Café Filosófico – Entrevista com ex-Coordenador Prof. Dr. Ivandré Paraboni

Café Filosófico – Entrevista com ex-Coordenador Prof. Dr. Ivandré Paraboni

No dia 15 de junho de 2018, o PET-SI realizou uma entrevista com a Prof. Dr. Ivandré Paraboni. Confiram abaixo como foi essa entrevista:

Rodrigo: Boa tarde, professor Ivandré. Em primeiro lugar, nós gostaríamos muito de agradecer sua presença aqui no café filosófico. E só um aviso, nós vamos gravar a conversa e fazer a transcrição pro site do PET. Mas antes de fazer isso nós vamos enviar o texto pro senhor e depois da aprovação a gente publica. Então vou iniciar aqui com as perguntas. Então, professor Ivandré…

Profa. Sarajane: Seu nome?

Rodrigo: Meu nome é Rodrigo.

Profa. Sarajane: Você já conhece todo mundo, né?

Prof. Ivandré: Não, tem um ou outro que não conheço. A maioria eu conheço.

Rodrigo: Desde quando o senhor entrou na graduação o senhor tinha a ideia de seguir a área acadêmica? E como se deu o processo de entrada para se tornar um pesquisador?

Prof. Ivandré: Bom, uma resposta meio longa essa. Bom, primeiramente obrigado pela oportunidade. Não sabia que ia ser assim. Se soubesse não teria vindo [risos]. O meu perfil na verdade era muito parecido com o de vocês. O curso que eu fiz na época era análise de sistemas. Basicamente mudou de nome, mas era sistemas de informação. Eu atuava no mercado, eu trabalhava desde cedo como muito de vocês trabalham. Fiz minha graduação trabalhando, inclusive. Mas… era um emprego bom, era bem remunerado, tudo certo, mas eu tinha aquela sensação de que não era algo que eu queria fazer pela minha vida inteira, pelo resto da vida. Então, aconteceu na verdade um dia de eu ter que dar um curso de treinamento para usuários dentro da empresa que eu trabalhava e aí eu descobri que eu gostava. Eu gostei de ir lá pra frente, de falar, de apresentar e de ensinar e o feedback foi bom. Aí eu comecei a pensar nisso e comecei a mudar minha carreira para direcionar pra esse lado que eu descobri que era o que eu queria fazer.

Rodrigo: Certo, e como foi assim, sua experiência no trabalho?  Na indústria?

Prof. Ivandré: Foi um pouco estressante. Eu imagino, assim, vocês que já estão no mercado devem saber essas questões de prazo de cobrança, de responsabilidade, mas é difícil na verdade um trabalho não ser assim. Não existe isso de mudar pra academia porque é mais tranquilo. Não é. Eu acho que não é. Mas tem um lado bom também, você está fazendo coisas, está construindo coisas que funcionam, que as pessoas usam, que dá o lucro, que dá dinheiro, então tem um lado interessante também. E você aprende muita coisa,

Profa. Sarajane: Você fez toda a graduação trabalhando?

Prof. Ivandré: Sim… Eu não queria fazer essas coisas. Eu era um perfil totalmente diferente.

Rodrigo: OK, voltando um pouco agora pra área acadêmica, dentro de todos os projetos que o senhor já realizou, pesquisa, qual foi assim, o que o senhor mais gostou e se tem algum motivo especial.

Prof. Ivandré: Eu acho que o projeto que a gente mais gosta é sempre o último. Porque assim, o primeiro projeto que você faz, ele nunca é muito bom na verdade. Você está sempre aprendendo. Então, tem algumas coisas que dão certo, que dão um resultado bom, mas depois você aperfeiçoa a técnica, no próximo projeto você trata aquilo com mais rigor, você avalia melhor, você, enfim, vai sempre evoluindo, então pra mim o último é sempre melhor. O que eu to trabalhando hoje, o que os alunos trabalham hoje, eu diria que é o mais bem feito do que a gente já conseguiu fazer e muito provavelmente o próximo, assim espero, vai ser mais perfeito ainda.

Profa. Sarajane: E esse último projeto é… Qual é o projeto?

Prof. Ivandré: Tem a ver com computação de personalidade e caracterização autoral, e coisas desse tipo. Mas eu digo isso não pelo assunto do projeto ser melhor, é porque a técnica e o grau de profundidade da pesquisa vai se tornando cada vez maior, e você consegue dar uma contribuição substancial.

Vitor: Olá, professor. Eu sou o Vitor, prazer. Ainda na área acadêmica, eu gostaria de saber qual matéria da grade o senhor mais gosta de dar aula?

Prof. Ivandré: Ah! Essa é fácil, essa é fácil. Tem uma disciplina que é a de Algoritmos e estruturas de dados 1 que sempre foi e sempre será a minha a minha predileta. Eu nunca tinha ministrado uma disciplina na minha vida, entrei na USP em 2005, lá na USP São Carlos, e foi a primeira disciplina que me deram. Então eu nunca deixei de ministrar essa disciplina. Todo ano eu pego pelo menos uma turma. Tem anos que eu tenho que pegar um pouco mais dos meus colegas para inserir uma turma, mas nos últimos anos pra cá meio que estabilizou assim. Então informalmente fiquei dono de pelo menos uma dessas e pelo menos ninguém tira ela de mim. Pode acontecer, tem que ficar de olho sempre, mas essa é a minha predileta

Vitor: Tem alguma que o senhor não dá aula ainda, mas gostaria de dar aula?

Prof. Ivandré:Tem. No futuro, talvez pro ano que vem já, eu estou pensando em propor, já existe na verdade, que é uma optativa de processamento de linguagem natural, que é a minha área de pesquisa, mas ela nunca foi oferecida. Na prática, os alunos dos últimos anos escolhem e a tendência é eles preferirem certas áreas com certos professores, mas de uns anos pra cá, uns dois ou três anos pra cá, os alunos começaram a pedir, surgiu uma demanda pra isso, e aquela ementa que tá lá, ela tá um pouco velha, tá um pouco desatualizada, por isso que precisa montar esse curso de novo para oferecer. Se eu conseguir me organizar e se der tempo pro ano que vem talvez ofereça. Ofereça assim … vou disponibilizar e vamos ver se os alunos vão ter interesse ou não, mas aparentemente tem alguns que tem.

Vitor: Agora vamos sair um pouco de computação e de exatas também, qual seria uma área de pesquisa que o senhor gostaria de ter também, fora de exatas assim?

Prof. Ivandré: Bom… é, ter interesse é uma coisa, mas saber fazer é diferente. [risos] Interessante tudo é, interessante, potencialmente interessante. Mas a minha área de pesquisa, ela tem um pouco de interação com a psicologia, por exemplo, ciências cognitivas, tem também um viés linguístico, mas eu pessoalmente não me interesso tanto por linguística quanto por ciências cognitivas, então tenho mais interesse em entender como é que a pessoa pensa, como a pessoa aprende, como a pessoa fala, por que que ela fala desse jeito, na psicologia existe muito isso, e esses insights a gente traz pra computação. Então se eu não tivesse nada pra fazer e com tempo sobrando, eu estudaria um pouco mais dessas áreas, procuraria entender um pouco melhor como elas funcionam

Profa. Sarajane: Como você explicaria para nós, que não somos da área, esse link entre a psicologia e a computação. Pois a questão da interdisciplinaridade, principalmente pros alunos, não é muito clara, e acho que é uma oportunidade de falar um pouco dessas oportunidade de esclarecer isso para nós.

Prof. Ivandré: Pense, por exemplo, que você está projetando um robô, não um robô mecânico, mas um robô de software mesmo, como esses chatbots que tem por aí. Uma coisa é você fazer uma ferramenta que pega o que você falou e ela faz um tratamento das palavras e te dá uma resposta sem nem pensar se aquilo é bom ou é ruim. Se você precisa projetar um robô desse tipo, mas com mais realismo, para, por exemplo, ele ser um personagem de um videogame, ou uma aplicação de videogame, então você não quer um robô qualquer, que fale de uma maneira robótica. Você quer um robô que fale como princesa, ou como um dragão e assim por diante. Como é que você sabe criar esse robô ou gerar texto para fala que esteja com esse grau de realismo? Para fazer isso é preciso entender como as pessoas falam, então você começa a olhar para toda essa área da psicologia que estuda, por exemplo, cada tipo de personalidade, como cada um pode se expressar, ou um exemplo que a gente tem: se você é uma pessoa mais egocêntrica você tem tendência de repetir coisas com “eu”, “para mim”, e esse tipo de coisa se reflete sobre o jeito que você fala. Então todos esses insights que se estuda na psicologia, nós da computação não sabemos, e para modelar uma aplicação desse tipo você tem que ir lá na psicologia e buscar esse estudo pra começar a entender o que eles descobriram, e depois traduzir isso para um modelo computacional. É esse tipo de coisa que se faz. Às vezes, o resultado, que pode ser um robozinho que foi projetado, tem alguma contribuição para computação, é uma coisa nova, mas, às vezes, a gente consegue também provar, ou reforçar alguma coisa que era só uma teoria, ou ideia, item aberto, lá da psicologia. Então funciona nos dois sentidos, só que eles meio que dão mais do que a gente devolve na verdade, mas às vezes a gente consegue formalizar coisas que eles entendem, que eles já descobriram, mas eles não tem aquele modelo formal.

Profa. Sarajane: Achei incrível aquele robô da Google novo, que ele fala expressões como “hum…”, gente como assim! [risos] O robozinho fala “humm…”, eu achei incrível, Deus, como faz isso. Eu não entendi mais nada do que ele falou, mas o “aham”, né? Da onde vem?

Prof. Ivandré: E, esse é o tipo de coisa que alguém que andou estudando como é que as pessoas se comunicam numa situação real e embutiu essas coisas todas num robô

Profa. Sarajane: Isso é, a gente não tem acesso, eu não tive acesso a esse tipo de coisa, mas será que isso é embutido ou é aprendizado de máquina mesmo?

