Entrevista com João Pedro Arantes, um empreendedor do curso de Sistemas de Informação.

Entrevista com João Pedro Arantes, um empreendedor do curso de Sistemas de Informação.

Conversamos com João Pedro Arantes, estudante de Sistemas de Informação da EACH/USP, sobre Empreendedorismo em um dos encontros do Café Filosófico, atividade realizada pelo PET-SI na qual convidamos alguém para conversar e debater sobre um determinado assunto. Durante a conversa, que durou cerca de duas horas, fizemos diversas perguntas e o João nos contou um pouco sobre o caminho por ele percorrido para montar a própria empresa, quais foram as dificuldades enfrentadas ao longo do percurso e algumas dicas para aqueles que, assim como ele, desejam empreender desde cedo. Você pode conferir abaixo a transcrição da nossa conversa.

Grupo PET-SI: ​Primeiramente, obrigado por aceitar nosso convite. Nossa conversa vai assumir um caráter informal. Temos uma lista de perguntas formuladas para construir uma linha de discussão, mas conforme a conversa fluir, não precisamos necessariamente segui-las. Antes de mais nada, nos fale um pouco sobre você. Seu nome, sua idade…

João Pedro: ​Meu nome é João, eu tenho 25 anos.. Eu comecei a empreender logo que entrei aqui; na verdade, no começo a “coisa” quase não era um empreendimento, era mais uma brincadeira, um desafio intelectual. Eventualmente foi progredindo e hoje em dia eu já tenho a minha empresa montada, existente juridicamente – não é mais uma startup. Já temos um time de profissionais que trabalham com a gente, são pessoas espalhadas pelo mundo, contratados como freelancers. Basicamente, minha empresa faz jogos, aplicativos e programas. O principal foco direciona-se a jogos, mas como o ciclo de programação de jogos leva alguns anos, já que fazemos jogos para plataformas grandes, como videogame e computador, acabamos colocando algumas atividades relacionadas a aplicativos e programas nos intervalos, para ter uma entrada de dinheiro.

Grupo PET-SI:Antes de fundar a Pixel Cows, você já havia atuado profissionalmente na área de desenvolvimento de software?

João Pedro: ​Em desenvolvimento, sim, com empreendedorismo, não. Eu comecei a programar quando tinha 11 anos de idade. Cresci em Jundiaí, num lugar meio afastado do resto das pessoas e de outros lugares – no meu prédio só tinha eu de criança. Então, nessa fase da vida em que eu era bem novo, de 10 a 12 anos, eu tinha muitas atividades introspectivas e intelectuais: passava grande parte do meu dia jogando videogame, lendo livros e assistindo filmes, e acabei criando um gosto pela coisa.

Grupo PET-SI:E quando surgiu seu interesse pelo desenvolvimento de jogos? Em que momento você pensou em criar uma empresa que se dedicasse a isso?

João Pedro: ​Eu comecei a programar porque eu jogava videogame e sempre tive um feeling de que algumas coisas não estavam exatamente da forma como eu gostaria que estivessem. Não porque eu fosse um gênio que visualizava um produto melhor do que o que era oferecido, pelo contrário, eu era uma criança que não queria morrer no jogo de videogame. Com essas poucas experiências eu acabei criando um gosto pela programação. Eu tenho um primo mais velho do que eu, que na época sabia um pouco de programação, e que acabou me ensinando algumas coisas. Assim, eu acabava passando dias inteiros fazendo jogos. Logo, quando eu tinha 17 anos, idade em que entrei aqui na EACH, eu já tinha experiência em desenvolvimento neste sentido, mas eu não tinha a menor ideia de todo o resto: não “manjava” nada de marketing, de relações públicas, de design, de administração… Eu não tinha a menor ideia do que significaria usar a minha capacidade de programar e transformar algo que programei em um produto final que pudesse ser reconhecido pelo público.

Grupo PET-SI​:Você programava em qual linguagem quando criança?

João Pedro: ​Em Basic. Eu usava o QBasic. Naquela época, as pessoas não tinham computadores com tanta facilidade. Eu usava um computador que era do meu pai somente durante a noite, pois ele era arquiteto e precisava do computador para o trabalho. Foi quando eu desenvolvi o hábito de ficar acordado à noite, trabalhando.

Grupo PET-SI: E como se deu a criação da Pixel Cows, de fato?

