A biotecnologia e sua influência na vida dos seres humanos

A biotecnologia e sua influência na vida dos seres humanos

Átila Ferrari

Vivian Mayumi Yamassaki Pereira


Certos domínios do conhecimento existem há séculos, como a Matemática, Astronomia, etc.; outros, como a Computação, tem seu desenvolvimento oriundo de épocas mais recentes. A questão, entretanto, é que as grandes descobertas da história são baseadas na junção de duas ou mais dessas grandes áreas. Uma dessas junções criou a área conhecida hoje como Biotecnologia.

Uma das possíveis definições para Biotecnologia é: “qualquer aplicação tecnológica que faça o uso de conhecimentos sobre os processos biológicos e sobre as propriedades dos seres vivos, com o fim de resolver problemas e criar produtos de utilidade.” (Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU). Em outras palavras, estudos e desenvolvimentos nessa área usam os conhecimentos existentes na biologia, unidos ao aspecto tecnológico, para criar novos produtos e serviços, como plantas transgênicas, clonagem, desenvolvimento de vacinas, criação de órgãos artificiais e implantes, entre inúmeras outros.

 

Durante a Campus Party Brasil 2013 foi possível saber mais sobre o assunto através de palestras como a de “Biologia Sintética: Hackeando organismos vivos”, ministrada pelo Prof. Dr. Carlos Hotta, professor da USP e pelo Dr. Mateus Schreiner Garcez Lopes, e na qual foi apresentada uma breve explicação sobre a Biologia Sintética, uma das muitas vertentes da Biotecnologia. Para explicá-la, o palestrante fez uma analogia com à programação de computadores. Da fala do palestrante, entedemos que assim como nós, estudantes de Sistemas de Informação, que escrevemos linhas de código para criar programas, na Biologia Sintética “programa-se” organismos vivos por meio da modificação do código genético.

Na palestra foram mostrados também alguns exemplos de pesquisas sobre como a Biologia Sintética pode trazer benefícios aos seres humanos: modificar células de peixe de modo que seja possível fazer fotossíntese e, assim não seria necessário alimentá-los, diminuindo os gastos para a piscicultura; modificar as células de um indivíduo já infectado com o vírus HIV, impedindo que a doença se desenvolva; e alterar a genética de fungos para que estes consigam identificar se bebidas alcoólicas estão “adulteradas” (se estão com maior teor alcoólico que o indicado).

Além disso, estava presente na Campus Party um grupo formado por estudantes da USP, denominado “SynbioBrasil”, que se reúne periodicamente para discutir sobre o assunto e pensar em novos projetos. O site do grupo [1] é o primeiro especializado em Biologia Sintética no país.

Ainda durante o evento ocorreu a palestra “Biohacking e Transhumanismo” apresentada por Prof. Dr. Luli Radfahrer, doutor em Comunicação Digital pela ECA-USP, onde atualmente é professor. Nela foram mostradas perspectivas fascinantes de como os avanços nessas áreas podem revolucionar o modo como vivemos, como por exemplo, hardwares e softwares que se ajustam conforme o uso (humor, preferências, hábitos); smartphones que reconhecem emoções; entre outros.

Hoje sabemos que temos a capacidade e o costume de manipular informações (fotos, vídeos, textos, etc) graças a ferramentas como celulares, computadores e tablets que hoje estão consolidados e difundidos. Agora, imagine utilizar esse poder de controle ampliado para a criação de produtos e inovações que poderiam beneficiar as nossas vidas em diversos aspectos: iogurtes antidepressivos, novas espécies de animais, bactérias luminescentes, etc. As possibilidades de criação de novas ferramentas que nos beneficiem e façam o uso desses dispositivos só se limitam à nossa imaginação. E é este o patamar previsto para o futuro e que foi mostrado na palestra.

Contudo, é importante lembrar que junto à toda esta capacidade, está uma enorme responsabilidade. Por mais incríveis que possam ser os produtos criados com uma finalidade positiva, existe a possibilidade do desenvolvimento de técnicas nocivas como armas biológicas, por exemplo. Por esse motivo, deve haver transparência nos estudos e respeito das restrições criadas pelos órgãos fiscalizadores. Em ambas as palestras, discutiu-se sobre os perigos que podem surgir caso a biotecnologia seja usada com más intenções.

Para evitar que isso ocorra, algumas medidas têm sido tomadas. Como por exemplo, podemos citar a inserção de disciplinas de moral e ética nos cursos de Biologia Sintética ministrados nos Estados Unidos e na Europa, locais em que há maior número de pesquisas sendo desenvolvidas nessa área, com o intuito de proporcionar aos alunos um contato com esses valores e fazer com que os incorpore nos projetos que forem desenvolver. Há também Comissões de Ética que fazem a análise dos projetos para verificar se os mesmos não são mal intencionados.

A Biotecnologia é uma área que já nos trouxe muitos benefícios e agora com o poder que os Sistemas de Informação estão trazendo para a manipulação da informação, um mundo novo surge diante de nós. Provavelmente, a grande questão que precisa ser tratada agora é como fazer com que a ética e a moral, sejam estabelecidos e aplicados a fim de evitar que esta vertente de pesquisa que pode beneficiar tanto o ser humano, também venha a prejudicá-lo.

 


[1] SynbioBrasil. Disponível em <http://synbiobrasil.org>.