Prof. Ivandré:: No geral mesmo, acho que isso é aprendido. Tinha há alguns anos atrás, em estudos dos anos 90 já, quando começaram esses agentes virtuais com imagem, com pessoas que falam e apontam, gente da computação descobriu, não lembro se era o gesto da mão ou o piscar dos olhos, mas que um desses era correlacionado com outra coisa qualquer. Então realmente poderia ser colocado em um algoritmo, poderia ser codificado e o robô faria os gestos com a mesma naturalidade de um humano, e isso a computação que descobriu só por estudar e extrair padrões de vídeo.

Vitor:Ouvimos falar que você gosta bastante de viajar e fez seu doutorado na Inglaterra, inclusive. Conte um pouco mais sobre a experiência de se fazer um doutorado fora do país.

Prof. Ivandré:Bom, uma coisa sempre vai levando à outra, como uma cadeia de eventos, mas nunca subestime o fator sorte. A gente fala que “fui atrás disso e daquilo”, sim você vai atrás, mas também tem que ter sorte. Às vezes você está no lugar certo, na hora certa, e as coisas acontecem, mas pode ser também que você estava mais preparado do que o necessário e a coisa não acontece. Eu já estava fazendo o mestrado, já tinha decidido meu plano de carreira e estava me desligando do mercado e indo pra área acadêmica e a oportunidade surgiu no meio do mestrado. Começou quando eu ganhei uma bolsa da CNRS, órgão francês de fomento à pesquisa. Eu já vinha estudando francês, pois minha orientadora havia feito doutorado na França, então eu achava que meu destino era ir pra lá e estava me preparando pra isso. Por já ser estudante de francês, eu acabei ganhando a bolsa para ir participar de um curso na França no final do meu mestrado. Simultâneo a isso, ainda no Brasil, uma pesquisadora da Inglaterra que estava fazendo uma visita à PUC soube que eu estava indo pra França. Ela me convidou a visitar o instituto do qual fazia parte na Inglaterra. Então assim, poderia ter sido uma gentileza ou algo sério, precisei avaliar isso. Fui pra França, fiz os cursos que tinha que fazer, mas mudei minha passagem de volta pra passar mais tempo e poder ir pra Inglaterra fazer a visita ao instituto. Pensei: “aí tem alguma coisa”. A gente não sabe se vai dar certo, tem que apostar. Fui então um dia, conheci o pessoal e o trabalho que eles faziam, e no final do dia a mesma mulher veio e me disse: “por que você não vem fazer um doutorado com a gente?”. Voltei pro Brasil pra escrever o projeto e depois fui pra lá.

Vitor:E aí, você ficou uns quatro anos lá?

Prof. Ivandré:Daí foi um tempão… [risos] Foram cinco anos na verdade. Teve um período em que eu voltei para o Brasil, pois estava só escrevendo, no final da dissertação, mas no total foram quase cinco anos.

Vitor:E como foi se acostumar lá? Sentiu falta do Brasil?

Prof. Ivandré:Assim, tem vários estágios. Primeiro o estágio festivo, de quando você chega e é tudo novidade. Depois, depende da pessoa, mas tem gente que começa a sentir saudade de casa. Não pensem que é bom pra todo mundo, conheço pessoas que foram fazer doutorado fora e não gostaram, não aguentavam mais ficar fora do Brasil. Mas no meu caso não, meu estilo é mais “vamos encarar e vamos nos acostumar”, e chega num estágio em que realmente você se integra, aí fica bom mesmo e você pensa que poderia ficar lá pro resto da sua vida. Mas aí acabou a bolsa e eu tive que voltar. [risos]

Vitor:E… Algum outro lugar que você já viajou? Alguma viagem que você lembra sempre? Quando eu falo de viagem, digo a primeira viagem que você lembra… Uma viagem que você queria repetir… Uma viagem que você adorou, para algum outro país… Tem essa viagem?

Prof. Ivandré: Bom, aí eu vou competir com a Sara aqui, né? Porque eu sei que ela tem um repertório grande também de viagens.

Profa. Sarajane: Eu sei que eu perco longe…

Prof. Ivandré: Eu acho assim: Você tem que ir, seja pra onde for. Não adianta… Tem lugares que eu não gostei. Tipo, fui pra aquele lugar, não precisava ter ido. Ou aquela viagem não era muito agradável e tal. Mas se eu não fosse eu não saberia. Então eu tenho… Eu gosto de viajar e eu tenho esse espírito assim… Se é pra ir pra tal lugar… E ano passado eu fui pra Uberlândia.Tem que ir, eu nunca tinha ido pra Uberlândia. Agora qual… Bom… Essa da frança justamente que foi… Que eu estava no mestrado e fui pra França, foi a primeira vez que eu fui pra Europa. Então essa viagem… Ela de certa forma marcou, assim, porque é a primeira vez que você vê, né?Como o lugar é bonito e organizado e diferente e aquelas coisas todas… Então, de certa forma, essa é um pouco especial.

Vitor:Você foi como estudante, mas como turista também…

Prof. Ivandré:É… Era um curso de verão, então tinha atividades lá, mas enfim, era um lugar bacana e era época de verão… Foi uma mistura das duas coisas.

Vitor:Então, beleza… Sobre viagens, só isso mesmo…

Profa. Sarajane: Um lugar mais exótico…  

Prof. Ivandré:Uzbequistão…

Profa. Sarajane: Ai gente, não falei?! [risos] Quem aqui já foi pro Uz… Uno… Não sei nem falar! Exótico. É exótico? É diferente?

Prof. Ivandré:É muito longe… [risos]

Profa. Sarajane: Longe é o Japão gente…Quem já foi pro Japão? O Rodrigo já foi pro Japão. Ah é, eles falam japonês… [risos]

Prof. Ivandré:É, eu fui agora…

Profa. Sarajane: Eles falam japonês, esses meninos…

Prof. Ivandré:Eu voltei agora…

Profa. Sarajane: Vocês sabiam?!

Prof. Ivandré:Eu tava no Japão mês passado…

Christian: Só memórias boas… [risos]

Prof. Ivandré:E o Japão é bom, né?

Christian: O Japão é bom, heim?!

Prof. Ivandré:É um dos que… É um dos que eu gosto.

Daniel: Aí sim… Professor… Eh… Meu nome é Daniel. Vou falar com você de AED 2.

Prof. Ivandré:Já ouvi falar.

Daniel: Já ouviu falar? [risos] Você dá essa matéria aí?

Prof. Ivandré:É do Daniel.

Daniel: É do Daniel? [risos] Ai meu Deus do Céu… [risos] Eh… Talvez alguns alunos da Graduação, até tipo a gente, assim, que… Que… Tá mais fechado no PET e tal… A gente não entenda bem como é que funciona ser um coordenador de um curso de graduação. Você consegue resumir pra gente, em algumas palavras, como é, quais são as atividades que incluem ser um coordenador de graduação, especialmente de SI?

Prof. Ivandré:É… Talvez seja a mesma coisa em qualquer curso, na verdade. Não sei se é diferente em SI. Existem três grandes demandas. O objetivo é deixar a graduação funcionando. Ela tem que seguir em frente, não pode parar, tem um calendário. Então, a graduação tem que estar funcionando. Vêm demandas dos alunos. Os alunos têm problemas, não conseguem acompanhar o curso, a disciplina e por aí vai. E as demandas dos professores, que também têm seus problemas. Precisa corrigir para que o curso ande. E nós recebemos ainda demandas de esfera superior, da Comissão de Graduação, vinda de todos os cursos da EACH. Eles têm decisões do tipo “Agora os cursos têm que fazer assim! Têm que fazer assim!”. Nós recebemos instruções, tarefas e demandas deles também. Então essas três frentes têm ficar cobertas o tempo todo para o curso funcionar, senão ele para. É basicamente isso.

Daniel: Muito bom. É… Quando você se tornou coordenador do curso, o que que mudou na sua agenda, assim… O que entrou de atividade? Ficou muito cheia? Muito pesado? Como foi pra você?

Prof. Ivandré:É… Eu acho que vocês já ouviram isso de outros coordenadores, né? Então… O problema não é a coordenação. Claro, tem tarefas a mais. Você vai fazer… Trabalhar mais do que trabalhava, tá? O problema na verdade é que as outras coisas que você tem que fazer você continua tendo que fazer. Não é assim “Agora você é coordenador então você faz menos que o resto”.  Então tem que conseguir fazer caber na mesma semana o que você já estava fazendo e mais a coordenação. Então, isso no começo é um pouco… É um choque na verdade, mas você aprende a administrar esse tempo. Tô passando pelo corredor, já vi o professor com quem eu tinha que falar, então já vou caminhando do lado dele, já resolvo aquilo antes de chegar na sala. [risos] – você utiliza as coisas pra fazer caber na semana.

Profa. Sarajane: Quando vocês vêem um professor com o coordenador do lado, o professor tá levando bronca.

Prof. Ivandré:É uma reunião… [risos] Não é um bate papo.

Daniel: Legal… É… Nesse período de quantos anos?

Prof. Ivandré:Dois anos.

Daniel: Dois? Qual foi o…, O maior problema que você encontrou com a… Foi o pior… Maior demanda que você…

Prof. Ivandré:Teve várias. Qual “James” será? Bom… Assim, dessas demandas, né? Assim, têm na verdade… As dos alunos são demandas muito sérias. Porque os alunos são muito emotivos, né? Então se você não atender o aluno ele começa… [risos] Aquela coisa cresce e… Né? E muda de proporção. Por outro lado, problema de aluno é fácil de resolver. Primeiro que são sempre os mesmos problemas, e já tenho a solução predefinida, “É assim que se faz”, ou não dá, ou enfim… Então, aluno, o problema do aluno é quantidade. São muitos. E eles ficam nervosos. Mas não é… Não tem problemas essencialmente difíceis. O problema mais difícil é o de professor realmente. Porque, se você como aluno tem problema, na pior das hipóteses é o seu curso que não tá legal. Agora se o professor fica doente, por exemplo, aí tem 200 alunos dele nesse semestre que estão sem aula. Então isso é… Isso é pior. Então os problemas do professor tendem a ser mais graves. Porque é doença ou alguma outra dificuldade, alguma coisa que aconteceu. E logo que eu comecei, na primeira semana de coordenação na verdade, teve um docente que saiu e… foram dois na verdade, que saíram de licença médica. Um já não estava nem ministrando aula há algum tempo e eu não tinha nem sido avisado do problema de saúde dele. E o outro teve problema naquela mesma semana e a gente ficou sem dois professores de uma hora pra outra. Aí de onde você tira mais professor? Porque aí vai ter que trabalhar mais. Então tem todo um trabalho de convencer professor, “Olha, é só mais uma disciplina”… [risos] “Os alunos são bacanas”… [risos] Então, é… Essas coisas de falta de professores são provavelmente as piores quando acontecem.

