratório móvel capaz de detectar, em poucos minutos, se determinados produtos químicos são tóxicos ou não.

No transporte, tivemos, por exemplo, a inauguração do aeromóvel em Porto Alegre, um meio de transporte automatizado em via elevada com veículos leves e não motorizados, interligando o Terminal I do Aeroporto Internacional Salgado Filho e a Estação Aeroporto do metrô da capital gaúcha. Além disso, há que considera-se ainda, as várias alterações feitas nos principais aeroportos para melhorar o atendimento a passageiros e adequação às importantes normas da FIFA no que tange a recepção de um evento do porte da Copa do Mundo.

Os estádios tornaram-se verdadeiros centros tecnológicos: contamos com catracas inteligentes, câmeras de alta resolução, centrais de controle, conectividade 4G e tecnologia “wireless” disponíveis, painéis de LED, telões, coberturas inteligentes, tira-teima eletrônico, a Spidercam e chegamos até a ter geração de energia com células fotovoltaicas.

As novidades não se ativeram somente no que diz respeito aos estádios e, ao que tudo indica, colhemos os frutos da realização do evento no nosso país mesmo após o seu encerramento: a Copa do Mundo trouxe para o Brasil a implantação da rede 4G e das transmissões de TV 4K, que provavelmente teriam demorado a chegar aqui se não sediássemos a Copa do Mundo FIFA 2014.

Mais uma notável influência da tecnologia foi o uso do Big Data, que se mostrou importante na conquista do título de campeã pela seleção alemã e, de certa forma, ajudou a disseminar a vantagem que o uso da análise de dados pode trazer seja qual for o escopo.

Apresentaremos aqui algumas dessas tecnologias de forma mais detalhada, mas não deixe de conferir como cada uma delas funciona nos links disponibilizados na bibliografia adicional.

Tira-teima eletrônico

tira-teima
A imagem mostra a utilização da tecnologia através de um dispositivo.

A tecnologia vem sendo incorporada em diversas modalidades de esportes, mas o futebol é uma das que ainda resiste à utilização de meios tecnológicos para auxiliar nas decisões a serem tomadas durante as partidas. A razão, que muitos identificam para esse comportamento, é a perda de emoção e da dinâmica de discussões sobre lances polêmicos, que deixam de existir com a utilização de tecnologias.

Contudo, desde fevereiro de 2013, notícias começaram a ser publicadas sobre a utilização de uma tecnologia para auxiliar os juízes a definir, de forma mais precisa, a validade de gols. A GoalLine Technology ou o tira-teima eletrônico, como é comumente chamado aqui no Brasil, já havia sido utilizado no Mundial de Clubes da Fifa em dezembro de 2012 e na Copa das Confederações de 2013 e foi confirmado, ainda em 2013, para utilização na Copa do Mundo 2014.

A tecnologia desse sistema baseia-se na emissão de um alerta quase que instantâneo (um segundo se passa entre a bola entrar e o juiz receber o aviso) enviado por um chip instalado na bola para um relógio de pulso utilizado pelo juiz assim que a mesma ultrapassa completamente a linha do gol. O dispositivo existente na bola recebe dados de um computador que processa as informações recebidas do GoalRef, um conjunto de 10 sensores instalados nas traves, e do Hawk-Eye, câmeras de alta precisão. Cada uma das 14 câmeras instaladas nas estruturas dos estádios produz 500 imagens por segundo e as envia para um programa capaz de perceber a bola em um espaço tridimensional. Estima-se que, ao todo, para cada gol utilizou-se 3.500 imagens por segundo para determinar se a bola entrou ou não.

Durante a Copa do Mundo 2014, o sistema auxiliou, por exemplo, na partida da França contra Honduras, durante a qual o juiz recebeu um alerta no seu smartwatch avisando-o que a bola havia cruzado a linha do gol. Sem a utilização dessa tecnologia, a visualização seria realmente difícil e provavelmente polêmica.