João Pedro: ​No que se refere a criação da empresa, eu acho que nunca tive um insight, não teve um momento em que pensei: “olha, isso pode ser uma empresa”. Acho que foi uma coisa natural que aos poucos foi amadurecendo dentro de mim. Eu não me recordo da data, mas por volta de uns 4 anos antes de eu entrar na EACH, provavelmente na oitava série do Ensino Fundamental, o Ministério da Cultura promoveu um concurso que tinha duas etapas, uma para que empresas se inscrevessem e outra para os designers especificamente. Os designers elaboravam as propostas de jogo e, no fim, as empresas testavam as ideias que achavam que tinha potencial e produziam sobre elas. Naquela época eu era um designer, então, eu e meu primo, atualmente meu sócio, ficamos sabendo do concurso, nos inscrevemos e ganhamos. Fomos na premiação e o Gilberto Gil nos deu o certificado na época. Esse momento, mesmo que eu não percebesse, foi o começo de tudo, pois foi a primeira vez em que eu fui reconhecido por fazer jogos, o que é muito diferente de estar trancado no seu quarto programando. E mesmo que eu não soubesse nada do que eu estava fazendo, pois ainda estava na oitava série e, portanto, parecia mais um prêmio de escola, foi muito maneiro. E isso seria reprisado no ano em que entrei na faculdade, mas no fim o edital acabou não sendo publicado. Seria um pré-requisito que as empresas que se inscrevessem já tivessem feito algum jogo e lançado no mercado, e aconteceu que eu e meu primo ficamos sabendo disso e começamos a desenvolver um jogo que deveria ficar pronto em dois meses. O jogo nunca foi finalizado, não fomos capazes de finalizar o produto como achávamos que seríamos, porém foi a primeira vez em que pensamos: “olha, vamos nos inscrever no edital, temos que ter um produto, e este produto deve estar dentro dessas especificações, temos que fazer uma inscrição…”. Como não teve o edital, nós prolongamos o desenvolvimento do produto por muito tempo e ele acabou se tornando uma coisa maior, com desenvolvimento de tecnologia e, basicamente, quando nos demos conta, já fazia dois anos que estávamos trancados em casa pensando nisso do ponto de vista empresarial. As coisas foram aparecendo em nossas vidas aos poucos, até mesmo as preocupações. No começo a gente não se preocupava com dinheiro; eventualmente, tivemos que começar a nos preocupar com isso. E outras áreas do empreendedorismo foram entrando em nosso contexto aos poucos, conforme sentíamos falta, conforme as coisas dessem errado e não entendíamos o porquê. Verdade seja dita, no começo nós não éramos empreendedores, pelo contrário, nós tínhamos todos os defeitos que um não empreendedor tem. A gente perdia hora para fazer as coisas porque estávamos dormindo, começávamos a fazer reuniões e, quando a gente percebia, fazia 4 horas que estávamos dando risada e comendo pizza.

Meu primo é 7 anos mais velho do que eu, e na época ele trabalhava na IBM como gerente de projeto e eu estava na EACH. Chegou um momento em que ele viu que trabalhar lá não era aquilo que ele queria, então ele largou tudo. Mas ele era mais velho, tinha necessidade de se sustentar e a família dele morava no Rio de Janeiro, então tinha que ter dinheiro para visitar a família… Por isso, chegou determinado momento em que começou a bater um desespero real de não ter uma entrada de dinheiro. Daí nós começamos a profissionalizar tudo. Pensamos: “Vamos ser pragmáticos, vamos encarar a coisa como profissão”. Neste momento, nós percebemos que passávamos boa parte do tempo de forma improdutiva, listamos todas as coisas que achávamos que interferiam no nosso trabalho e tentamos resolver. Por exemplo, uma coisa que eu percebi, apesar de muito boba, é que quando eu acordava, enquanto eu não colocasse uma roupa desconfortável, de quem trabalha, eu não era capaz de ter o pragmatismo necessário. Se eu estivesse de bermuda, chinelo e camiseta, eu não conseguia focar no trabalho. Neste ponto, conforme identificávamos os problemas, fomos amadurecendo.

Grupo PET-SI: ​De onde surgiu o nome da empresa?

João Pedro: ​Acho que uma grande coisa que aconteceu na área de jogos em 2009 foi o chamado “Movimento Indie”, ou movimento independente. Basicamente, o “Movimento Indie” começou com algumas pessoas que faziam jogos dentro de casa e achavam formas diferentes de se vender, de mostrar que o produto existia. Os consumidores começaram a comprar muito e, de repente, o mercado mainstream começou a perder muito espaço para o mercado independente. E, nessa época, fazia parte do movimento independente você sentir que estava comprando o jogo de uma pessoa, sentir que os sonhos da pessoa que desenvolveu o jogo estavam por trás daquele código, que não fosse uma coisa meramente comercial. Não é algo do tipo: “Ah, vou fazer um jogo, que é tipo um GTA, mas é na USP, porque daí todo mundo que estuda na USP vai comprar o jogo porque vai se identificar”. Não, os independentes faziam jogos porque entendiam a coisa do ponto de vista mais artístico. E neste “Movimento Indie”, um dos times, que inclusive desenvolveu um jogo famoso chamado World of Goo, adotava um estilo de humor muito non sense, numa forma muito cartunesca de se vender. Basicamente, eles não eram uma empresa, isso fazia parte da coisa. E inspirado por um desses times nós acabamos elaborando o nome Pixel Cows, numa tentativa nossa de nos tirar do conforto. Era como se pensássemos: “Nós somos ridículos”. Era essa a forma de se vender, por incrível que pareça. E isso fazia com que as pessoas, ao nos ouvir, não pensassem algo do tipo: “Poxa, é um cara de 17 anos que está achando que vai fazer alguma coisa”. Não, a primeira coisa que a pessoa fazia era dar risada. E isso já era uma quebra de barreira enorme, era uma ótima forma de reduzir a expectativa das pessoas para com nosso produto, no sentido de que não somos uma empresa gigantesca e sim duas pessoas.