Daniel: Entendi. Falta de professor… Bom… Tipo…

Rodrigo: Professor… Professor. Continuando… Continuando sobre a coordenação do curso, o que que motivou o senhor a se tornar um… O coordenador do curso? Quais eram as suas expectativas? E se o senhor já tinha alguma proposta pra poder… Proposta ou mudança para implementar no curso.

Prof. Ivandré: Sim e não. Na verdade, eu sempre tive um pouco envolvido com esses colegiados de COC, que é da coordenação do curso, um pouco com a da pós-graduação também, mas nunca tinha de fato tomado as rédeas da coisa. Porque no colegiado, os membros participam de uma forma bem leve, estão ali para opinar, para votar, para assumir algumas tarefas menores mas grande parte do trabalho é do coordenador mesmo. Eu nunca tinha feito isso, então eu pensei: um dia vão me acusar de não ter dado a minha colaboração, e eu vou fazer isso para não deixar isso em aberto. Em parte era isso, em parte eu queria experiência mesmo de aprender um pouco como coordenador, como isso funcionava. E tinha também na época aquela questão de reajuste de vagas e a possível mudança pro turno vespertino, tudo aquilo que estava em discussão na época, e eu estava envolvido com aquele grupo, então parecia mais ou menos natural que se eu fosse o próximo coordenador a culpa era minha mesmo, era eu que fazia as mudanças no curso caso isso viesse acontecer. Depois as coisas mudaram, não aconteceu, mas teve esses motivos todos aí no meio. E dar  a minha contribuição também, até para motivar os próximos colegas a fazer depois, por que se ninguém quer fazer, aí fica difícil de achar um. Precisa ter alguém.

Profa. Sarajane: Foi você que comentou comigo ou foi o Luciano, que quando você se torna coordenador aqui na EACH que de fato você entende toda a complexidade da escola, foi você que comentou comigo, alguma coisa assim? Ou foi o Daniel…?

Prof. Ivandré: Eu não sei se eu comentei, mas eu compartilho desse pensamento

Profa. Sarajane: Porque a gente é tão focado nos nossos problemas de SI que a gente não faz ideia do que os outros cursos… A gente faz ideia, mas a gente não tem a real dimensão, né? De como é…

Prof. Ivandré: É, não só dos problemas dos outros cursos, que são bem diferentes às vezes dos nossos, mas os próprios valores, sabe? As coisas que a gente valoriza, as coisas que são importantes para o curso de SI às vezes são muito diferentes do que outro curso, então o interessante da coordenação é justamente quando você vai lá, pára e se reúne com todos os coordenadores do curso e você começa a ver o que são as demandas deles, que às vezes são coisas que são para nós, assim, triviais. Ou, por outro lado, eles têm grande dificuldade de entender, por exemplo, porque que a gente não pode colocar 100 alunos em uma sala de aula. Eles acham assim: se o aluno quer se matricular, deixa. Mas tem cursos que não tem essa superlotação, então você pode aceitar todas as matrículas e pronto. É bem diferente, assim, a dinâmica de um curso pro outro. Isso se aprende na coordenação.

Vinícius: Vou fazer uma pergunta sobre alocação de professores nas disciplinas. Você, como coordenador, considera o seu papel nessa atividade assim…

Prof. Ivandré: Sim, o coordenador do curso tem um papel nisso, mas é um processo, assim, que ocorre em várias etapas, começa… O ideal sempre é você conseguir atribuir disciplinas pro professor que está com vontade de ministrar aquela disciplina, não é de interesse de ninguém empurrar a disciplina pra pessoa e… né? Ninguém ganha nada com isso. Então começa com os docentes, uma vez por ano, dizendo que disciplinas eles gostariam de ministrar no ano seguinte. Com base nisso, aí o coordenador e alguns membros da CoC tentam montar uma grade que seja o mais satisfatória possível. Não é só a questão de qual disciplina ministra, mas os próprios horários também. Eles têm problema de horário, ou por compromisso profissional, ou por pessoal, mesmo. Por exemplo: tenho um colega que tem problema de saúde e que ele não deve ministrar aula à noite, ele tem atestado médico, tudo comprovado. Então esse colega não ministra aula à noite, certo. Tudo isso tem que ser levado em conta e fechado. Tem que dar certo para todo mundo. E o papel do coordenador é fazer fechar isso.

Vinícius: Certo. E a coordenação, ela possui uma espécie de mecanismo que avalia a qualidade de uma determinada alocação do professor com uma disciplina, se aquela alocação é boa, se existe, assim…

Prof. Ivandré: Bom, a alocação em si não. Parte-se do pressuposto que se o docente concordou em aceitar aquela disciplina, e aquilo é uma das disciplinas que tava prevista no concurso dele quando ele prestou o concurso para entrar na USP, na verdade ele não pode se negar a ministrar, tá lá no concurso, tá lá no diário oficial que você se prestou àquela disciplina. Agora, falando de avaliação, talvez a sua pergunta seja mais no sentido de será que existe avaliação se a disciplina foi boa ou não, se aquele semestre foi bom ou não. Então, esse é o problema, e eu mais ou menos já esperava essa pergunta, por incrível que pareça eu estava pensando nessa entrevista aqui e lembrei disso, “eles vão me perguntar e com razão”. Eu não sei o que está acontecendo com a avaliação. Havia antigamente um método de avaliação muito ruim e precário, aquele sistema SIGA. Acabaram com aquilo e ninguém sentiu falta. Depois disso veio a iniciativa do curso de SI especificamente, a partir de uma demanda de alunos, se eu não me engano. Fizeram todo um levantamento elaborado de que tipos de questões teriam que ter, como avaliar o que pode perguntar sem ofender. Enfim, estava tudo certo, tudo pronto, isso tava com essa coordenação agora, com o Daniel e o João Bernardes, aí por algum motivo a EACH decidiu que não, não vamos fazer só pra SI, vamos fazer para a EACH inteira, pra todos os cursos. A gente precisa inclusive, a gente é cobrado por isso, quando faz avaliação a cada cinco anos aqui do curso, o MEC vem aqui ver se tudo está funcionando, eles perguntam, perguntaram na última vez, cadê a avaliação de vocês? Por que vocês não fazem avaliação? De um questionário que seja com os alunos. Nós tentamos, né? A EACH tomou as rédeas dessa avaliação para fazer com o curso inteiro, eu ainda estive numa CG ano passado que teria algumas turmas piloto com essa primeira avaliação, com alguns cursos, algumas turmas, e depois disso nunca mais ouvi falar, não sei o que aconteceu. Vocês avaliaram alguma coisa semestre passado? Não, né? Então eu não sei quem está fazendo e o que está fazendo, mas se vocês quiserem em algum momento obter informações a respeito, o lugar para perguntar, a pessoa para perguntar é o pessoal do GAP, o Grupo de Apoio Pedagógico, que é um mini grupo, um órgão assessor da CG, são eles, teoricamente, que cuidam dessas coisas. Eles que estavam organizando. Agora porque está levando um ano para implementar eu não sei dizer.

Yvan: Eu acho que esse semestre o João Bernardes estava fazendo a avaliação de uma matéria dele, que é de OCD.

Prof. Ivandré:Então talvez esse seja o piloto, então. Talvez ele esteja fazendo por conta própria, cansou de esperar, por que ele é a pessoa que foi atrás e montou o questionário com os alunos, talvez vocês tenham participado da criação do questionário, mas, assim, isso é conversa de mais de ano, entende? Não sei por que não tá todo mundo usando ele.

Vinícius: Como coordenador, falando sobre os alunos, como você avalia a proximidade dos alunos com as questões da coordenação, com as questões de evolução do curso. Se os alunos de SI estão próximos à coordenação… Você acha que estão conscientes com o que está acontecendo com o curso?

Prof. Ivandré:É difícil dizer isso. Não, não acho que é muito próximo. Os aluno próximos da coordenação são os que têm algum problema, [risos] precisam de alguma coisa. Existe toda uma comunidade de alunos que faz os quatro anos aqui, se forma e você não sabe nem o nome das pessoas. É chamado o aluno perfeito, [risos] agora, os que chegam até a coordenação, invariavelmente eles têm alguma coisa que não está certa. Ninguém vai vir te elogiar, não é isso. Evidentemente que tem algum problema, então esses tendem a ser mais próximo, mas a gente tem, ou tinha, no meu tempo uma relação boa com o RD, por exemplo, que é o canal de comunicação. Quando o RD é bom, do tipo quem vem nas reuniões mensais, está a par de tudo que está acontecendo e devolve esse feedback, essa informação pros alunos, funciona bem. Com o o RD atual, ele tem esse perfil. Mas nós já tivemos épocas em que nem tinha RD, ou o RD não vinha, ficava às vezes meio ano que não aparecia RD na reunião daí este link se perde.

Vinícius: Você acha que com esses alunos perfeitos… Assim, você acha que é necessário trazer eles mais próximo desses assuntos ou, assim, não tem problema nenhum?

Prof. Ivandré:Eu acho que o aluno perfeito não precisa, ele é perfeito. [risos]. Bom, depende, não sei o que você quer dizer com próximo da coordenação.

Vinícius: Você acha, assim, que há uma necessidade do aluno, ele ter essa consciência do que está acontecendo na graduação, de, assim, das questões?

