Entrevista com Prof. Paulo Freire Cunha – Presidente SBC

Entrevista com Prof. Paulo Freire Cunha – Presidente SBC

Nesta edição do Coruja Informa, nosso entrevistado é o Prof. Paulo Roberto Freire Cunha.

O Prof. Dr Paulo Roberto Freire Cunha é presidente da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e diretor do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco. O Prof. Paulo gentilmente nos concedeu uma entrevista, a qual segue abaixo, na íntegra.

Contudo, antes de apresentar a entrevista, gostaríamos de apresentar a SBC para aqueles que ainda não a conhecem. Segundo seu site oficial,

“ … a SBC é uma sociedade científica, sem fins lucrativos, que reúne pesquisadores, professores, estudantes e profissionais que atuam em pesquisa científica, educação e desenvolvimento tecnológico na área genérica de Computação. A SBC faz parte da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da International Federation for Information Processing (IFIP). A instituição também é sócia do Centro Latino-americano de Estudios en Informatica (CLEI) e afiliada à IEEE Computer Society. A instituição é regida por um estatuto e administrada por uma Diretoria. A Sociedade também possui um Conselho com funções deliberativas e normativas.”

Essa sociedade foi fundada há mais de 30 anos, e tem o objetivo de atuar nos campos educacionais, políticos e sócio-técnicos da área de Computação no Brasil, ajudando a promover a ciência na área de Computação, bem como defender os interesses da área no país.

Vale lembrar que a SBC está altamente envolvida com questões referentes à formação de qualidade para os profissionais da área e vem enveredando esforços para isso junto a cursos de Ciência da Computação, Sistemas de Informação, Engenharia da Computação, Licenciatura em Computação e outros mais que possuem alguma variação nas suas nomenclaturas.

Convidamos a todos a visitar o site oficial da SBC a fim de conhecer melhor esta instituição e dela passar a fazer parte. Mas só depois de ler os detalhes de nossa entrevista com o Prof. Paulo.

PET-SI: Primeiramente, gostaríamos de saber como o senhor chegou ao cargo de Presidente da SBC. Quais foram as suas motivações e como se preparou para assumi-lo?

Prof. Paulo: A minha trajetória na SBC começou em 1983 quando assumi o cargo de Segundo Secretário da SBC, o mesmo que corresponde atualmente à Diretoria de Educação, na gestão do Professor Luiz de Castro Martins. Em 1985, fui membro do conselho até 1987. Já no período de 1989 a 1991, atuei como Vice-Presidente, na gestão do Professor Clésio Saraiva dos Santos. Em 1993, no retorno do meu Pós-Doutorado na França, voltei a participar ativamente na Sociedade como Vice-Presidente, na gestão do Professor Ricardo Reis. De 1997 a 1999 ocupei o cargo de suplente no Conselho da SBC. Durante muitos anos também fiz parte do conselho editorial das publicações científicas da Sociedade, como o Journal of the Brazilian Computer Society até 2008. Também fui coordenador da comissão de Redes de Computadores e Sistemas Distribuídos e tenho atuado constantemente em comitês de programas e da organização de várias conferências e simpósios da SBC. Em 2011, fui eleito o novo presidente da Sociedade.
A minha maior motivação é a possibilidade de realizar um novo trabalho que me desafia como gestor. Além de professor de Computação, eu já fui pró-reitor de pesquisa e pós-graduação na UFPE por oito anos e atualmente estou no meu segundo mandato como diretor do Centro de Informática (CIn) da UFPE.

PET-SI: Dentre as ações que o senhor pretende implementar junto à SBC, o senhor destaca alguma delas? Por quê?

Prof. Paulo: A intenção da nossa equipe até 2013 é de atuar na proposição de políticas, cenários e mecanismos que propiciem a aceleração das nossas atividades e melhorem o nosso diálogo com a sociedade. Nós queremos tornar a SBC conhecida nacionalmente não só pelas sociedades científicas, mas também pela sociedade civil e pela imprensa nacional, para ser reconhecida como uma sociedade fundamental na definição e formulação de políticas ligadas à área de Computação. Vamos continuar investindo na formação de novos recursos humanos através da atração de jovens talentos. Queremos promover uma melhor interação com a indústria e outras áreas que necessitam de profissionais da Computação. Essa formação deve priorizar a qualidade neste setor, através de ações para fortalecer a capacitação da nossa mão-de-obra, com mecanismos de avaliações efetivas e de aprimoramento em todos os níveis de ensino, da graduação à pós-graduação em todas as regiões do Brasil. Desejamos que ensino da Computação seja estimulado desde o ensino fundamental, a exemplo de outras ciências como a Física, a Matemática, a Química e a Biologia. Também temos projetos nesta direção. Nós queremos melhorar o nosso diálogo com o setor produtivo, interagindo mais com as empresas e também com os profissionais da área. Vamos aumentar a organização de eventos internacionais no Brasil para aumentar nossa visibilidade no cenário internacional. Nós queremos continuar influenciado e ajudando ainda mais a consolidação da área de Computação em todo território nacional, contribuindo para o seu desenvolvimento científico e tecnológico.

