Consumir? Não. Colaborar!

Consumir? Não. Colaborar!

Um novo modelo econômico que surgiu nos últimos anos está cada vez mais presente em nossa sociedade: a economia colaborativa ou compartilhada. Descubra nessa matéria mais informações sobre este modelo econômico, seus impactos e previsões sobre qual será o modelo econômico do futuro.

Henrique Silva Bortoletti, Miguel Felipe Silva Vasconcelos

Objetos que não utilizamos podem ser úteis para outras pessoas, esse é um dos pilares da economia colaborativa

A cooperação humana nas mais diversas áreas do conhecimento sempre teve papel fundamental para o desenvolvimento da sociedade. Juntos conseguimos desenvolver tecnologias que não só facilitaram nossas vidas, mas também transformaram a forma com que as pessoas percebem o mundo. A internet é um ótimo exemplo dessa cooperação, visto que se, quando da sua criação, ela não tivesse sido aberta para colaborações em nível global, provavelmente, o mundo em que viveríamos seria completamente diferente.

Essa revolução tecnológica, fez com que alguns conceitos estabelecidos por séculos tivessem que passar por uma adaptação. Um desses conceitos é a forma com que compramos e vendemos. Logo, podemos dizer que “as tecnologias de informação e comunicação constituem fontes relevantes de aumento de produtividade para todos os setores da economia, como tem sido destacado por órgãos econômicos mundiais importantes, como a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico” [1].

Nesse contexto surge um novo modelo econômico, a economia colaborativa ou compartilhada, que vem crescendo nos últimos anos. Segundo a Forbes, esse tipo de economia movimentou só em 2013 o equivalente a 3,5 bilhões de dólares.

Esse modelo econômico nos apresenta um novo modo de consumo, que se baseia no compartilhamento de serviços e bens materiais. Negociar produtos usados pela internet, dividir as despesas de um apartamento com outras pessoas, trocar o hotel por uma hospedagem residencial, pegar uma carona para ir ao trabalho, são apenas alguns exemplos de economia colaborativa.

Para entendermos melhor a economia colaborativa, precisamos olhar para as suas três vertentes:

  1. Redistribuição de bens: baseia-se na troca de bens usados, Implicando na ideia de sustentabilidade, ou seja, produtos velhos não são simplesmente descartados, mas reutilizados por outras pessoas.
  2. Colaboração pessoal: ocorre quando pessoas compartilham recursos, como dinheiro, habilidades e tempo.
  3. Serviços: baseia-se na ideia de que precisamos do benefício do produto e não do produto em si. Temos que fazer um buraco na parede, mas para isso precisamos usar a furadeira somente uma vez.

Essas vertentes nos mostram que o intuito dessa ideologia é diminuir o consumismo, cooperando para um mundo cada vez mais sustentável. Além disso, as organizações que seguem este modelo econômico têm a tendência a serem cada vez mais inovadoras.

Empresas que utilizam a economia compartilhada:

  • Uber

Rede de caronas instaurada em diversas cidades do mundo. Através de um aplicativo instalado no smartphone, o usuário pode solicitar um carro para seu transporte, semelhante ao serviço de taxi. Está presente em mais de 68 países, e tem um valor de mercado de US$ de 51 bilhões.

 

  • Airbnb

 

O Airbnb é um site que oferece a conexão entre pessoas que estão buscando hospedagem para passar as férias e as que estão oferecendo estadia. Presente em 190 países e com um valor de mercado de US$ 25,5 bilhões, essa “rede social”, oferece mais do que simples estadias, o Airbnb também fornece acomodações que vão desde um simples quartos até castelos em Galway, Irlanda.

 

No Brasil

A economia colaborativa também está presente em nosso país. Uma pesquisa realizada pelo Movimento Cidade Colaborativa levantou 100 projetos localizados somente no estado de São Paulo[2]. Os projetos foram classificados em dez categorias: cultura, mobilidade, consumo, serviços, trabalho e coworking, educação, meio ambiente, alimentação, moradia e ONGs e poder público, e as que apresentaram as maiores frequências foram cultura, mobilidade, e ONGs e poder público. Segundo dados da pesquisa, quase 15 milhões de usuários brasileiros do Facebook curtem páginas relacionadas com os projetos levantados. Com a atual crise econômica pela qual o Brasil está passando, é provável que esse número aumente ainda mais.

Mas o brasileiro não está somente utilizando tais serviços, ele também está presente no desenvolvimento de ferramentas que se inserem nesse mundo. Um dos primeiros portais de consumo colaborativo desenvolvido por brasileiros foi o DescolAí.com, no ano de 2011, em que o usuário pode colocar à disposição, seus produtos e serviços que poderão ser trocados ou vendidos dentro da comunidade DescolaAí [3].

Atualmente, se destacam plataformas como o “Fleety” e o “Tem Açucar?”.

 

  • Fleety

 

O Fleety é a primeira startup de compartilhamento de automóveis da América Latina, idealizada pelo engenheiro paulista André Marin. Nela, os usuários têm a possibilidade de garantir uma fonte de renda extra por meio da disponibilização de seus automóveis na plataforma para serem alugados. Com o objetivo de assegurar a eficácia do serviço prestado, informações como o a CNH do motorista e o RENAVAM do automóvel são coletadas, e, desse modo, é possível fiscalizar a ocorrência de multas e se o automóvel está com os documentos em dia.