SpiderCam

A SpiderCam é uma câmera que fica suspensa logo acima do campo provendo imagens de alta qualidade, a partir de ângulos interessantes, que possibilitam uma visão que se aproximava bastante das que se tem de “dentro do campo” durante as partidas. Ela é ligada por quatro cabos de aço fixos nas extremidades dos estádios, criando uma espécie de teia de aranha (daí vem seu nome).

O sistema SpiderCam, criado pelo austríaco Jens Peters, permite que a câmera seja controlada por controle remoto a partir de uma central de comando. A liberdade de movimento é incrível e a velocidade também, pois ela é capaz de acompanhar lances com precisão, sem cortes nas cenas ou imagens tremidas.

A imagem mostra a SpiderCam sendo utilizada durante uma partida de futebol.
A imagem mostra a SpiderCam sendo utilizada durante uma partida de futebol.

Para os que gostam de sentir a emoção do estádio e da partida, esse sistema traz oportunidades interessantes, pois melhora as condições de transmissão e permitem que a emoção possa ser sentida de casa. Isso porque a SpiderCam pode ser baixada a um nível próximo do gramado e dos jogadores, como se fosse um elemento dentro do campo. A câmera permite capturar imagens que acompanham perfeitamente o movimento da bola.

No Brasil, a tecnologia começou a ser implantada na partida que marcou a despedida do atacante Ronaldo e vem sendo utilizada cada vez mais nas transmissões de partidas de futebol, como aconteceu na maioria dos jogos da Copa do Mundo 2014.

TV 4K

Em 2006, a tecnologia inovadora era a transmissão em HD. Agora, em 2014, a tecnologia Ultra HD, ou seja, 4K, garante uma resolução de 3840×2160 pixels, cerca de quatro vezes mais que a Full HD. Isso torna as imagens mais nítidas e com um maior nível de detalhes. Em termos de transmissão da Copa do Mundo, tivemos uma riqueza de detalhes muito maior nas imagens feitas de dentro do campo. Porém, a popularização dessa tecnologia não é instantânea, com isso, a utilização desse mecanismo durante na Copa do Mundo foi difícil devido à quantidade limitada de televisores 4K disponíveis no Brasil.

As televisões com a tecnologia 4K traz uma qualidade de imagem com riqueza de detalhes.
As televisões com a tecnologia 4K traz uma qualidade de imagem com riqueza de detalhes.

No jogo das oitavas de final entre Colômbia e Uruguai ocorreu o primeiro teste. “Além do monitoramento, houve um grande impacto na parte de infraestrutura. Foram necessários switchers e routers de maior capacidade e um grande cuidado com o ajuste de timing dos equipamentos”, conta o gerente de Tecnologia e Engenharia da Globosat, Lourenço Carvano. Para a transmissão, cada câmera é ligada a um decodificador por um cabo de fibra óptica.

Aeroportos

Assim como muitos outros recursos de infraestrutura, os aeroportos receberam um grande investimento para a Copa do Mundo 2014.

Uma das tecnologias usadas nos aeroportos foi a radiocomunicação. Essa, por sua vez, permite o acesso imediato a outro usuário e conversação em grupo. Para a Copa do Mundo, é ideal que haja uma padronização e modernização desse serviço, pois a falta ou mal funcionamento dele pode provocar isolamento entre as diversas redes de frequência utilizadas pela radiocomunicação. Muitos aeroportos utilizam a tecnologia Tetra, que suporta serviços de telefonia móvel, além do serviço de radiocomunicação, incluindo o uso das redes de dados 2G e 3G.

Outra tecnologia é o selo bidimensional (QR Code) para a leitura de cartões de embarque nos aeroportos da Infraero. O código de barras bidimensionais pode ser lido pelos equipamentos dos funcionários da companhia e/ou do próprio aeroporto diretamente nos smartphones dos clientes, o que permite que a leitura de cartões de embarque seja feita por um celular sem que haja a necessidade de imprimir o bilhete de embarque. O sistema está presente pelo menos em todos os aeroportos das doze cidades-sede que receberam jogos da Copa.