Prof. Ivandré:De algumas coisas eu gostaria que os alunos fossem mais conscientes, sim. Porque é uma coisa que eu brigo, briguei por muito tempo, que é um dos problemas mais sérios que a gente tinha na época parece agora que amenizou um pouco depois de muito trabalho, que é esse problema de não ter vagas. Você quer cursar disciplina tal, em tal horário e não tem vaga às vezes até no seu período ideal. Chegou a acontecer, e você não consegue vaga. Então, na verdade, isso é decorrente do mau uso da grade, da maneira como o aluno resolve conduzir o seu curso. Teve um ano que foi o pico disso que acho que foi 2016, um número grande de alunos que precisava se formar porque era o último semestre possível mesmo, e eles queriam cursar uma disciplina lá do primeiro ano do curso ou deixaram passar 4, 5 anos ou tentaram ao longo dos 4, 5 anos e nunca conseguiram passar, assim, mas você vai olhar o histórico, o aluno reprovou por falta todo ano, então não é que ele levou tão a sério assim. É essa falta de consciência e essa noção de que quando chegar no quinto ano eles vão ser obrigados a me dar uma vaga. Isso é muito ruim pro curso, prejudica o aluno perfeito, porque aí o aluno que está lá no sexto ano do curso tem prioridade de matrícula e tal. E isso atrapalha a vida de todo mundo. Isso é algo que eu queria que fosse mais entendido, mais bem entendido, seria muito bom pra todo mundo isso. Aquela ideia de que se a disciplina é no ano tal, é pra você fazer no ano tal, não pra fazer no ano seguinte. Se deu um pequeno problema e não deu certo, OK, mas é uma exceção, não uma regra. É difícil de administrar de outra forma, aí vocês ficam sem vaga.

Silas: Sobre seu período de graduação, ainda falando dos alunos só que agora mais pensando mais no grupo PET, como você avalia a participação do grupo PET nos assuntos que envolvem o curso de sistemas de informação ou mesmo a coordenadoria?

Prof. Ivandré:O PET fez bastante coisa, e faz ainda, né? Eu imagino uma série de trabalhos assim que seria muito difícil e consumiria muito tempo pra gente, como essas visitas e participar da feira de profissões. Então tem um bocado de coisas em que eu não sei se o pet gosta de fazer, mas que são assim… Tem um valor inestimável para a coordenação. É muito, muito bom mesmo, o PET. Eu nem lembro que mais o PET já fez, o PET está sempre envolvido com alguma coisa então às vezes quando a gente lembra… Eu lembro da época que o MEC teve aqui avaliando o curso, a gente pediu pros alunos do pet para participar porque eles fazem reuniões com alunos também, sem a presença do professor, para saber como é que o curso ta e tal. O PET também participou disso. Eu não lembro o que mais. Eu lembro de várias vezes que pedi pra Sara “Precisamos de uns petianos aqui”. E ela mandava alguns, por que acaba sendo mais fácil vocês são os alunos que estão bastante tempo durante a semana aqui na EACH, vocês são mais acessíveis então é mais fácil de encontrar vocês do que os outros e vocês têm mais tendência em colaborar também, pela escolha que fizeram.

Silas: E quanto à participação feminina, alunas do curso sistemas de informação, durante a coordenação você viu alguma coisa relacionada? O que você tem percebido em questão da participação feminina? Que a gente sabe que é a porcentagem de mulheres na computação em geral.

Prof. Ivandré: É, eu já me estressei mais, antigamente eu me estressava mais com isso, mas meio que me convenci que é assim que é, não tem jeito, é da natureza dos cursos de exatas não é nada de SI e tem semestres que a gente até tem um número razoável de meninas em sala de aula, mas assim, eu mesmo fiz minha graduação lá nos anos 80 e tinha turmas que não tinha uma única menina em sala de aula. Aqui na EACH já tive turmas também no noturno que eu lembro que não tinha nenhuma menina em sala de aula. Parece que de uns anos pra cá está um pouquinho melhor, mas isso assim é meio informal, é uma percepção informal, não parei pra contar.

Silas: Sobre esse movimentos que têm surgido, tanto por parte dos alunos de Sistemas da Informação, candidato de vestibulares em geral, outros cursos quanto a participação feminina na área de exatas e na área de computação. Qual a sua posição sobre isso?

Prof. Ivandré: Olha… teria que ter, né? Ninguém tem nada a ganhar com um grupo homogêneo onde todo mundo é muito parecido, precisaria mais ter uma série de iniciativas na sociedade tentando puxar mais mulheres para a computação, que nem o Rails Girls que uma ex-aluna da Sara e que foi minha ex-aluna também, ex-petiana, que é coordenadora disso e todo ano é ela que organiza aqui em São Paulo.

Profa. Sarajane: E te deixou maluco com isso também né?

Prof. Ivandré: Ai como eu sofri com isso, aquele mestrado que não andava.

Profa. Sarajane: Vamos explicar né? Ela tinha um mestrado pra fazer e ela ia fazer o Rails Girls.

Prof. Ivandré: Além do trabalho dela, ela trabalhava também, mas era por uma boa causa, então eu acho que no futuro vai melhorar, então as mulheres estão todas num processo irreversível de conquistar o seu espaço devido e elas vão acabar ocupando esse também.

Victor: Boa tarde, eu sou o Victor e assim, você falou agora que a gente não tem um perfil homogêneo de alunos né, seria legal se tivesse uma universidade com pessoas diferente. Você acha que desde quando o senhor começou a trabalhar como professor aqui na EACH e durante o período que você era coordenador mudou o perfil dos alunos, tem uma mudança significativa ou algo perceptível?

Prof. Ivandré: Teve uma que foi bem no começo do curso que foi bem visível que era relacionada à carreira FUVEST. O o curso de SI não estava na carreira de computação ele era uma carreira genérica: Então nós tivemos no primeiro ano que eu trabalhei aqui mais de um aluno que ficou surpreso, assim, negativamente surpreso em saber que era um curso de computação. Então esse tipo de perfil era muito ruim para nós, com essa grade, como é que você convence um aluno que não queria fazer um curso de computação a seguir essa grade? Isso foi bem problemático, mas logo mudou. Na coordenação do Xavier a carreira mudou para computação e a partir daí não teve mais problemas quanto a isso, todo mundo que vem já tem assim, no mínimo, um interesse por computação. Agora, outras mudanças foram até mudanças normais, cada geração é um pouco diferente da outra, e cada turma é um pouco diferente da outra, mas não sei se dá para dizer que mudou tanto.

Victor: E as mudanças durante a coordenação? É que assim, na coordenação se tem uma visão mais ampla de todas as turmas, não fica focado só em uma. Então quem sabe pelos professores, talvez pelos alunos…

Prof. Ivandré: Sempre está mudando, mas é muito pontual, não dá para dizer que é uma tendência, que vários alunos estão ficando desse jeito, não sei. Tem épocas em que eles são mais de esquerda e outros mais de direita e a próxima geração vai mudar de novo.

Victor: E durante a coordenação, qual o senhor diria que foi o maior aprendizado adquirido, um conhecimento importante?

Prof. Ivandré: A gente aprende bastante sobre como o curso funciona e como é que ele deve funcionar, mas isso não era tão novidade porque eu já tinha participado de COC em anos anteriores – eu só não tinha pegado pra fazer, eu tinha uma ideia já. Agora o que foi realmente novo, e foi a parte que eu aprendi, mais é justamente o que eu comentei da parte da interação com os outros cursos da EACH, que você começa a entender como a universidade funciona, como é que as decisões são tomadas, você descobre por exemplo que a COC não toma decisão nenhuma – ela é uma comissão de consultoria e lá você apenas sugere decisões à instância superior que é quem toma a decisão, ou decide acatar ou não, pode modificar por exemplo, é  o professor “tal” que vai administrar essa aula ou você não tem direito a dar o aproveitamento do estudo ou qualquer coisa que a coordenação decida é em última análise julgada pela CG e a CG pode decidir exatamente o contrário, então tudo isso se decide lá na CG.

Victor: Então a alocação de professores…

Prof. Ivandré: Tudo que a gente faz é uma recomendação, claro que na prática é um trabalho monstruoso, toda essa alocação de todos os horários de todos os professores durante quatro anos não é uma coisa que qualquer um vai mexer e modificar, porque se você puxa um fio aqui fica tudo inconsistente, então quem mexer tem que fazer bem feito então, mas às vezes acontece uma troca pontual. Ou entre a gente fazer a recomendação aqui até chegar no CG pode acontecer de alguma coisa mudar, o professor saiu, um afastamento qualquer. Agora deixa eu fazer essa pergunta também, estou sentindo muitas perguntas sobre essa alocação de professores. Tem algum problema específico ou é só…

Profa. Sarajane: Aproveita… Aproveita que a gente fez a pergunta. Vocês querem que eu e o Eler saiamos?
Silas:
Prof. Ivandré: Ou eu tenha que sair. [risos]

Victor: É mais uma curiosidade geral mesmo, porque, pelo menos na minha cabeça, a principal função do coordenador seria distribuir e organizar as salas, as turmas, qual professor alocar para qual matéria. E particularmente eu não entendo muito bem como isso funciona além do professor dizer “Eu quero essa matéria”. Mas, pensei que tivesse que levar em consideração o desempenho dele dando essa matéria antes ou então a proximidade com a área dele…

Prof. Ivandré: Então, não existe essa medida de desempenho. Mesmo um professor que tenha reprovado muita gente numa turma, não quer dizer necessariamente que ele não sabe aquele conteúdo, ou que ele não ministrou aula. Tem mil motivos pelo qual ele pode ter reprovado a turma. Ele pode até ter brigado com a turma, se você quiser imaginar assim. Mas um resultado de um semestre não é motivo para você não o alocar no ano seguinte de novo.
Às vezes acontece de você precisar, em uma situação emergencial que faltou docente para disciplina X, não tem nenhuma pessoa exatamente da área, então você tem que colocar o mais próximo possível. Você sabe que não vai ser muito bom, você sabe que é uma sobrecarga para esse professor (que ele vai ter que preparar uma aula que ele nunca ministrou). Mas é melhor isso do que não ter o semestre. Quando isso acontece normalmente é um paliativo, é por um período, ou é por um semestre. Aí para o ano seguinte se conserta. Ou em alguns casos, até vai que o professor gostou da disciplina e quis fazer. Eu lembro sempre do caso do professor Norton. Ele é da mesma área que eu, Processamento de Linguagem Natural, e tinha a disciplina de Sistemas Operacionais, que eu não gostava. Era eu que ministrava, eu não gostava. Aí quando apareceu o professor Norton, ele era calouro, eu consegui propor lá que “Taí. Dá para o Norton, então, que ele é da área de computação e eu posso fazer outras coisas”. E ele gostou. Depois que ele ministrou a primeira vez ele disse “Eu quero pra sempre essa disciplina”. É a disciplina favorita dele. Então ele está feliz, eu acho que os alunos gostam também, e eu estou mais feliz ainda.
[risos]

Victor: Então, se o senhor pudesse resumir em algumas palavras essa experiência de coordenação, quais seriam essas palavras?