Grupo PET-SI:Que interessante! E quanto a sua família? Você contou com o apoio de seus familiares e amigos para criar a Pixel Cows?

João Pedro: ​Se eu era uma pessoa introspectiva quando pequeno, crescer me fez ser uma pessoa dez vezes mais.Tirando o fato de que aqui na EACH as pessoas são muito mente aberta e carinhosas, a maior parte dos meus amigos que seguiu uma carreira empresarial e que estudaram comigo pensaram: “Poxa, o cara tinha tanto potencial e gastou com besteira”. A minha família ainda não entende o que eu faço. Eu não consigo chegar em casa e falar para o meu pai sobre o meu dia de trabalho. Então, o que houve é que eu não tinha muito o que falar com as pessoas.

Grupo PET-SI​:Mas hoje você tem uma empresa constituída. Isso não dá uma visão diferente?

João Pedro: ​Isso dá uma visão de que eu não sou burro, mas não que eu fiz a escolha certa. As pessoas às vezes criticam o sistema econômico e burocrático brasileiro, mas acho que um dos problemas que eu mais enfrentei em ser empreendedor no Brasil tem muito a ver com o que as pessoas achavam que eu fazia da minha vida. A impressão é de que as pessoas aqui não estão muito prontas para ideias fora da caixa, de tal modo que é difícil convencer alguém, explicar a alguém o que você faz, é difícil alguém ter algum grau de empatia por você. E não é nem só na área de empreendedorismo… Eu fico surpreso quando falo para as pessoas da nossa idade que eu sou um empreendedor. Tem gente que acha que eu sou um Bill Gates, que o que eu faço é, basicamente, roubar a ideia dos outros e ser genial na minha garagem. De fato, as pessoas não se desafiam a pensar: “Ah, e se eu fosse um empreendedor?”. A verdade é que quase ninguém realmente cogita essa hipótese, e várias outras.

Grupo PET-SI:Em geral, quais são os pontos positivos e negativos de ser sócio fundador de uma empresa? De que forma essa responsabilidade tem influenciado em sua vida pessoal?

João Pedro: ​Embora eu seja empreendedor, eu faço jogos, e os faço porque amo. Isso é uma coisa que me difere um pouco de outros empreendedores, que são um pouco mais sanguinários neste sentido, pois pensam apenas no dinheiro do negócio. A minha visão sobre o que eu faço é que eu desenvolvo arte. Eu tenho muitas coisas para dizer pro mundo, coisas que eu já sofri, que já senti. Eu não nasci sabendo pintar, não nasci sabendo tocar música, apenas programar e, portanto, essa é a minha forma de fazer arte, que é o que eu mais gosto no meu ramo. Além disso, tem todos os confortos em ser um empreendedor, pois apesar de eu trabalhar todos os dias, eu sou dono da minha empresa – se eu quiser emendar um carnaval, eu emendo; se eu quiser trabalhar de madrugada e liberar o dia, eu faço isso. Outra coisa que me chama a atenção, e que eu levei algum tempo para perceber, é que eu sou uma pessoa que gosta de arriscar. O tédio do dia-a-dia me incomoda, de tal modo que eu não tenho paciência de sentar em frente a um computador e fazer a mesma coisa todos os dias. Eu realmente preciso sentir a adrenalina para que eu goste do que eu estou fazendo, para que, de certa forma, eu me sinta vivo. Pra isso, tem gente que salta de bungee jumping, tem gente que jogar pôquer… eu virei empreendedor. Eu passo todos os dias pensando nas minhas decisões, armando planos de como vender as coisas, analisando de que forma o psicológico dos meus clientes afeta meu produto, fazendo design de experiência da coisa como um todo… A verdade é que isso tudo é um jogo, que mistura seu ego intelectual, sua capacidade de arriscar e sua frieza, em um processo de auto validação.

Grupo PET-SI:Quais foram as principais dificuldades que você enfrentou no gerenciamento da empresa até o momento?

João Pedro: ​Eu já tive várias dificuldades na minha empresa, sendo que a maior delas é a minha falta de pragmatismo com relação ao gerenciamento do meu próprio trabalho no meu próprio tempo. Quando eu vou fazer um aplicativo, por exemplo, eu penso: “Ah, nesse aplicativo a pessoa deve ser introduzida dessa forma, aqui se cria um vínculo emocional, aqui é o processo em que eu a afasto um pouco do aplicativo para que ela sinta saudade…”, e assim eu projeto uma experiência. Mas quando eu sento na cadeira para programar, não é exatamente isso que eu tenho vontade de fazer. Às vezes tenho vontade de me envolver em outros aspectos, por exemplo, na qualidade das imagens ou na música. E, dessa forma, eu tenho muita dificuldade em manter o pragmatismo em minhas tarefas em relação ao que eu quero fazer. Acho que eu resumiria isso como o problema de você ser o gerente de projeto e, ao mesmo tempo, a pessoa que executa.

