Mars One

Mars One

A MarsOne, instituição sem fins lucrativos criada pelo empresário holandês Bas Lansdorp ­ juntamente com Arno Wielders ­ tem o objetivo de estabelecer uma colônia humana permanente em Marte. O número de voluntários inscritos para compor essa colônia já ultrapassou a marca de 200.000 pessoas.

Hellyan Alves de Oliveira e Rafael Gaspar de Sousa

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A iniciativa de levar pessoas para morar em Marte, como pretende fazer a Mars One, demanda muito investimento. Estima-se que será necessário um orçamento em torno de 6 bilhões de dólares para sua realização, por isso o projeto aceita doações mensais e ajuda de investidores [2]. Além disso, o website do projeto conta com uma loja online, na qual é possível fazer doações únicas ou comprar produtos com a marca Mars One, como uma forma de ajudar a levantar o capital necessário para o projeto.

Trata-se de um projeto ousado, em especial para os que pretendem participar como tripulantes das missões. Por isso o projeto prevê a realização de um processo seletivo muito rigoroso e inovador e, enquanto esse processo acontece, equipes multi e interdisciplinares trabalhar nas missões iniciais – fases inicias de execução do projeto. Nessa matéria explicamos alguns detalhes do planejamento dessa iniciativa.

PERSPECTIVAS DO PROJETO

Para os autores do projeto, o principal objetivo é conseguir uma colonização em Marte do mesmo modo que os europeus colonizaram a América. Bas Lansdrop em sua palestra no evento Campus Party 2015 deixou clara a sua ideia, que pode parecer um pouco exagerada para pensamentos mais conservadores, mas é visionária.

O projeto parece impossível de se concretizar pela dificuldade tecnológica e energética da viagem, mas, na verdade, é perfeitamente alcançável pois, segundo Bas Lansdrop, o mais difícil em uma viagem da Terra para outro planeta é a volta, já que é necessária uma quantidade de energia muito maior e a tecnologia necessária para isso ainda é muito cara e complexa. Por isso, os idealizadores pensaram em fazer uma viagem apenas de ida, algo muito audacioso, mas, na história da humanidade, sempre foi preciso um pouco de coragem para realizar grandes coisas, e é isso o que os move.

O ambiente marciano é muito hostil em relação ao da Terra. Os riscos para a saúde dos tripulantes ainda não são totalmente conhecidos mas, pelo que se sabe, não é nada agradável de descobrir. Em Marte a pressão atmosférica é muito menor que a da Terra, e a exposição à radiação e ventos solares acaba sendo extremamente prejudicial à vida humana, principalmente pelos riscos de câncer e problemas no sistema imunológico [7]. Os candidatos sabem dessas possibilidades, mas isso não diminui o desejo dos astronautas em participarem do projeto.

PROCESSO SELETIVO

Decidir embarcar em uma viagem só de ida abandonando para sempre sua família, amigos e seu planeta é uma decisão que demanda coragem e vontade. Para selecionar aqueles que realmente querem e têm as condições físicas e psíquicas necessárias para a missão, a Mars One realizou um processo seletivo com os candidatos [3]. A seleção e o treinamento serão compostos por quatro etapas, segundo o médico chefe do projeto, Norbert Kraft:

  • Avaliação física – Nessa etapa serão eliminados candidatos que possuam doenças crônicas ou do coração, com critérios semelhantes aos utilizados pelas agências espaciais.
  • Avaliação mental – Uma vez aprovado no teste físico, o próximo passo é o teste mental. O objetivo dessa etapa é fazer uma avaliação tradicional, através de entrevistas, para descobrir qual o nível de conhecimento que o candidato tem sobre Marte, do que se trata a missão, quais serão as suas responsabilidades e como ocorrerá o projeto. Um ponto importante nessa fase é a questão pessoal, as motivações e histórias de vida de cada participante, pois são esses aspectos que vão dar mais segurança aos avaliadores para selecionarem um determinado candidato.
  • Desafios em grupo – Nesta fase é importante o candidato mostrar a sua capacidade de trabalhar em grupo com tranquilidade e harmonia, de modo a não prejudicar a missão por eventuais problemas. Nas palavras do próprio Kraft, “Você pode ser o melhor astronauta do mundo, mas se não souber trabalhar em grupo, será inútil para nós”.
  • Isolamento – Uma das fases mais interessante do processo é o isolamento. Os candidatos se dividem em grupos e ficam isolados em ambientes que simulam o ambiente espacial para descobrir como eles lidam com as situações apresentadas. É o teste mais difícil, que exige muito dos candidatos.

Em 16 de fevereiro de 2015, o projeto anunciou os 100 candidatos selecionados para a terceira etapa (desafios em grupo) da seleção dos astronautas das missões do Mars One [4]. São cinquenta homens e cinquenta mulheres de todos os continentes, sendo 39 da América, 31 da Europa, 16 da Ásia, 7 da África e 7 da Oceania. Na etapa anterior, concorriam 660 candidatos do mundo todo, que passaram por uma entrevista com um dos mentores do projeto. A terceira etapa vai testar a capacidade dos candidatos de formar times e trabalhar em equipe, fator fundamental para a missão, já que os astronautas serão enviados em grupos de quatro pessoas. Dos 100 candidatos serão selecionados 24.