 

  • Tem Açucar?

 

Quantos de nós, consumidores, compramos algum produto e apenas o utilizamos algumas poucas vezes? Idealizada pela carioca Camila Carvalho, a plataforma “Tem Açucar?” visa resolver esse problema promovendo uma colaboração entre vizinhos por meio da troca ou doação de objetos. Os usuários, além de economizarem evitando comprar produtos, também desenvolvem uma relação mais próxima entre eles. Atualmente, a plataforma tem mais de 70 mil usuários distribuídos em 23 países.

 

Impactos da economia colaborativa

A avaliação de todos os aspectos referentes a inserção da economia colaborativa na sociedade se faz necessária, uma vez que a mesma pode alterar completamente o sistema econômico atualmente empregado. Nos últimos anos, inúmeros debates e estudos vêm sendo realizados, e dentre os aspectos positivos observados, estão a geração de renda extra e de empregos temporários, sustentabilidade, aumento da interação social, acesso a recursos antes inacessíveis pelos indivíduos, tais como artigos de luxo, assim como a sua atuação em praticamente todas as classes sociais, como é demonstrado no artigo “The Promise of the Sharing Economy among Disadvanteged Communities”[4], produzido por pesquisadores da University of Michigan e University of Maryland. No artigo, são relatados benefícios da economia colaborativa para indivíduos que estão desempregados, que possuem restrições financeiras, ou que residem em comunidades desprivilegiadas, no que se refere a aspectos socioeconômicos.

No entanto, como a economia colaborativa ainda é uma ideologia que não está totalmente lapidada, ela encara certas dificuldades e apresenta alguns aspectos negativos relacionados, principalmente, com a falta de regulamentação. Alguns trabalhadores afirmaram que estavam exercendo suas funções sob condições precárias de trabalho e recebendo salários abaixo do mercado[5], assim como, em muitos casos, não possuem direitos trabalhistas. Foi relatado também conflitos entre governos e plataformas que operavam contra as regulamentações locais, podendo afetar trabalhadores regularizados.

Arun Sundararajan, professor na Stern School of Business da NYU (New York University), afirmou que “Teremos que inventar novas teorias econômicas para capturar o impacto da economia compartilhada”[6] e embasados nos aspectos, principalmente negativos listados anteriormente, observa-se, também, a grande necessidade de criação de novas políticas públicas.

Qual será o sistema econômico do futuro?

A economia colaborativa está se inserindo cada vez mais em nossa sociedade, mas será que ela virá a substituir o capitalismo? Jeremy Rifkin, autor do best-seller “The Third Industrial Revolution”, defende, em seu livro “The Zero Marginal Cost Society”, o surgimento de um sistema econômico híbrido[7], parte capitalista e parte colaborativo, em que o capitalismo terá uma participação menos relevante. Segundo o autor, estamos entrando em um mundo no qual estamos aprendendo como viver em conjunto, compartilhando bens globalmente. Somente o tempo dirá se a previsão do autor está correta, mas o que podemos afirmar agora, é que a tecnologia de fato alterará o sistema econômico como conhecemos. Na verdade, esta mudança já está ocorrendo.

Fontes:

[1]NERIS JR., Celso; FUCIDJI, José Ricardo; GOMES, Rogério. Trajetórias tecnológicas da indústria de telefonia móvel: um exame prospectivo de tecnologias emergentes.Econ. soc., Campinas , v. 23, n. 2, p. 395-431, Aug. 2014
[2] http://www.cidadecolaborativa.org/downloads/guia-digital-cidade-colaborativa.pdf
[3]http://www.descolaai.com/
[4]Dillahunt, Tawanna R., and Amelia R. Malone. “The promise of the sharing economy among disadvantaged communities.” Proceedings of the 33rd Annual ACM Conference on Human Factors in Computing Systems. ACM, 2015.
[5]http://www.bloomberg.com/news/articles/2012-09-13/my-life-as-a-taskrabbit
[6] http://www.forbes.com/sites/tomiogeron/2013/01/23/airbnb-and-the-unstoppable-rise-of-the-share-economy/3/
[7] http://www.thezeromarginalcostsociety.com/

Sites:
http://consumocolaborativo.cc/entendendo-o-conceito-o-que-e-economia-compartilhada/
http://www.revista-uno.com.br/economia-colaborativa-a-revolucao-do-consumo-mundial/
http://www.infoescola.com/idade-media/suserania/
empreendedor.com.br/noticia/economia-colaborativa-ganha-adeptos-no-brasil/
http://www.hypeness.com.br/2015/05/economia-colaborativa-como-o-senso-de-comunidade/
http://webfoundation.org/about/vision/history-of-the-web/
http://journalistsresource.org/studies/economics/business/airbnb-lyft-uber-bike-share-sharing-economy-research-roundup
http://www.uber.com
http://www.fleety.com.br
http://www.temacucar.com