4G

Em conjunto com as redes de operadoras de telefonia móvel, a Anatel conseguiu garantir a banda larga de quarta geração em todas as cidades em que ocorreram jogos da Copa do Mundo de 2014. A fim de garantir uma conexão de alta qualidade, todos os estádios tiveram antenas 4G instaladas em sua estrutura. Além disso, o WiFi gratuito também esteve presente em alguns dos estádios onde os jogos aconteceram, como no Maracanã e na Arena Fonte Nova.

A utilização de dados em 4G permitiu uma maior troca de informações em menor tempo.
A utilização de dados em 4G permitiu uma maior troca de informações em menor tempo.

A cidade do Rio de Janeiro utilizou a tecnologia de comunicação 4G para segurança pública durante o evento. Com isso, as forças de segurança fizeram transmissão de dados por vídeo, em tempo real, dentro das viaturas do Exército. O uso de câmeras para essa transmissão só foi possível graças à faixa de frequência exclusiva, que também assegurou uma melhora na qualidade de comunicação. A faixa exclusiva ocorre na frequência de 700 MHz, a qual não é aberta aos usuários comuns. Esta configuração é importante para que haja segurança do tráfego de informações.

Na Copa do Mundo FIFA 2014, a capacidade de usuários de internet aumentou em cerca de 43% nas comunicações de dados e 50% para as chamadas de voz, em comparação com a capacidade oferecida na Copa das Confederações, segundo Eduardo Levy, diretor-executivo do SindTelebrasil.

Big Data

Uma das seleções favoritas desde o início do campeonato, a campeã Alemanha, contou não só com bons jogadores e técnico competente, mas também com a tecnologia.

A empresa alemã SAP, especializada em aplicativos de negócios empresariais e parceira da Federação Alemã de Futebol desde 2013, desenvolveu um programa que ajudou a equipe a analisar dados detalhados de jogos e treinamentos, tanto de cada jogador, como da equipe e dos adversários.

A aplicação reúne, analisa e exibe os dados como quilômetros percorridos, quantidade de passes corretos e número de chutes a gol de cada jogador. Rodando em plataforma HANA, da própria SAP, o programa permite que técnicos e preparadores entendam a informação gerada pelo grande volume de dados de uma partida. Desta forma, fica mais fácil para que eles possam avaliar situações de jogo a serem treinadas. A ferramenta permite checar desde a organização tática até a distribuição de passes. Um dos atrativos da aplicação é sua interface simples, pois permite acesso às informações a partir de um celular ou tablet.

O técnico Joachim Löw afirmou que sabia, por exemplo, que a seleção brasileira tinha dificuldades quando atacada em velocidade, o que ficou bastante claro depois da goleada da seleção alemã sobre a nossa. O programa desenvolvido pela SAP e utilizado pela seleção campeã durante a Copa do Mundo 2014 certamente ajudou Löw e seus colegas a mapear os pontos fracos da seleção brasileira.


Referências bibiliográficas


Bibiliografia adicional

http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/10-tecnologias-que-contribuem-para-o-sucesso-da-copa#2

http://www.tecmundo.com.br/futebol/38759-copa-do-mundo-2014-dez-tecnologias-presentes-nos-estadios.htm


Imagens

http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2014/03/copa-do-mundo-fifa-2014-trailer-mostra-felipao-neymar-e-mais-estadios.html

http://www.resenhaesportiva.com/2014/01/bandeirinha-eletronico.html

http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2010/06/inspirada-em-star-wars-spidercam-tem-voo-limitado-em-primeira-copa.html

http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/sony-lanca-no-brasil-tvs-4k-de-olho-na-copa-do-mundo-8522541

http://www.mobponto.com.br/blog/2014/03/19/tecnologia-4g-nao-estara-disponivel-a-turistas-de-alguns-paises-na-copa/