PET-SI: Temos ouvido falar que a procura por cursos de graduação na área de Computação no país (relação candidato-vaga em vestibular) tem diminuído. A SBC possui algum estudo sobre esses números no país? Qual é a sua opinião sobre o futuro da área de Computação no Brasil (tanto no que diz respeito à área acadêmica, como à indústria e à relação entre academia e indústria)?

Prof. Paulo: Nós estamos enfrentando, em nível mundial, um desinteresse crescente dos estudantes pela área de Computação e essa realidade passa a ser uma das questões mais desafiadoras para a nossa gestão. Precisamos atrair novos alunos para este campo em franco crescimento tecnológico. Já estamos enfrentamos um déficit de capital humano muito grande no País nesta área. Também queremos aumentar a participação das mulheres e encontrar meios de motivar a classe feminina a ser mais participativa neste setor.

Nós acreditamos que a Computação é uma atividade meio, e que está presente na vida de todos nós. A tecnologia se propõe a resolver os problemas complexos da sociedade tornando o dia a dia mais fácil. Não é mais possível pensar no futuro sem pensar em tecnologia. Os acessos estão cada vez mais fáceis e com maior alcance, a Internet ficou mais popular e acessível e a necessidade do mercado atual exige habilidades com o uso da Computação. O mercado é muito promissor. A escassez de recursos humanos que já enfrentamos atualmente é uma prova das inúmeras possibilidades de trabalho, pesquisa e inovação que o profissional da Computação tem à disposição hoje. Os jovens precisam reconhecer essa oportunidade.

PET-SI: Como você avalia hoje a visibilidade da SBC no cenário nacional e internacional? E como você avalia a visibilidade, no cenário internacional, do profissional da área de Computação formado no Brasil?

Prof. Paulo: A SBC já é uma Sociedade consolidada em nossa área e já possui uma boa interação com outras sociedades como a Física, a Matemática e a Química, além da SBPC, IEEE, ACM e IFIP. No entanto, podemos nos mostrar mais. Uma das nossas propostas de trabalho é tornar a SBC mais conhecida nacionalmente e internacionalmente, através do reconhecimento por meio da mídia e dos nossos eventos com uma maior participação internacional.

O número de brasileiros que estão trabalhando nas multinacionais de TI como a Microsoft, o Google, o Facebook, a Nokia, a IBM, a Motorola, entre outras é bastante significativo. Fora isso, temos o reconhecimento do Guia do Estudante com cinco estrelas em vários cursos de graduação em TI do país. Nosso diferencial é uma formação multidisciplinar que também interessa a vários alunos de outras formações. Já colecionamos algumas conquistas nacionais e internacionais em competições como a Maratona de Programação, a Olimpíada de Informática e a Imagine Cup, mais conhecida como Copa do Mundo da Computação. Essa é uma forma de reconhecimento da nossa área.

PET-SI: Nós gostaríamos de realizar um trabalho, junto aos alunos de graduação de nosso curso, de promoção da SBC, de suas atividades e eventos associados. O que você nos aconselharia a fazer? Que tipo de atividade? A SBC poderia nos suportar nestas atividades de alguma maneira?

Prof. Paulo: A participação dos estudantes é fundamental para o crescimento e fortalecimento da nossa Sociedade. Nossa intenção é atrair jovens talentos para motivar uma maior interação com a academia e a indústria e outras áreas que necessitam de profissionais da Computação.

Nós temos as escolas regionais na SBC que são responsáveis pela divulgação e fortalecimento da SBC nos cursos da área de TIC em todo país. Eu aconselho que vocês entrem em contato com o representante regional de sua cidade ou de suas instituições e nos ajudem a identificar que tipo de apoio nós podemos dar aos cursos de graduação, além do que já oferecemos.

Qualquer aluno dos cursos de TIC no país já pode se associar a SBC. Ser sócio da SBC possibilita uma maior integração à comunidade nacional, a ampliação dos contatos profissionais, maior visibilidade e possibilidade de intercâmbio, a participação nas nossas redes de relacionamento em nível nacional, treinamento e educação continuada, além da contribuição e valorização profissional da Computação. Fora isso, a Sociedade também oferece uma publicação mensal da revista Computação Brasil, o recebimento de alguns jornal como o Journal of the Brazilian ComputerSociety – JBCS (para sócios efetivos e assinantes institucionais), desconto em todos os eventos promovidos pela SBC, desconto nos livros de editoras conveniadas à SBC, desconto na inscrição do POSCOMP e a participação nas listas de discussões das comissões especiais (são 24 comissões relativas às 24 áreas específicas da Computação).

PET-SI: Entendemos que a maioria dos eventos da SBC é de maior interesse de alunos de pós-graduação do que de graduação. Você concorda com isso? Como você avalia a participação de estudantes de graduação nos eventos da SBC? Você tem alguma sugestão de estratégia para motivar os alunos de graduação a participar de eventos como o CBSoft, por exemplo?