Prof. Ivandré: É pesado, é bastante trabalho. Mas para quem está na Carreira, para quem escolheu isso como profissão, mais cedo ou mais tarde deveria experimentar, pelo menos por um período de dois anos. Eu não sei se eu quero fazer de novo, pelo menos não tão cedo. Mas, até porque tem muitos colegas aqui que nunca foram coordenadores, então não posso deixar agora de dar a oportunidade para eles. Mas é uma experiência importante, que deveria ser mais valorizada.

Christian: Meu nome é Christian. Agora a gente vai sair um pouco desse assunto de coordenação de SI e queria te perguntar: ano passado, em uma nova avaliação do guia do estudante, o curso recebeu cinco estrelas de avaliação. O quão impactante é significante isso seria para o curso de SI?

Prof. Ivandré: É simbólico, na verdade. Olhando para as coisas que ele nos perguntam, a gente mais ou menos imagina porque que ganha cinco estrelas sempre. Não tem como saber por que esse algoritmo, o cálculo dele, não é divulgado. Mas, sim, claro que é bacana você botar lá na página do curso que tem cinco estrelas. Eu não sei quem lê o guia do estudante, não sei até que ponto isso influencia a decisão de quem vai fazer o curso, mas imagino que se alguém chegou a olhar aquilo e tem um curso de cinco e um de quatro estrelas, deve pesar um pouquinho. Então é melhor ter cinco do que não ter. Mas assim, não é que se trabalhe com esse objetivo. É uma empresa particular que fala, que faz essa avaliação, do jeito que eles querem. Nós não temos controle nenhum sobre isso.

Christian: Este ano, iniciou o curso de Biotecnologia aqui na EACH. Como você acha que os alunos – e os professores também – poderiam cooperar de forma a melhorar os dois cursos?

Prof. Ivandré: É cedo para dizer. Um curso de graduação é uma coisa que leva muito tempo para se consolidar. Isso é uma coisa que a gente aprendeu só porque o curso de SI está, mais ou menos, na sua versão 2. Ele começou de um jeito, com uma grade, e teve uma mudança muito grande de grade, aí por 2010, se não me engano e aí você descobre que quando muda assim,repentinamente, um curso é quase como que criar um curso novo tanto que se vocês observarem, até hoje, no último ano do curso, lá no quarto ano as disciplinas do 4º ano são meio vazias ainda. Porque esses alunos, os novos, que entraram na nova grade, ainda não chegaram em número suficiente para lotar os quatro anos do curso. Eles ainda chegam aos poucos no final e isso que é o mesmo curso. Você imagine biotecnologia que tá começando o primeiro semestre agora, bota aí uns cinco ou seis anos só pra começar a ver que cara tem o curso. Talvez mais uns dois ou três ainda, se eles não mudarem a grade até lá, pra ela ficar realmente lotada, cheia de alunos mesmo. Então, o que que vai acontecer até lá? Provavelmente, sendo um curso novo, vai mudar bastante ainda. Eu acho que ele tem um viés de computação pequeno, então limita de certa forma nossa colaboração. Os créditos de computação deles são só seis, se não me engano. Por outro lado, tem todo um grupo de colegas aqui da área de Bioinformática. Eu imaginaria que tem uma interação forte com coisas que eles pretendem fazer no curso de biotecnologia também. Então é possível que, se não no curso de graduação, no nível de pesquisa talvez eles consigam colaborar primeiro.

Christian: A gente veio falando bastante de coordenação e como melhorar o curso de S.I. O que você acha que ainda poderia ser feito para melhorar ainda mais o curso?

Prof. Ivandré:Para melhorar o curso? Bom, tem uma coisa que me perturba há bastante tempo e que nós nunca encontramos uma solução real, efetiva porque isso esbarra em verba. Se a universidade não tem verba, não adianta ficar inventando soluções que exigem verba, mas eu ainda acho muito mal distribuído os recursos humanos, os nossos professores. Por quê? As turmas, especialmente de primeiro ano e de segundo, elas são muito mais lotadas que as outras. As turmas do noturno são muito mais lotadas que as da manhã. Então, existe assim: os alunos querem aula em certos horários e nós estamos oferecendo em outros horários que não são bem aqueles, é isso que acontece. Nós somos amarrados pelo fato de ter dois cursos a noite e um de manhã e outras questões mais, que passam até pela falta de sala de aula. É muito difícil mexer com isso, mas o ideal mesmo seria que todas as turmas tivessem aquele mesmo número médio, com vagas para todos os alunos que querem vagas, nenhum professor com 100 alunos em uma turma e nenhum professor com 15 alunos numa turma. E ainda acho isso bastante desequilibrado, mas é uma estrutura bastante rígida e é difícil mexer sem dinheiro.

Gabriel: Oi, professor, boa tarde! Meu nome é Gabriel. No nosso curso de SI é muito comum os alunos, ao longo da graduação, realizarem algum estágio. Eventualmente, isso pode prejudicar o desempenho acadêmico do aluno, pode ser que ele pegue alguma reprovação, mas, por outro lado, ele ganha experiência no mercado, tem uma visão melhor de como funciona e possivelmente já se insere na área do mercado. O senhor também passou por uma experiência assim em que durante seu curso realizou estágio. Como você vê o estágio na vida do estudante de graduação?

Prof. Ivandré:Ok, eu acho que ele deve fazer, se não estágio, talvez alguma coisa que tenha no finalzinho do curso, mas se você tem a curiosidade de saber como é, só há uma maneira de resolver isso. Você tem que ir lá, tem que experimentar, se não você vai ficar na dúvida. De repente aquilo era a oportunidade da sua vida ou de repente não, não era nada daquilo que você queria. De novo, só experimentando pra saber. Então, eu acho que deve ser feito. Também não adianta pensar “ah, mas eu tenho um perfil mais acadêmico então não vou nem trabalhar, vou só estudar, fazer iniciação científica desde o PET até o doutorado”. É bacana, é bonito quando isso acontece, mas o fato é de que esse mercado é restrito né? Se todos vocês aqui quisessem ser professores, por exemplo, não iria ter universidade para contratar todo mundo. Então, é bom, é natural que vocês vão para o mercado também porque a maioria das vagas está lá, a verdade é essa. A probabilidade de você se encaixar acaba sendo maior. No mais, é fazer o que você gosta.

Gabriel: Então, pro aluno também seria bom experimentar um pouco dos dois? Talvez ter alguma experiência dentro do curso e fora?

Prof. Ivandré:Eu acho que sim. Acontece muito, meus alunos de iniciação científica começam, lá na metade do projeto, “Eu tava pensando em fazer um estagio ano que vem”, vai, eu já despacho eles imediatamente, às vezes eles vão fazem o estágio, um semestre depois, dois semestres depois eles estão de volta, mas aí tirou a dúvida. Já resolveram o problema do estágio, sabem como é que é.

Gabriel: Você comentou do perfil da pessoa tiver pode ter mais gosto pelo mercado ou área acadêmica, em relação à grade do curso o curso de sistema de informação você acha que ele está mais voltado para o mercado, se ele está mais voltado para área acadêmica ou ele bem dividido assim, direcionado pros os dois.

Prof. Ivandré: Acho que está muito bem dividido mesmo, por dois motivos. Primeiro: o mercado ele valida essa opinião e você não precisa acreditar na minha – é só ver a quantidade de alunos que nós temos trabalhando de modo geral e a rapidez com que eles conseguem vagas. Então não é um curso que tem problemas de empregabilidade. Claro que tem aqueles casos que são mais difíceis, sei lá se você é muito tímido, não sabe se portar na entrevista, são coisas que a gente tem que aprender na vida também, mas vai sair mais cedo ou mais tarde, você consegue seu estágio, todo mundo consegue. Assim da parte de mercado não tem dúvida nenhuma e por outro lado se você olhar a grade você vai ver que não é um curso de sistemas de informação normal é do tipo que talvez o professor Eler quisesse que fosse, por que foi criado é por motivos assim histórico é com um viés de computação e de exatas muito maior do que seria necessário para um curso de SI. Não sei se você tá lá pelas tantas pensando por que eu tenho que estudar cálculo para fazer o curso de SI é por isso um mesmo é por trás dessas disciplinas aí para lhe dar essa formação mais sólida e técnica e de exatas, que deixa SI mais próximo de um curso de ciência.

Gabriel: Acho que a gente pode ver isso, de certa forma, em um curso próximo que é o curso de Sistemas da Informação que tem em São Carlos, ele é bem diferente, eu acho ele bem diferente do nosso.

Prof. Ivandré: Ele é mais aquele estilo informática e na área de sistemas aplicados

Jeferson: Olá eu sou o Jeferson. Não vai nem precisar virar agora, antes de eu começar quer uma aguinha?

Prof. Ivandré: Não, Obrigado.

Jeferson: Já tá falando há uma hora quase, tá tranquilo? Vamo lá, aproveitando toda sua vasta experiência no exterior e na indústria, a gente queria saber é um pouco da sua opinião sobre o atual cenário da área de TI, tanto no âmbito acadêmico como profissional, aqui no Brasil em comparativo com o exterior?