Grupo PET-SI:Você teve alguma grande dificuldade em definir coisas burocráticas, que vão desde a verificação dos impostos que devem ser pagos até qual contador contratar?

João Pedro: ​Eu acho que se você decidir ser empreendedor e começar com essas tarefas, você começou errado, principalmente no Brasil, onde custa muito caro ter uma empresa. Primeiro você deve elaborar o que você quer fazer, como você vai vender, o que você quer ser… Você se entende do ponto de vista do empreendedorismo, você cria amor pela coisa. E aí você vai avançando passo a passo, pegando essa grande massa burocrática e separando ao longo do tempo pra que você consiga digerir tudo. Se você sentar de primeira e, ao querer abrir uma empresa, já buscar um contador e começar a lidar com contratos de funcionários e esse tipo de coisa, você não vai nem começar. Você vai abrir o bloco de notas, listar tudo o que você deve fazer, fechar e dormir. No caso da Pixel Cows, meu primo é mais velho do que eu e, por ter sido gerente de projetos na IBM, ele já tinha bastante experiência nesse sentido e, por isso, acabou conduzindo isso um pouco mais do que eu.

Então, resumindo, é um misto de sorte com você ser realmente realista e começar a estudar sobre o assunto. Hoje em dia, se você olhar a cabeceira da minha cama, não há um livro de programação: tem livros de Marketing, Relações Públicas, Design, Mídias Digitais…

Grupo PET-SI: ​Uma das coisas mais difíceis em um empreendimento é o relacionamento com as pessoas. Como é isso pra você?

João Pedro: ​Olha, isso é muito difícil. A verdade é que você ama seu produto, mas ninguém mais o ama. Não tem como você chegar para um funcionário e falar: “Pelo amor de Deus, faz direito que minha vida depende disso”, pois não é assim que você gerencia as pessoas. O cara está preocupado em chegar em casa e ver a namorada dele, ou se ele vai entrar às 8 horas ou às 7 horas no dia seguinte. E por mais que você faça um exercício de empatia de se colocar no lugar do funcionário, você não consegue. Então, esse foi um processo em que meu aprendizado foi meio tentativa e erro. E se é difícil trabalhar com pessoas pessoalmente… é mais difícil ainda trabalhar com gente pela Internet, que você não está nem vendo a reação do cara. Você fala uma coisa e não sabe nem se ele ficou feliz ou triste. No começo nós contratávamos pessoas pelo E-Lance, que não era nem no Brasil, quer dizer, a gente conversava em inglês com as pessoas, que não é minha língua nativa, nem a do cara; o cara tem outros hábitos culturais; estamos conversando por uma interface de video conferência, em que um sequer está vendo o outro… Isso é, realmente, muito difícil. Nós passamos muito tempo treinando o funcionário e simpatizando com ele, também tentando fazer com que ele simpatize com a gente. Uma coisa que eu sempre tento fazer é que o funcionário sinta amor de alguma forma. Se ele disser: “Eu preciso passar uma semana viajando”, eu digo: “Cara, viaje, você vai curtir”. Tento fazer com que ele tenha qualidade de vida. Essa é, talvez, a única arma que eu tenho. Preciso que ele pense: “Dentre todas as empresas em que eu poderia estar, pelo menos aqui eu não estou falando com uma corporação, e sim com uma pessoa, que entende minhas necessidades”. E, a partir daí, tento ganhar a simpatia dele.

Grupo PET-SI: ​Houve algum momento em que você pensou em desistir da empresa?

João Pedro: ​Na real? Todo dia de manhã. Eu tenho uma vida muito difícil – não vou dizer que todo empreendedor tenha, necessariamente, mas eu tenho. É muito comum durante a semana eu não dormir por uma ou duas noites. Se não é pela quantidade de trabalho, é pela pressão. E quando eu venho pra EACH e vejo um cara que trabalha oito horas por dia e sai ao fim da tarde para tomar uma cerveja, eu penso: “Por que eu não estou tomando um a cerveja agora com ele? Por que eu vou, de novo, virar à noite trabalhando?”. É uma relação de amor e ódio, de tal modo que eu durmo feliz e acordo triste. Engraçado, eu estava discutindo com um amigo meu sobre isso, que basicamente estava tentando me convencer a parar de ser empreendedor, argumentando que eu não tinha qualidade de vida. No meu ponto de vista, eu tenho qualidade de vida, sim, pois eu gosto muito de fazer o que eu faço. Por exemplo, uma vez eu expus um jogo em uma feira em Brasília e eu não conseguia ficar no meu stand, de tanta criança que me puxava pela mão e dizia: “cara, que legal, que maneiro, eu quero jogar”. E eu achei muito legal, porque são em situações como esta em que eu lembro do porquê virei empreendedor.

Grupo PET-SI:Além desse de Brasília, a Pixel Cows já teve alguma participação em outros eventos relacionados a área?

João Pedro: ​Chegamos a participar de mais alguns, embora não tão grandes quanto o de Brasília.