Prof. Paulo: Nosso interesse é igual para os alunos de pós-graduação como para os alunos de graduação. Temos publicações e eventos que buscam os dois segmentos. As escolas regionais existem como interface entre a sociedade e os cursos de graduação de TIC.
A minha estratégia de motivação para uma maior participação de alunos graduandos é ouvi-los mais, saber o que desejam da Sociedade, entender essas necessidades e tentar solucionar, talvez, com novas ações da SBC. Esse diálogo é feito através das secretarias regionais e representantes institucionais nas universidades.

PET-SI: E quanto às publicações da SBC, como REIC ou SBC Horizontes. REIC é uma revista de iniciação científica, então fica um pouco mais claro quais são os alunos que podem enviar trabalhos/contribuições. Mas e quanto à SBC Horizontes? Contribuições de alunos de graduação são pertinentes? O que você indicaria para motivar os alunos a contribuir com a revista?

Prof. Paulo: A Revista SBC Horizontes é de responsabilidade da professora Mirella Moro, diretora de educação da SBC. A revista é feita especialmente para mostrar aos jovens os benefícios da área de Computação na vida profissional e consequentemente atrair novos talentos. Colaborações são sempre pertinentes, mas precisamos adotar alguns critérios para algumas das nossas atividades. Esses critérios foram definidos pela professora Mirella e periodicamente são lançados editais que buscam contribuições em áreas específicas de interesse da Computação. No entanto, acredito que a nossa Sociedade está aberta para sugestões, colaborações e críticas. Publicações de artigos científicos importantes para a área é uma grande motivação para nossa Sociedade que deseja ter pesquisas brasileiras de relevância nacional e internacional.

PET-SI: Existem vários grupos PET na área de Computação no país. Nós temos conhecimento de pelo menos 21 grupos (temos uma lista em https://www.each.usp.br/petsi/index.php/links/). Nós estivemos discutindo aqui em nosso grupo se não seria interessante termos algum tipo de ligação/parceria formal entre a SBC e esse conjunto de grupos PET, a fim de promover/realizar atividades voltadas para a graduação em Computação. Você acha que isso seria possível? Qual seria o “caminho das pedras” dentro da SBC para iniciarmos um trabalho conjunto?

Prof. Paulo: Sim. Acho possível e uma ótima ideia. Mais uma vez eu volto ao trabalho e envolvimento com as escolas regionais como meio de fortalecimento da nossa Sociedade e oportunidade de mudanças também na graduação.
Um outro caminho seria similar ao trabalho que a diretoria de Educação realiza com os programas de iniciação científica no país. Poderíamos junto à professora Mirella Moro, diretoria de educação, abrir um fórum ou espaço para divulgar, estruturar e fortalecer os grupos PET na área de Computação na SBC Horizontes, por exemplo.

PET-SI: Você fez seu doutorado e pós-doutorado no exterior. Em sua opinião, quais são as principais vantagens de ter experiências como essa? E, se houver também desvantagens, quais seriam? Em qual momento da vida acadêmica você acha que é ideal para dedicar esforços para uma formação internacional? Por exemplo, na graduação podemos fazer intercâmbios dentro dos programas de mobilidade acadêmica, mas, em sua opinião, deveríamos, por exemplo, atrasar nossa data de formatura para colocar essa experiência em nosso currículo? Ou, um mestrado ou doutorado é mais interessante se feito totalmente fora do país? Ou dentro do país, mas com algum estágio fora?

Prof. Paulo: O maior benefício para quem opta por estudar fora do país são as possibilidades de trocas, que não são somente as científicas, o conhecimento em outra Universidade. A vivência de outra cultura, o aprendizado de outros idiomas e a possibilidade de se relacionar com pessoas de todo o mundo que compartilham de interesses em comum são outros ganhos dessa experiência. Este tipo de experiência pode e deve ser realizado cada vez mais cedo em função do atual processo de globalização
Recentemente foi lançado pelo governo Federal o Programa Ciência sem Fronteiras, uma excelente oportunidade para os alunos brasileiros vivenciarem uma experiência fora do País.

PET-SI: E sobre os movimentos que estimulam a inserção das mulheres na área de Computação? Como a SBC tem trabalhado neste sentido? Existe alguma política para estímulo às alunas de ensino médio, por exemplo? A SBC possui alguma pesquisa quantitativa sobre esse assunto?

Prof. Paulo: A SBC já possui um fórum de discussão no Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC), o WIT Women in Information Technology, uma ação bastante ativa que trata da participação das mulheres na área da Computação.
Atualmente, as mulheres têm assumido um perfil e um gênero similar aos das engenharias em todo mundo, mas estamos trabalhando iniciativas de valorização e incentivos à participação feminina na Computação, principalmente nas necessidades identificadas neste evento do CSBC. É a partir dele que a Sociedade já conseguiu definir algumas ações implementadas nas atividades diárias da SBC.