No site do projeto é possível ver o perfil dos candidatos, informações como país, idioma e idade, além de um texto e um vídeo onde eles se apresentam e falam sobre seu interesse no programa [5]. Em 2015 ocorrerá um novo processo seletivo, já que podem haver candidatos eliminados ou desistentes, e é possível que ocorram vários outros processos seletivos nos próximos anos. Após a seleção, os candidatos passarão por um intenso treinamento de cerca de dez anos que os preparará para sobreviver e construir a colônia humana em Marte.

MISSÕES

As missões de colonização serão realizadas a cada dois anos, com quatro pessoas por cada vez, porém não terão início imediato. Para que as viagens apenas de ida para Marte sejam feitas é preciso que antes sejam realizadas algumas missões não tripuladas para a implantação de tecnologias chave para a sobrevivência humana nesse outro planeta [6]. O cronograma planejado para essas missões é o seguinte:

  • Missão Percursora (2018) – Levando tecnologias básicas e a implantação de um satélite na órbita de Marte para a comunicação com a Terra.
  • Missão Pré-Implantação (2020) – Preparação e limpeza do local para colocar as unidades residenciais. Essa limpeza será realizada pelos rovers (veículos motorizados automatizados capazes de impulsionarem a si mesmos);
  • Missão Pré-Implantação (2022-2023) – Montagem e transporte das primeiras unidades residenciais, com um espaço de 500 m³, seis módulos SpaceX Dragon conectados com duas unidades infláveis;
  • Missão Tripulada (2024) – A primeira missão tripulada será em 2024, através das naves. A viagem durará entre sete e oito meses (dependendo das posições relativas entre a Terra e Marte). Junto com a tripulação, suplementos e recursos serão levados da Terra para sobrevivência em Marte.
  • Missões de Expansão (a partir de 2025) –  Unidades tripuladas adicionais serão enviadas a partir de 2025, as quais serão integradas aos módulos residenciais já implantados, possibilitando assim o crescimento da população em Marte. De fato, A ideia é que, através das missões de expansão, a colônia aumente cada vez mais junto com sua população.

A VIDA EM MARTE

Os astronautas vão viver muito tempo em Marte e por isso é necessário disponibilizar a eles condições de conforto e qualidade de vida. Porém, o foco da missão não é ter um estilo de vida luxuoso, nem uma colônia de férias, mas sim ser um trabalho de exploração do novo planeta.

O ambiente modular possuirá por volta de 1000 m³ para ser dividido entre quatro astronautas, resultando assim em 250 m³ por habitante.

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Imagens do projeto da Colônia. Disponível em: http://www.kurzweilai.net/mars-one-plans-to-establish-human-settlement-on-mars-n-2023

As unidades serão equipadas com um mobiliário principal, como o que temos aqui na Terra, com sofás, camas, televisores, computadores, armários e, também, uma área com painéis solares para o cultivo de plantas, verduras, legumes e frutas.

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Figura do projeto do interior da unidade de sobrevivência. Disponível em: http://www.space.com/22225-mars-one-applicants-meeting.html

A energia será gerada a partir da radiação solar e será utilizada para extração de água do solo. A escolha do local em que a colônia vai ser estabelecida é de extrema importância para garantir a obtenção de água. As práticas de reciclagem e reutilização de água serão comuns, já que a reutilização demanda menos energia do que a obtenção de água do solo. Os alimentos serão produzidos por métodos hidropônicos, com luzes artificiais, de modo que o uso de solo seja dispensável inclusive para economizar espaço. Os colonos terão acesso ilimitado à internet para se comunicar com parentes e amigos da Terra.

Os colonos farão parte de um reality show que mostrará a todo momento como eles estão sobrevivendo e descobrindo o planeta novo. O interessante é que, ao mesmo tempo que os colonos estarão em um lugar bem diferente do nosso, o desafio deles a cada dia é desenvolver atividades como as que realizamos aqui, como o cultivo dos próprios alimentos, mas com dificuldades bem maiores, tanto psicológicas quanto físicas, e essas serão as barreiras que os participantes do projeto terão que ultrapassar.

 

FONTES

[1]www.mars-one.com

[2]http://www.theguardian.com/science/2015/feb/09/mars-one-mission-a-one-way-trip-to-the-red-planet-in-2024

[3]http://www.bbc.com/future/story/20150113-one-way-ticket-to-the-red-planet

[4]http://www.mars-one.com/news/press-releases/the-mars-100-mars-one-announces-round-three-astronaut-candidates

[5]https://community.mars-one.com/last_activity/ALL/18/82/ALL/ALL/5/3

[6]http://web.mit.edu/sydneydo/Public/Mars%20One%20Feasibility%20Analysis%20IAC14.pdf

[7]http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/04/130417_marte_comunidade_fn