Grupo PET-SI: ​A Pixel Cows participa de todo o processo de criação dos jogos (desde a parte gráfica até música e personagens)?

João Pedro: ​De uma forma geral, somos nós quem produzimos tudo – o máximo que fazemos é contratar trabalho de freelancers.

Grupo PET-SI:Numa escala de 0 a 10, como você classificaria seu grau de contentamento com a Pixel Cows?

João Pedro: ​De 0 a 10, eu só não digo 10 porque sempre dá para crescer e expandir. Eu sou muito ambicioso, estou muito longe de conseguir tudo o que eu quero. Então não posso dizer 10 porque não alcancei isso ainda, mas em termos de felicidade, é praticamente 10.

Grupo PET-SI: Quais são seus planos futuros em relação a Pixel Cows?

João Pedro: ​Uma coisa que eu gostaria de fazer seria expandir a minha empresa, a ponto de poder trazer novas cabeças e pessoas jovens. E eu queria poder ouvir ideias boas e falar: “Cara, vem cá, vamos fazer acontecer”. E isso não somente na área de jogos, se você tivesse alguma proposta bacana na área da saúde ou transporte por exemplo, poderíamos fazer. Eu quero incentivar as pessoas, quero que mais pessoas entrem nesse barco, por que acho que muitas pessoas são infelizes por conta de escolha profissional e não percebem isso. Minha grande aspiração é incentivar o lado empreendedor das pessoas.

Grupo PET-SI: ​Você acha que quando chegasse nessa etapa, você conseguiria o seu 10 na escala de contentamento?

João Pedro: ​Acho que não, pois quem cria nunca para de criar. Talvez um dia eu seja mais velho e tenha ficado parado no tempo e todas as coisas que eu invente sejam absolutamente inúteis ou antiquadas, e nada faça sentido. Mas, ainda assim, para mim elas farão. Por isso acho que nunca chegarei no 10.

Grupo PET-SI:Como você vê o mercado nacional na área de desenvolvimento de jogos?

João Pedro: ​No mercado de jogos, se vende para o mundo inteiro. É uma única loja consolidada, a “coisa” não fica restrita ao Brasil, o público alvo é muito grande. Mas as pessoas que trabalham comigo são daqui, e eu acho o povo brasileiro um povo muito cômodo quando o assunto é empreendedorismo, pois as pessoas, em geral, não se desafiam a fazer alguma coisa diferente com as próprias vidas.

Grupo PET-SI: Qual foi o principal projeto já desenvolvido pela Pixel Cows para o mercado de jogos?

João Pedro: ​Eventualmente, você começa a perceber que os produtos que você mais gosta são aqueles que mais falam sobre você mesmo e, neste caso, você acaba sendo o público-alvo e não as pessoas que deveriam comprá-lo. Por isso, estes são os jogos menos rentáveis. Eu cheguei a fazer dois jogos que, no quesito emocional, pra mim foram os principais.

Eu fiz um jogo que foi muito associado a minha infância, sobre meus pais. Eu e meu primo nos inscrevemos em um concurso e o tema do jogo que deveríamos desenvolver era “Mundo Pequeno”, sendo parte do desafio da dupla interpretá-lo de forma criativa. Nós fizemos um jogo que era uma espécie de “Pequeno Príncipe”, em que o personagem vivia em uma ilha voadora. Todos os dias, essa ilha voadora passava perto de alguma outra ilha específica, que podia ser visitada; em cada dia ele visitava uma ilha diferente e, portanto, os dias da semana eram dados em função da ilha visitada. O mais interessante nesse jogo, que é a parte que eu gosto muito, é que eu e meu primo interpretamos “Mundo Pequeno” como uma metáfora que representa a forma como um filho enxerga a separação dos pais. E a história do jogo que se visualiza no começo é o personagem principal dizendo que tudo isso era uma grande ilha que, um dia, se quebrou em pedaços, e o sonho dele é que isso volte a ser um lugar só. E, conforme o jogador anda pelas ilhas e conversa com uma fada no topo de uma chaleira voadora ou com um senhor rabugento de terno e gravata, começa a entender que, na verdade, tudo isso era uma família. O jogo não tem fim, e essa é a graça dele, pois cada um o entende como quer. E a ideia que queríamos passar é que não é porque as ilhas estão distantes que isso deixa de ser uma coisa só. Esse jogo foi para um concurso em que os participantes tinham 72 horas para desenvolver, desde a história até a programação e música. Muitas pessoas do mundo inteiro participaram, e eu e meu primo ficamos em terceiro lugar no ranking.