Prof. Ivandré: Você fala em termos de oportunidades?

Jeferson: Oportunidades, como o mercado está se comportando hoje em dia?

Prof. Ivandré: Então o que eu posso falar do mercado é o que eu recebo dos alunos, na verdade, é que são os alunos que vêm até a gente perguntar coisa, então a minha visão do mercado eu não sei se é a mesma que eu teria se eu tivesse lá dentro trabalhando. O que eu vejo é o seguinte – cada vez mais internacional, então aquela história de que você tem que aprender inglês não é brincadeira mesmo, qualquer emprego modesto por aí eles já querem no mínimo isso que você tem que conversar com o colaborador lá na Índia ou não sei de onde. Então isso é muito normal e muito recorrente esse tipo de coisa, e trabalhando muito de forma remota. No meu tempo não era assim, sou do tempo que eu ia todo dia pro trabalho e ficava o dia inteiro lá e voltava. Hoje em dia eu vejo que vocês não necessariamente vão mais para escritório, para lugares – trabalham remotamente com colaboração com startups, com empresas do exterior muito por aí e muita inteligência artificial, inclusive a ONU vem procurar em querer parcerias e fazer mestrado em coisa tipo, como que para aprender métodos de inteligência artificial de processamento de textos, reconhecimento de imagens dessas coisas todas. Sinto que é diferente do sistema de informação, por exemplo, de quando estudei na minha graduação, que era aquele o sistema de contabilidade, o sistema de vendas, essas eram as coisas que a gente desenvolvia – e não é isso que as empresas estão buscando hoje. Essas coisas já estão prontas, pacotes estão todos aí pra isso, então não sei isso responde a sua pergunta.

Jeferson: Pensando assim mais na área acadêmica, mesmo mestrado e doutorado, mercado de TI em comparação com as universidades do exterior mesmo.

Prof. Ivandré: Eu tenho a impressão de que o mestrado é nova graduação. Depende do que você está procurando, claro, você pode estar satisfeito em fazer sua graduação aqui e pegar um emprego razoavelmente bem remunerado e ficar ali naquela empresa por dez, vinte anos naquela posição “estável”. Mas há um perfil de alunos aqui dentro que, a gente claro tem que trabalhar muito por todos eles, mas assim esses que estão mais na ponta a gente não pode coibir, não pode botar limite. Tem um perfil de aluno aqui que é muito avançado, que são aqueles que estão procurando as vagas nas multinacionais, nas melhores posições que tem por aí, então pra esses alunos assim você tem que oferecer tudo possível. Para essas posições mais elevadas provavelmente uma graduação já não é suficiente porque a concorrência é muito grande, você vai lá você pode ser o número um do curso e está concorrendo com cara que já fez mestrado na USP São Carlos e outro que fez doutorado na poli, então eu vão olhar o seu currículo e vão pensar “não, você fica pra depois”.  Então, pra essas posições mais avançadas, eu vejo que está virando um padrão fazer um mestrado mesmo que você não queira ser um pesquisador numa universidade, não é pra isso mesmo, é para ter um diferencial.

Jeferson: Obrigado.

Gabriel: Professor, aproveitando que a gente está falando de estágio e do cenário de T.I no exterior, queria saber se seria possível estagiar no exterior, seja remotamente ou não? Acho que isso seria um pouco difícil por conta das disciplinas que o aluno tem que cursar durante a graduação, talvez se ele estivesse livre de disciplinas obrigatórias e pudesse ir para exterior, enfim, isso acontece com bolsa, como isso seria possível?

Prof. Ivandré: Eu acho que não no sentido exato do termo, por que o estágio legalmente significa uma coisa bem específica que é você ganha uma bolsa em colaboração com uma empresa nacional que por causa disso não paga impostos, isso tem um monte de coisa. Se aquele estágio valeria para você ganhar créditos no curso eu acho que não, mas não tenho certeza. Agora nada impede você fazer um estágio e trancar um semestre aqui, por exemplo, se surgir uma boa oportunidade.

Gabriel: Mas por experiência, por exemplo?

Prof. Ivandré: Por experiência, enfim existe uma série de motivos para você querer fazer um estágio. Agora, se você vai conseguir validar ele aqui como quatro créditos depois? Isso eu acho que não, se não me engano teria que ter um convênio prévio e é extremamente complicado.  Até a burocracia andar aqui você já voltou desse estágio.

Gabriel: Então aqui no Brasil o estágio é diferente ou algo assim?

Prof. Ivandré: O próprio conceito de estágio aqui é diferente, ele tem uma definição legal bem específica, bem jurídica, aqui no Brasil e não necessariamente é compatível. Agora, dito isso, eu lembro que eu tive um aluno, em São Carlos ainda, que fez um estágio no exterior e foi o primeiro caso na história da USP São Carlos em que se conseguiu validar, mas isso tem uns 10 anos.

Gabriel: Tenho um colega meu de São Carlos, mas da UFSCAR, que terminou engenharia da computação e tinha conseguido um estágio no exterior, mas foi num período em que ele estava com algumas DPs, então tinham pouca disciplinas para cursar, e ele fez justamente o que o senhor falou, trancou um semestre e foi pra fora estagiar, e quando voltou ainda conseguiu validar, não sei como.

Prof. Ivandré: Então, depende de como é que são as regras da disciplina, o que que pode e como é que será avaliado. Agora, com você falando de trabalho remoto me lembrei de outro caso. Tem um aluno que fez mestrado conosco e ele tem um emprego, não é um estágio, um emprego mesmo na Holanda. No momento ele está no Brasil, trabalhando remotamente e aí uma vez por ano ele viaja para lá para cumprir alguns requisitos presenciais. Modernamente tem muito disso, especialmente na área de TI, você não precisa estar lá, claro que parte do atrativo é esse né? Não sei se você quer ficar em São Paulo mas pode arrumar um emprego aqui também. Depende muito do que você quer né, mas hoje em dia tem tanta flexibilidade.

Gabriel: Talvez fazer essa parte de remoto durante um tempo… E depois, se surgir uma oportunidade, ir para lá.

Prof. Ivandré:Ou que tal se formar primeiro e aí depois você é livre pra fazer o que você quiser? [risos]

Yvan: É, eu sou Yvan. Olá.

Prof. Ivandré:Olá.

Yvan: Pensando na área da computação, você vê alguma mudança de paradigma ocorrendo na área? Algo que mude a forma de como se pensa na área da computação? Como por exemplo, no passado eram feitos mais programas de estoques, e agora é mais na inteligência artificial.

Prof. Ivandré:Talvez né, se a gente acreditar o que os jornais e as revistas estão falando? Mas, hmm, seria a automação, né? Nós realmente estamos em uma fase de automação extrema. Que aquelas atividades que a gente, eu, jamais imaginaria que seria automatizadas estão desaparecendo e a gente vê isso muito claramente quando vai para o exterior. Você vai para um país mais desenvolvido e muitas coisas que não existem mais, por exemplo: você vai em um consultório médico e não necessariamente tem uma secretária, uma pessoa para te atender. É uma máquina, como um caixa eletrônico. Em que você aperta um botão, e “a sua consulta é daqui 15 minutos, por favor aguarde”, e aí no horário abre a porta lá e você entra. Não precisa daquela pessoa ali. Então é um sistema, nem muito inteligente, que substitui essa função. E outras tantas que você pode imaginar aí. Que mais que eu vi, recentemente? Pagar coisas mesmo, assim: você vai em um hotel, vai pagar a conta do hotel, e não tem uma pessoa para receber o dinheiro. É uma máquina, você bota o dinheiro na máquina, paga a sua conta do hotel. O check-in do avião em Amsterdam: lá não tem mais também. É você que bota a mala dentro de uma coisa lá que parece um micro-ondas.

Profa. Sarajane:Ah, já to com medo! Minha mala? A minha mala, com as minhas coisas? Não tem ninguém passando a mão nela?

Prof. Ivandré:Não, então, é só você que passa a mão. E essa é a questão. Essas pessoas, essas posições todas, onde foram parar? Não tem mais gente trabalhando nessas profissões, né? Ao invés disso, o que têm? Tem alguém de TI que desenvolveu o sistema que faz aquilo. Então os empregos estão migrando. Essas tarefas mais manuais e outras nem tão manuais, por exemplo a de fazer reserva em um restaurante por telefone. Você pensa que está falando com uma pessoa e não tá. E aí entra inteligência artificial e diversas outras técnicas também. Eu acho que estamos vendo é a extinção de uma série de profissões. Inclusive professores.

Profa. Sarajane:E é uma coisa estranha, né? Por que ao atender o telefone, você espera uma pessoa e eu atendo ali, começo a conversar, resolver aquele problema e não é uma pessoa falando comigo. Como assim não é uma pessoa falando comigo? Bem, comum assim nem tanto, mas tem alguns helpdesks que são extremamente avançados, não?

Prof. Ivandré:E vai ser cada vez mais, né? E vai ser cada vez mais.

Victor:Eu já pedi desculpa para o atendente da Vivo que era… [risos]

Prof. Ivandré:Dá pra xingar eles também, essa que é a vantagem.

Profa. Sarajane:Gente, o atendente da NET ainda digita?

Jeferson:Digita, é horrível.

Profa. Sarajane:Pelo amor de Deus. Aquele eu não suporto. “Só um momentinho que eu vou inserir a informação no sistema”. [simula barulho de teclado]

Profa. Sarajane:Barulhinho, gente! Você não? Você não viu? Não queira. Você não ouviu isso?

Prof. Ivandré:Não, eu não sou usuário NET, mas é só um barulho?

Profa. Sarajane:É o barulho de alguém digitando, mas não tem ninguém digitando, é um sistema que gasta tempo na sua ligação, para poder humanizar a conversa. Por isso que existe esse tempo de digitar.

Marcelo: Tinha muita gente que desconfiava que eles não tavam… [risos]

Prof. Ivandré:Tem gente que não sabe e acha bom.

