Coisa de menina

Coisa de menina

Que as mulheres são uma minoria na área de exatas, todo mundo consegue perceber. Os números nos mostram que o interesse feminino na carreira de Computação da fuvest, por exemplo, é baixíssimo. Apenas 13,6% dos candidatos são mulheres. Além disso, muitas das que escolhem por essa área, desistem antes de se formarem. Você já parou para pensar nos motivos que acarretam tudo isso?

Hortência Lopes Barros Santos e Jéssica de Abreu Marcon.

Não começa na escola, começa em casa, na infância. Começa nos presentes que são ganhos, nas brincadeiras que são ensinadas, nos lugares em que são colocadas. Não ganhamos lego, não brincamos de carrinho e não somos inscritas na escolinha de futebol. Por que? “Porque não é coisa de menina”.

O que é coisa de menina? Há algo que realmente designa o que é para cada gênero? O que determina que meninas se dão melhor em áreas que as pessoas consideram “fáceis” como biológica e humanas? Se há, temos provas de que não é bem assim. Ada Lovelace, matemática brilhante nascida em 1815, escreveu o primeiro algoritmo para computador da história. Grace Hopper, inventora do primeiro compilador para uma linguagem de programação. Marie Curie, cientista que conduziu pesquisas pioneiras no ramo da radioatividade e a primeira pessoa e única mulher a ganhar o prêmio Nobel duas vezes. São esses alguns dos exemplos de mulheres que contribuíram e foram essenciais para as áreas nas quais estavam inseridas – as exatas.

Se questionarmos as razões para quais as meninas são tradicionalmente tratadas como frágeis e “incapazes”, e já trazendo essa análise às questões que dificultam a representatividade feminina nas áreas de exatas, há duas principais perspectivas que são usadas para explicar esse problema: os aspectos sociológicos e culturais e os biológicos. Nesses aspectos, atribui-se o problema às diferenças biológicas, cognitivas ou de socialização entre os dois sexos, apoiando-se na hipótese de que as mulheres não possuem controle emocional suficiente para aguentar as pressões que essas áreas exercem sobre o profissional; que não pensam de forma objetiva e sim de forma sensitiva, o que é prejudicial em cargos de comando e de que há a constante necessidade de que a mulher seja “protegida”. Quem é mulher sabe muito bem que há pessoas que ainda acreditam nessas hipóteses. Muitas vezes nossos próprios pais, em nossa educação, agem de forma superprotetora (reforçando a ideia de que somos frágeis) ou não estimulam nosso pensamento lógico, e sim o emocional (nos presenteando com bonecas e não com brinquedos de montar, por exemplo).

Podemos dizer que o que mais afasta as mulheres das áreas de exatas são os aspectos sociais. Ainda há o pensamento de que as mulheres são as responsáveis pela manutenção doméstica e educação dos filhos, o que gera sobrecarga de trabalho e falta de flexibilidade, dificultando o bom desempenho das mulheres nessas áreas; o reduzido número de mulheres em cargos de decisão e a diferença de salários e principalmente, o número reduzido de mulheres nos cursos de graduação de exatas.

Querem um exemplo? A própria USP! Na carreira de Computação (Sistemas de Informação e Bacharelado em Ciência da Computação), dos 2763 candidatos da FUVEST, apenas 375 eram do sexo feminino. Sim, apenas 13,6% de mulheres. Se olharmos as salas de aula de Sistemas de Informação, por exemplo, com cerca de 60 alunos, vemos por volta de 5 ou 6 meninas apenas.

Poucas amigas e pouco apoio. Muitas brincadeiras, inferiorização e sim, assédio. Não queremos ser um alienígena dentro da sala de aula, não queremos levantar e receber todos os olhares possíveis, não queremos tirar nota mais alta e ter que ver e ouvir reações negativas, porque afinal, somos meninas, como assim tiramos notas mais altas?

No mercado de trabalho também não é muito diferente, é comum ganharmos um salário menor do que o dos homens para desempenhar as mesmas funções, por exemplo.
Como visto, ainda somos uma minoria. Muitos motivos possíveis para que isso ainda aconteça até hoje, mesmo com provas vivas de que somos capazes. Ainda que seja difícil escolher essa área e depois de já inseridas na mesma não fique mais fácil, não devemos desistir. Precisamos nos impor e mostrar que somos tão preparadas quanto qualquer homem para essa carreira. Coisa de menina é o que a menina quiser

FONTES:

http://www.fuvest.br/estat/qase.html?anofuv=2016

SOARES, T.A. Mulheres em ciência e Tecnologia: ascensão limitada. Química Nova, Recife-PE. Vol. 24, No. 2, 281-285, 2001.SOARES, T.A. Mulheres em ciência e Tecnologia: ascensão limitada. Química Nova, Recife-PE. Vol. 24, No. 2, 281-285, 2001.