Outro jogo que eu fiz se chama “Last Dive”, e o tema para este desenvolvimento era “Sob a Superfície”. Eu e meu primo desenvolvemos um jogo que começava com um barco, onde havia um cara com roupas de mergulho e, logo que ele pula, estoura o cabo de aço no fundo do mar e ele fica preso: se ele sair da roupa ele morre devido à pressão, e não há como subir porque a roupa é muito pesada. A única coisa que o mergulhador tem é um rádio, com o qual ele se comunica com a pessoa que está no barco. Ao longo do jogo, você vai percebendo que existe alguma coisa errada, que a pessoa com quem ele fala no rádio não é mais o cara do barco – da mesma forma, ele começa a ver uma água viva rosa e um polvo nadando no mar ao redor dele. Conforme o mergulhador progride, em dado momento ele começa a encontrar destroços de avião, e o grande clímax é quando ele encontra uma poltrona com a esposa morta no fundo do oceano. Ao ver aquilo, ele pensa: “Estou preso nessa armadura, é óbvio que não adianta eu fazer nada, eu não consigo subir, não consigo sair da armadura, não consigo falar com o cara do rádio mais…Quer saber? Vou tirar essa roupa e morrer ao lado da minha esposa”. E o interlocutor do rádio persiste em convencê-lo a seguir em frente, enquanto o polvo ronda o personagem. Depois de determinado momento, você começa a perceber que aquilo não é um oceano de verdade, e que o cara do rádio começa a fazer com que você confronte o polvo. Quando o personagem faz isso em uma cena de ação, quebra o tubo de oxigênio e o jogador tem duas escolhas: ou fica capturando as bolhas de oxigênio para sobreviver, ou solta todos os controles e deixa o personagem morrer. E se o personagem morre, acordará depois em forma de água viva, passando a nadar ao lado da água viva rosa. Daí descobre-se que o tempo todo o personagem estava falando com a água viva rosa pelo rádio, que é na verdade a alma da esposa dele, e que tudo aquilo é uma metáfora para um limbo: ele já está morto desde o começo e aquela foi a forma de ele transcender, ou seja, ele só poderia ir para o paraíso se encarasse e superasse o trauma sobre a morte da mulher que o assombra há tanto tempo. Eu gostei muito desse jogo. Eu gosto de retratar coisas muito sérias para as pessoas de uma forma infantil e criativa.

Grupo PET-SI: ​E na questão mais técnica de desenvolvimento, em qual parte você prefere estar envolvido? Na música, programação, design…?

João Pedro: ​Eu cresci em uma casa que não tinha ninguém em volta para fazer jogo comigo. Isso significa que às vezes eu abria o QBasic e programava, às vezes abria o Paint ou Photoshop e desenhava, ou simplesmente pegava um teclado velho que tinha atrás da porta e tocava uma música. Então eu criei um gosto muito grande por todo o processo, inclusive pela parte burocrática. Mas eu amo programar, especialmente. Por exemplo, a matéria de Desafios da Programação eu fazia sorrindo de orelha a orelha.

Grupo PET-SI:Quais são as maiores influências (principalmente do mundo dos games) em seus projetos?

João Pedro: ​Eu gosto de arte. Se você me der um jogo de tiro com um bom gráfico, eu provavelmente nunca vou tirar o jogo da caixinha. Eu acho que o que as pessoas não percebem é que quase todo tipo de arte é você desenvolver uma experiência, pra que quem está assistindo, lendo ou ouvindo passe por aquilo. Pode ser uma música que fale sobre revolta e é um rock pesado, pode ser um quadro pacífico, pode ser um jogo ou um livro. Por isso, eu gosto muito do mundo Indie. Além disso, basicamente, eu cresci jogando jogos da Nintendo e do Super Nintendo – joguei Mario, Zelda, Donkey Kong…

Grupo PET-SI: ​Na área de tecnologia é recorrente aparecer casos de plágio ou quebra de patentes. A sua empresa tem algum plano jurídico de defesa da propriedade intelectual e da marca?

João Pedro: ​Sim, sempre fazemos contrato, esse é um padrão estabelecido. Não é que eu não confie nas pessoas, ou que não queira confiar, muito pelo contrário – meu reflexo é pular a parte burocrática, confiar nas pessoas e seguir logo em frente. Mas é uma etapa necessária.

Grupo PET-SI:Antes de fazer o curso de Sistemas de Informação na EACH/USP, você já havia feito algum outro curso relacionado à Informática?

João Pedro: ​Fiz um ano de cursinho e aí acabei entrando aqui. Mas nunca fiz cursos por fora, eu mesmo não me lembro de que forma aprendi a programar.

Grupo PET-SI: ​Várias personalidades do mundo da tecnologia (Ex. Steve Jobs e Bill Gates) abandonaram a Universidade para dar andamento a seus respectivos projetos. Por que você não abandonou?

João Pedro: ​Toda vez que venho para a aula eu penso: “Cara, eu estou atrasando meu cronograma porque eu venho pra faculdade fazer nada”. Mas a verdade é que as pessoas esperam muito de você, e por mais que você possa bater no peito e dizer: “Eu sou assim”, elas te julgam. Por isso, eu acho que empreendedores como eles não são o exemplo, porque eles podiam não ter largado a faculdade. Mesmo o Bill Gates, todos dizem “Ah, ele roubou o produto”, mas ele foi capaz de pegar aquele produto que estava escondido e fazer com que hoje todo mundo use. Ele é um gênio, e não precisava ter largado a faculdade. Neste sentido, as pessoas contam histórias ressaltando só alguns aspectos – tiveram muitos gênios que fizeram faculdade, mas as pessoas só falam das histórias interessantes. Essa é uma forma errada de ver as coisas. Então, eu não quero largar, eu gosto muito de estar aqui, de estar vinculado a EACH. Eu gostaria de um dia, se eu tiver sucesso, falar: “Olha, eu vim daqui!”. Isso me causa alegria.