Profa. Sarajane:Aí não, ah. “Não vai digitar? Não ouvi você digitando”. [risos]

Yvan: Então, tendo em mente a sua área de pesquisa de processamento de língua natural, o que você acha da nova AI da Google, que é o Google Duplex, e que mudanças outras tecnologias como ela podem trazer para o mercado e para a área da computação em geral?

Prof. Ivandré:O Google Duplex é a aplicação de que estávamos falando agora?

Yvan: É.

Prof. Ivandré:Eu não sei até que ponto aquilo ali é escalável, eles mostraram um exemplo em que funciona, e funciona muito bem. Mas será que ele funciona para outros contextos?

Yvan: Então, pelo artigo da Google, só funciona no contexto de marcar consulta no cabeleireiro e em restaurante.

Prof. Ivandré:É, ok. Provaram um conceito, em primeiro lugar. Agora tem um desafio ainda a ser perseguido aí. Para conseguir fazer alguma coisa que converse de forma mais ou menos irrestrita ou independente de idioma. Já é um trabalho sensacional, né? Que tem aquele momento da conversa, em que ele está inclusive falando sobre outra coisa, e o sistema chega ao ponto de entender que não era esse, era o outro restaurante. Não lembro se era essa a situação, mas é uma situação razoavelmente difícil, que o sistema consegue dar voltas. Mas isso não é avaliação, por que, assim você escolher um exemplo perfeito não prova nada, eu teria muito interesse em saber, assim, qual é o caso médio desse sistema, né? O que acontece, assim, na média, no uso normal? O quanto ele erra, o quanto ele acerta? Eu teria muito interesse em saber qual é o pior caso. O que pode realmente dar errado? O que o sistema pode dizer de errado? Como aquele assistente da Amazon que acende luz da casa, às vezes ela sai comprando coisas pela internet por exemplo.

Profa. Sarajane:É compulsivo. [risos]

Prof. Ivandré:Então tem um pior caso muito pouco sutil. É claro, não é interesse da empresa comercial, eles não vão falar sobre isso. Eles tão vendendo um produto, vão falar das virtudes do produto. Então eu acho que tem bastante coisa a melhorar aí, mas é um primeiro passo. Não dá para negar que a coisa impressiona.

Yvan: E você acha que a sua área de processamento de língua natural vai ganhar no futuro um espaço maior no mercado?

Prof. Ivandré:Sim. Como é que eu ia dizer que não? Eu conversei com a Sara sobre isso um tempos atrás. Na verdade eu vivi para ver isso, né? Quando eu descobri que a área existia, que na graduação eu nem sabia que existia, eu me interessei e pensei: “Ah, é isso que eu quero estudar? É isso que eu quero fazer?”. Isso era numa época em que o processamento de língua natural era meio como um patinho feio da computação. As pessoas olhavam pra você, assim, meio com pena. [risos] Elas achavam que eu passava o dia inteiro mexendo com gramáticas e coisas assim. Não que tenha nada de errado com isso, mas o pessoal da computação vê desse jeito. E era uma comunidade muito pequena, tinha poucas pessoas trabalhando, e você tinha que estar com vontade, não tinha muito estímulo. Mas aí veio a web, a internet. Que era, e até hoje ela ainda é, predominante texto. E foi então que as pessoas descobriram: nós precisamos usar esse texto, precisamos ganhar dinheiro com isso, essencialmente. Então as aplicações surgiram, o interesse surgiu. E hoje, e isso é um feedback que eu recebo de alunos, esses que vêm aqui fazer mestrado mesmo, as empresas deles… Essas que vocês trabalham, as mais conhecidas aqui de São Paulo. Eles estão tirando…

Profa. Sarajane: Itaú.

Prof. Ivandré: É eu não ia dizer o nome. [risos] Eles estão desesperados atrás de pessoas que saibam mexer com isso. Porque eles querem ir na rede social do cliente para extrair informações, eles querem ler o e-mail do cliente ou os logs do call center, para descobrir quem é a pessoa, o que que a pessoa quer, sem pagar para ficar alí atendendo, e por aí vai. Então tem uma demanda enorme e eu acho que está só começando. Isso vai ficar muito… Muito maior.

Profa. Sarajane: O patinho feio virou um cisne.

Prof. Ivandré: É, então…

Gabriel: Bom, agora que o senhor está de… Saiu da coordenadoria do curso…

Prof. Ivandré:De férias.

Gabriel: De férias… Quais são seus planos de carreira para os próximos anos? Talvez explorar alguma nova área? Continuar na mesma pesquisa?

Prof. Ivandré: Bom, faz seis meses agora que acabou a coordenação, estou me recuperando ainda. [risos] Não, estou brincando. Na verdade eu já comecei. Vou ingressar agora, já fui admitido, eu vou começar de novo na comissão de pós-graduação do curso de Sistemas de Informação, PPGSI. Vou ser membro do colegiado, e ao que tudo indica ser o vice-coordenador também, até porque a chapa inscrita somos nós. [apontando para a Profa. Sarajane]

Profa. Sarajane:Ai o voto… Nossa vou votar em você.

Prof. Ivandré: É, então. Eu vou votar em mim. Então já posso dizer que eu serei o vice-coordenador da Pós-Graduação, com o objetivo de aprender realmente. Eu já estive nessa comissão há uns cinco anos, acho que desde o começo do programa. Ele era diferente, o programa cresceu, mudou e se tornou muito mais complexo, então não sei de fato como é que funciona mais. Então vou lá pra dar a minha participação, se possível, e para aprender como funciona. Esse é meu plano para os próximos dois anos agora, começando agora semana que vem.

Gabriel: Alguem tem mais alguma outra pergunta? Alguma dúvida? Alguma coisa sobre a área de IA, por exemplo?

Profa. Sarajane:A gente poderia ter uma aula de IA aqui. [risos] Não, tipo. To dando uma ideia.

Victor: No dia a dia, nas nossas tarefas, organização do que você tem que fazer ou em alguma outra coisa que não seja diretamente relacionado com o trabalho, talvez lazer, você costuma usar alguma aplicação que envolva inteligência artificial que não seja tão usual assim? Que não seja comum? Não como o Google Talk em que você conversa com Google, que não é alguma coisa comum. Algum problema em específico e diferente assim?

Prof. Ivandré: Não que eu saiba. Deve ter um pouquinho de IA em tudo hoje em dia. O próprio mecanismo de busca do Google pode-se dizer que partiu da IA. Não, não sei. Eu não jogo video-games modernos. Os antigos acho que não tinham IA. Eu tenho alguns emuladores de algumas coisas bem antigas. De aplicativo… Não sei se uso muito aplicativo. O UBER conta?

Victor:Acho que não. [risos] É bem comum. Mas algo que talvez… Algo que…

Profa. Sarajane: É bem comum. Deixa eu fazer uma observação só de curiosidade: É bem comum, o UBER. Quando eu fiz mestrado em noventa… E quando… Sete… Oito. A minha dissertação de mestrado era planejamento de rotas. Então em noventa e oito, criar uma rota automaticamente… [apontando para o petiano Victor] Você já tava planejado em noventa e oito? [risos] Já existia em noventa e oito? Já né.

Victor:Eu sou de noventa e cinco. [risos]

Profa. Sarajane: Nossa, ele nasceu em noventa e cinco. Já tinha três anos em noventa e oito. Não existia planejador de rota automático, então não existia essa ferramenta. Era academia… E isso em quantos anos?  Pouquíssimos anos. Evoluiu e hoje você tem o UBER, então… O UBER, o planejador da Google, qualquer GPS, qualquer um. Planejar rotas do jeito que se tem hoje, naquele período era um sonho.

Prof. Ivandré: Foi você que fez. [risos]

Profa. Sarajane:Não, eu publiquei um artigo. Agora não sei se alguém leu. [risos]

Victor: É que eu pensei assim, por ser um processamento de linguagem natural e em todo seu trabalho tem bastante coisa que precisa de texto, talvez algo que você já pesquisou, alguma ferramenta que você já conheceu… Você aplicava, talvez para corrigir prova, talvez para elaborar material… Algo que tornasse mais produtivo, alguma coisa assim?

Prof. Ivandré: Não. Tem software anti-plágio. Quando os alunos entregam o EP tem que passar um software anti-plágio pra pegar os códigos semelhantes, mas isso também não tem tanta inteligência envolvida. Eu não sou um grande usuário de computador, sabe? Eu sou um usuário bem comum. Leio email, vou lá na web, vejo notícias e coisas assim, mas eu não sou talvez não aquele nerd que você está imaginando. [risos]

Profa. Sarajane: Você não chega na sua casa e fala “Luz!”. [risos]

Prof. Ivandré:Não, jamais terei uma coisa dessas, na verdade.

Profa. Sarajane: Você não usa um microchip.

Prof. Ivandré: Eu sou até um pouco anti-tecnologia, em certo sentido, por exemplo, eu faço questão de não ter internet no meu celular. Pra ter esses 40 minutos de casa até aqui. São 40 minutos que eu me obrigo a ficar off-line, não to lendo email, não to fazendo nada, por que eu acho muito viciante, assim, me incomoda um pouco ainda ver as pessoas aqui [simulando uso de celular], como todos vocês fazem, por toda parte. Eu não gosto disso, porque eu sou de uma geração mais antiga.

Silas: Ainda falando sobre possíveis situações exóticas, mas agora fugindo da parte de tecnologia, tanto no período que você tava como coordenador, como também como professor, teve alguma situação, assim, mais fora da curva, com alunos ou com professor, num geral?

Prof. Ivandré: Que possam ser relatadas? [risos]

Silas: Aí é com você.

Prof. Ivandré: Diante das câmeras. [risos]

Silas: Tudo vai passar por você aprovar primeiro, então…

Prof. Ivandré: Ah, não sei. Tem coisas que marcam, assim, por exemplo, uma que eu nunca vou esquecer: Teve uma aluna de Algoritmos e Estrutura de Dados, que ela foi muito mal na prova, ela veio lá na minha sala pra ver a prova, né. Ai conversamos, questão por questão, “Olha o problema aqui foi esse, nessa questão foi esse”. Depois de fazer tudo, terminou, Ok, tudo bem, ficou aquele silêncio, e ela começou a chorar. Derramou lágrimas, assim, ficou um tempo na minha sala, o que não é uma coisa legal, o que não deveria acontecer, né, mas acontece. Depois disso vi acontecer na sua sala [apontando para a Profa. Sarajane], a sala da Sara é na frente da minha e então pensei “Bom… Não é só comigo”.