Grupo PET-SI:Surgiram muitos desafios em cursar a graduação em Sistemas de Informação e, ao mesmo tempo, gerenciar a Pixel Cows?

João Pedro: ​Meu maior desafio na vida é esse. É bizarro, não importa o quanto eu tente otimizar meu tempo ou minha grade horária, eu sempre estou cortando da carne. Sorte que sou um bom programador e faço os Exercícios Programa rapidamente. Eu vejo assim, existe a faculdade e o trabalho, eu quero me formar e também quero ganhar dinheiro, então de onde sai esse tempo? Das horas de sono. Quem me conhece sabe quantas vezes tomo café por dia. Às vezes estou no meio da aula e, quando eu percebo, não é que vou dormir, eu vou apagar! Aí tomo três cafés e volto.

Grupo PET-SI​:Você faz exercício físico?

João Pedro: ​Pequenas coisas que eu posso fazer que sejam exercícios físicos eu faço. Por exemplo, eu ando a pé ao invés de pegar ônibus e tento ir na academia pelo menos um pouco. Eu gostava muito de esporte quando era mais novo, cheguei a fazer Parkour, natação, futebol… mas hoje em dia não faço muito por causa do tempo. Minha vida é muito estressante, e desconto um pouco nisso e um pouco na música, no meu piano velho.

Grupo PET-SI:De que forma você acha que a grade curricular do curso de Sistemas de Informação da EACH/USP pode ser alterada para complementar o conhecimento necessário aos estudantes que queiram montar a própria empresa?

João Pedro: ​O começo do curso é muito sobre matemática e programação, e o fim do curso fala um pouco mais sobre gestão. Eu acho que eu difundiria isso, eu puxaria uma matéria que fale sobre como é a vida empresarial e a matéria de empreendedorismo para o começo da grade, por que não adianta nada ter uma matéria de empreendedorismo no fim do curso. Os alunos vão lá para ter presença, porque já trabalham e não vão mudar de vida. Um problema muito grande que vejo nos cursos de Computação são que as pessoas são muito introspectivas, e acho que qualquer coisa que facilite as pessoas a sair da zona de conforto é algo válido. Por isso, eu colocaria algo nesse sentido, não sei qual a melhor forma de se fazer, mas eu acho importante a pessoa entrar aqui e não se alienar dentro da especialização dela. Ela deve lembrar que é uma peça no mundo.

Grupo PET-SI:Tem alguma matéria no curso que te trouxe algum benefício específico?

João Pedro: ​Entrar aqui foi algo muito bom porque eu me tornei mais apto a profissionalizar as coisas, a aprender programação do jeito certo, padrão de projetos e estrutura de dados. Na verdade eu era uma pessoa que tinha reinventado a roda, pois fazia as coisas da minha forma, nunca tinha tido aula de programação. Eu já usava coisas parecidas com estruturas de dados mais complexas e alguns padrões de projeto também já conhecia, mas não os entendia exatamente. Em geral, estudar na EACH me deu uma teoria muito completa, que me faltava do ponto de vista de programação, administração, empreendedorismo e gerenciamento de projetos. Mas uma coisa interessante é que, quando eu entrei aqui, eu não era capaz de perceber isso.

Grupo PET-SI​:E o Ciclo Básico, de que forma você o vê como aluno de Sistemas de Informação?

João Pedro: ​Eu gostei muito do Ciclo Básico, por incrível que pareça. Acho que foi uma fase muito boa. Em 2009, era diferente de como é hoje – naquela época, o Ciclo Básico era inteiramente em um ano. Quem era de SI só fazia Introdução à Ciência da Computação I – que agora se chama Introdução à Programação –, Cálculo I e Introdução à Ciência da Computação II, que agora é Introdução a Análise de Algoritmos. O resto era só Ciclo Básico e isso, sendo sincero, é frustrante. Você estuda no Ensino Médio inteiro matérias que não te importam, você adquire trauma de algumas delas por que estuda muito pro vestibular e, mesmo assim vai mal, e quando você toma sua decisão do que quer fazer, você está colocando sua vida aí, você raciocinou a respeito, às vezes até teve que bancar alguma coisa com seus pais, para chegar aqui e ser surpreendido com matérias fora da sua área. Então, acho que isso é um lado muito ruim, todas as pessoas que converso da minha época falam: “O começo da EACH drena sua motivação”, e quando você percebe, já não aguenta mais esse lugar, de tal modo que você não vem mais aqui para evoluir, você vem porque tem que ultrapassar esse degrau. Por outro lado, ele te força a desenvolver habilidades sociais e, nesse sentido, o Ciclo Básico é legal. E eu acho interessante você sair da sua zona de conforto porque você não vai trabalhar pra sempre atrás do computador, e essa é uma experiência muito rica, a integração de cursos. Sobre as disciplinas em si, era um pouco do que eu estava dizendo agora – quando a gente entra aqui, a gente não sabe exatamente quem a gente é. Nós estamos descobrindo muitos aspectos da nossa vida ao mesmo tempo: você está morando sozinho, você é responsável por si mesmo, você pode ser preso, você pode ir pra uma balada e vomitar e ninguém vai ficar sabendo, sua mãe não vai te dar bronca, você pode matar aula, você pode estudar, pode não estudar, pode ganhar dinheiro… Você está descobrindo tantas coisas que você ainda não tem maturidade para aproveitar algumas das disciplinas. Então, eu acredito que seria mais interessante se a pessoa fizer, no início do curso, matérias mais simples de se entender o contexto. O Ciclo Básico faz justamente o contrário, faz você pensar em outros aspectos da sua área, por exemplo, como é sua área aplicada à sociedade ou ao meio ambiente. As pessoas demoram alguns anos para serem capazes de fazer esse tipo de ponte.

Grupo PET-SI:Para encerrar, qual conselho você daria aos estudantes que pretendem começar sua própria empresa?

João Pedro: ​Eu tenho um fascínio muito grande por pessoas que tentam empreender. Quando eu descobri que um amigo meu estava tentando, fiz um grande esforço para ajudar ele, e não porque eu acho que o cara tem que virar empreendedor porque é o futuro, porque tem que ganhar dinheiro, não é isso. Se você acha que tem que viver na sua casa amarela com seu cachorro no quintal, não tem problema nenhum, é uma vida fantástica e igualmente boa e correta, mas as pessoas têm que tomar essa decisão e não deixar a coisa acontecer por inércia. Por exemplo, se você nasceu numa família católica você é católico, o filho de médico quer ser médico, o cara nasceu sendo homem, então ele é heterossexual, o cara é da computação, então ele quer trabalhar na IBM. Eu acho que um aspecto importante da vida é encontrar o nosso lugar, e essa é uma fase muito boa pra isso, porque não temos tanta responsabilidade, ou seja, se tem uma fase que a gente não precisa trabalhar é agora. Daqui a pouco, quando você tiver sua família, não vai poder se dar ao luxo de sair da sua empresa e montar seu empreendimento. Meu sócio foi um bocado louco ao fazer isso, e eu vi o quanto ele sofreu. Então, meu primeiro conselho é: gastem um tempo pensando nas coisas que vocês normalmente não costumam pensar, e aí o empreendedorismo é uma possibilidade em um leque. Você não tem aquele salário garantido no final do mês, você não termina seu trabalho seis horas da tarde e vai tomar uma cerveja… Mas você cria! Você é reconhecido, você sente que o que você está fazendo tem valor e significado, diferentemente de trabalhar em uma multinacional em que seu chefe pede pra você fazer umas tabelas no Excel para organizar as coisas e você sabe que aquilo vai pro lixo daqui alguns meses. Você se sente importante, então, nesse aspecto é muito melhor.

E para quem quer ser empreendedor, o conselho que eu dou é: não pense, comece. Não comece pela burocracia ou esperando a ideia perfeita, o sócio perfeito… Senta e faz! Quando você pega uma folha de papel e faz um desenho, qual a chance do primeiro desenho ser o melhor desenho que você fez na sua vida? Nenhuma, porque é seu primeiro desenho. E quando você se torna empreendedor, é como se fosse seu primeiro desenho. O importante é você descobrir o que você quer ser, é você se jogar e ter amor pelo que faz. Pegue alguma coisa que seja da sua área, um hobby que você goste, algo com o que você simpatize… Nada de tentar mudar o mundo com seu primeiro empreendimento. Comece com uma lista, pensando em coisas mais simples, não em como fazer um empreendimento que dê dinheiro daqui a três meses. Não tem nada a ver com abrir uma empresa. Por exemplo, faz brigadeiro e vende na EACH. Isso é empreendedorismo. Ou tente montar um blog, também é um empreendimento – você ganha dinheiro, você tem que sentar lá e trabalhar todo dia… Só não tem uma empresa, mas é um empreendimento. Tem tantas coisas… Você pode montar uma página no Facebook, pode pegar algo que já existe e revender… A ideia é que você não precisa ser uma empresa pra ser empreendedor. Muitos pensam: “Vou fazer o próximo Sistema Operacional, fazer algo genial, algo sofisticado”. Não! Uma ideia, por melhor que ela seja, vale no máximo um real se não for executada. Porque ideias boas todo mundo têm o dia inteiro, eu já tive várias, na EACH um monte de pessoas também já teve. E o que define quem é bom e quem não é, quem está dando certo e quem não está, é o ato de levantar, sair da inércia e fazer. Às vezes uma ideia ruim te rende dinheiro no fim do mês e você sustenta sua família com ela, sendo que o cara que teve uma ideia genial e que não fez nada com aquilo continua na mesma. Então, executem! Foquem-se em fazer, em sair da inércia. Não precisa ser nenhum gênio, não precisa ser super inteligente, não precisa de nada – só precisa dar o primeiro passo.