Profa. Sarajane:Muito aluno chorando na minha sala por causa de estágio. Não é por causa de prova não. É por causa de estágio.

Silas: Como assim?

Profa. Sarajane:Porque ele queria fazer estágio e eu não assinava o estágio. Porque ele estava fora das regras da USP.

Prof. Ivandré:Então, essa é a parte dura do trabalho, né, assim, que você queria não precisar passar por isso.

Profa. Sarajane:E chora mesmo!

Prof. Ivandré:Não… De molhar o chão.

Profa. Sarajane:Você sabe que a pessoa precisa, que a pessoa quer. Não tem o que fazer.

Silas: E até algo cômico, talvez?

Profa. Sarajane:Gente ele tá querendo alguma coisa.

Silas: Não, eu só quero conhecer a história. [risos]

Prof. Ivandré: Bom, tem essa conversa. Eu não tenho nenhuma piada, nenhum caso especial específico pra contar, é mais a conversa que existe entre os professores. Assim, de muitos anos a gente tem essa conversa. De algum dia juntar todos os e-mails dos alunos e escrever um livro [risos]. Por que tem coisas inacreditáveis, as coisas que os alunos escrevem nos e-mails. Tanto pro bem quanto pro mal. Coisas muito engraçadas realmente. Mas é, tinha um episódio cômico, eu lembro… Pra quem não sabe, envolve vocês de certa forma, uma vez nós estávamos coletando dados de e-mails de alunos, que era uma ideia para uma aplicação com processamento de língua natural, realmente era interpretar e responder automaticamente os e-mails, não me lembro o que era.

Profa. Sarajane:A gente tem que responder automaticamente o e-mail de todos vocês. [risos]

Prof. Ivandré:É, mas a gente nunca prosseguiu com essa ideia. [risos] Foi só uma coleta de dados mesmo, chegamos a juntar os e-mails. E aí enquanto estávamos analisando aqueles dados, pra ver se dava pra trabalhar, o que fazer com aquilo, apareciam coisas muito engraçadas. Então eu lembro de um, que era um aluno da Sara, que ele tava atrasado com o TCC e tinha que entregar, não sei como é que foi, e ele botou por baixo da porta da Sara. Isso tudo relatado no e-mail. Nele dizia que a Sara não tava lá, não encontrou, então o aluno botou o TCC debaixo da porta, aí veio a moça da limpeza para limpar e passou aquele rodo, molhando o trabalho e estragando o TCC, aí a Sara não aceitou, não sei como é que foi. Mas era um e-mail enorme contando esse drama. A gente riu muito por causa disso. [risos] Aquele foi especial.

Silas: Eu acho que pra ele não foi tão cômico. [risos]

Prof. Ivandré:É… Assim, como episódio.

Christian: Acho que a gente já perguntou uma vez pra Sara. A Sara até já falou já. Uma coisa que incomoda muito ela é falar durante a aula.

Profa. Sarajane:Jesus Cristo!

Christian:Sim, você já falou. [risos] Tem alguma coisa que te incomoda muito mesmo durante a aula?

Prof. Ivandré: É raro, viu? Eu sou famoso pela minha paciência, é difícil me tirar do sério, mas tem vezes, não em todas os semestres, um pequeno grupo, 3 pessoas, 4 pessoas que ficam conversando. Tipicamente eles sentam bem lá no fundo e a acústica dessas salas, você pensa assim que você pode falar lá no fundo eu não to escutando, a gente escuta tudo aqui na frente. Tudo! A tal ponto que eu to falando aqui e eu tenho que parar por que eu não consigo, é as duas coisas ao mesmo tempo. Então isso incomoda, realmente incomoda muito. [apontando para o petiano Christian] Na sua turma esse semestre tem um grupo assim [risos].

Christian:Eu percebo.

Prof. Ivandré:  É porque acaba incomodando você também. Ele já se separou um pouco, não está mais tão ruim quanto no começo do semestre, mas quase que eu cheguei no ponto de “Pessoal tem que parar “. Aí você pede… Acho que no começo do semestre eu até pedi uma vez e eles param, 1 minuto depois começam de novo. Uma vez aconteceu, anos atrás, que eu tive que separar fisicamente meninos lá do primeiro ano. Chegou num ponto que “Não, fulano vai sentar lá, você vai sentar lá “.

Profa. Sarajane:Eu já fiz isso também.

Prof. Ivandré:  É eu já fiz.

Christian:Marcelo também. [risos]

Prof. Ivandré:  Mas no mais não, nada me incomoda. você quer dormir, abaixar ali, você está ali jogando seu jogo.

Profa. Sarajane: O que me incomoda? [risos]

Christian:Tinha mais alguma coisa que você tinha falado. Além de alunos conversando durante a aula.

Profa. Sarajane: Tem uma outra coisa que me incomoda.

Jeferson:Ficar entrando e saindo.

Profa. Sarajane: Não, o que mais me incomoda é o aluno que chega atrasado, à aula já começou e ele entra cumprimentando os amigos. [risos]. Eu não entendo isso.

Christian:Tinha falado de pessoas mexendo no Facebook durante a aula.

Silas: Te mostrado assim.

Profa. Sarajane:Não, eu não ligo, pode mexer, só que é poker face. Se ficar expressões faciais… [risos] Ou de tristeza ou de alegria, me tira a atenção. Ai eu não gosto… Tem que fazer poker face.

Prof. Ivandré:  Ela não olha pra eles. Eu não fico olhando pra eles. [risos]

Profa. Sarajane:Mas chama atenção. Não adianta… Tem que fazer poker face. [risos] Tudo que é errado… Se alguma pessoa vai fazer alguma coisa errada tem que ser transparente, não pode chamar atenção. Quer fazer errado, vai chamar atenção para o que vai fazer?

Gabriel: Bom professor, pra finalizar, considerando toda sua experiência na área da computação e como professor…

Prof. Ivandré:Tá me chamando de velho… [risos]

Gabriel: E na coordenação do curso, que dica você daria, para as pessoas que estão iniciando na área, buscando seguir a carreira de computação, aqueles que estão iniciando um curso de graduação e aqueles que já estão se formando e buscando espaço, tanto na área acadêmica quanto na…

Prof. Ivandré: Estudar inglês. Mas assim, de verdade, não aquele cursinho que você vai lá porque é obrigado a ir, você tem que está afim de aprender mesmo. Eu acho que o inglês é mais importante do que as linguagens de programação que você coloca no currículo e tudo mais, porque essas aí vão mudar, daqui em um ano ou dois, seja o tempo que for, você vai ter que estudar tudo de novo. Agora o inglês ele te ajuda na profissão e na sua vida pessoal, então essa é a primeira coisa. O que mais?

Gabriel: Não sei… [risos]

Prof. Ivandré:É que são coisas diferentes também. Pra quem tá começando e para quem está se formando, não sei se dá pra dar um conselho geral para todos. Você fala de pessoas que ainda estão considerando vir pra universidade ou quem está no primeiro ano?

Gabriel: Acho que das três situações, quem está pensando em entrar, quem está no começo e…

Prof. Ivandré: Vamos por partes então. Pra quem está pensando em entrar: venha! [risos] Só isso. Para aqueles que estão começando agora: planejar um pouco melhor os seus estudos, entender que aquela grade foi feita pra ser seguida, adiar o máximo o possível o estágio, não faça estágio. Acho que agora pode no primeiro ano do curso, antes que não podia.

Gabriel: Pode.

Prof. Ivandré: Então… Você comentou antes, algum de vocês comentaram se o estágio pode atrapalhar o curso, e sempre atrapalha. Porque o dia tem 24 horas, antes você tinha 8 horas pra dormir e 16 para estudar, [risos] agora você tirou mais uma fatia de 8 horas que você não está estudando, você está cuidando de outros aspectos da sua vida. Então invariavelmente o estudo vai sofrer. Agora, vai sofrer quanto? Para muitas pessoas é um sofrimento, assim que abaixa um pouquinho a nota, aqui ou ali, perde um pouco de sono no fim de semana, mas dá para levar. Agora têm outros que precisavam estar estudando mais, por qualquer motivo, principalmente aqueles com uma formação prévia mais fraca do ensino médio, fundamental, precisam estudar mais matemática, cálculo, seja lá o que for. Aí você coloca o estágio no meio e pronto. Então, podendo adiar esse estágio por mais um semestre, por mais um ano, é útil. E para quem já se formou, não esqueçam da gente, voltem venham fazer mestrado aqui depois.

Profa. Sarajane:Não esqueçam de nós se ficarem ricos. [risos]

Prof. Ivandré: É, especialmente.

Profa. Sarajane:Venham financiar aí um laboratório.

Prof. Ivandré: Pagar bolsa para outros alunos. Isso aí. [risos] Doações.

Profa. Sarajane:Pessoal do direito faz muito isso. Pessoal do computação não faz muito não.

Prof. Ivandré: Queremos vê-los nas páginas do jornal, mas não na coluna policial. [risos] Nos grandes negócios.

Gabriel: Bom, no mais acho que é isso, professor. Agradeço muito a sua presença e pela conversa. E acredito que o Victor tenha alguma coisa pra falar ou entregar, talvez. [risos]

Profa. Sarajane:É… Se ele não tinha, ele tem agora

Victor:É… Uma mostra de agradecimento… [risos] Onde eu estava?

Silas: [para o Prof. Ivandré] Finge que você não tá vendo. Chama ele, Dantas.

Victor:Por tudo… Por toda a dedicação que o senhor teve durante esse período de coordenação e pelo… Também como professor e como profissional, nós do PET agradecemos aqui a sua presença no Café Filosófico.

Prof. Ivandré: Eu que agradeço.

[aplausos]