Métodos de ensino e aprendizado: uma breve síntese na eficiência produtiva

Métodos de ensino e aprendizado: uma breve síntese na eficiência produtiva

              O expressivo avanço tecnológico alcançado pela humanidade nas últimas décadas tem colocado a experiência humana em um processo educacional que evolui gradativamente de forma a elevar a eficiência no estudo individual. Essa elevação no processo de ensino e aprendizado tem resultado em uma geração de estudantes que aprendem precocemente assuntos das mais diversas áreas. Podemos afirmar que tal avanço está correlacionado com o fácil acesso a tecnologia e consequentemente acesso dos discentes e docentes em geral a técnicas que permitem maior eficiência no processo educacional. Apresentaremos neste artigo algumas dessas alternativas tecnológicas que nos ajudam a aprender.

Jeferson Bonfante e Giovani Leite

O APRENDIZADO

              Todo ano os calouros têm a famosa aula de recepção, lembra dela? Não? Ainda não é calouro? Tudo bem, contamos como é. Para nós, do curso de Sistemas de Informação, geralmente, essa aula de recepção conta com a participação do coordenador do curso e mais alguns professores. O objetivo dessa aula de abertura é apresentar a grade curricular para os alunos, comentar algumas das oportunidades que eles encontrarão na universidade e tirar dúvidas, já que desde a matrícula eles vêm sendo bombardeados com muitas informações e vêm colecionando uma série de dúvidas. Alguns dos professores aproveitam, também, para avisar sobre os desafios que os alunos enfrentarão durante o período de graduação.

              No meio desses avisos, nos anos iniciais da graduação, há a indicação do curso Learning how to learn (Aprendendo a aprender – conteúdo em português), ministrado pela Professora Doutora Barbara Oakley da Universidade de Oakland e pelo Professor Dr Terrence Sejnowski do Instituto Salk – disponível na plataforma Coursera. Este curso apresenta técnicas e dicas que podem ajudar a gerenciar melhor o tempo e estudar de forma eficiente. Alguns dos conceitos apresentados no curso estão, de forma talentosa, resumidos na saga de Sofia contra a procrastinação no quadrinho da designer Melina Pierro, abaixo podemos observar uma prévia.

Quadrinhos
Figura 1 – Quadrinhos da designer Melina Pierro. Fonte: https://goo.gl/7VdfsH

              As estratégias indicadas no referido curso foram desenvolvidas com base em questões comumente relacionadas ao sucesso no ato de estudar e aprender, sendo, portanto, princípios de boas estratégias de estudo identificados por meio de pesquisas. Essas estratégias, é claro, podem ser adaptadas aos contextos individuais, já que o importante são os princípios nos quais elas estão baseadas. Estudar utilizando técnicas com embasamento científico é uma forma mais segura, certo? Provavelmente melhor do que a crença representada pela frase: “é ler isso aqui e torcer”. Então, vamos discutir um pouco sobre esses princípios.

              Um desses princípios é testar seu conhecimento. Apesar de, muitas vezes, ser visto como uma forma de provar que aprendemos, os professores doutores Henry L. Roediger III e Andrew C. Butler, das Universidades de Washington e Texas, respectivamente, mostraram em sua pesquisa (https://goo.gl/moeYrb) que essa prática é uma forma poderosa de memorizar o conteúdo e tem um papel bastante importante na retenção do mesmo na memória de longo prazo quando aliada ao segundo princípio que comentaremos mais à frente. Os autores deste estudo destacam uma peculiaridade da nossa memória: a retenção de conteúdo é consideravelmente mais eficiente quando efetuamos o estudo usando a repetição ativa, na qual dedicamos um tempo para recordar o que foi recentemente lido, ao invés de uma repetição passiva, na qual há a necessidade de buscar a repetição no local onde está o conteúdo, podemos observar os resultados positivos obtidos com esse teste na figura 2 a seguir.

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Figura 2 – Variação no resultado de estudo com repetição ativa em comparação com repetição passiva

              Não só a pesquisa mencionada relata esses resultados, mas esse também é corroborado por várias outras e até ficou conhecido como Testing Effect, relatado por Eisenkraemer (2013). Vale explicar que parte importante no processo tomar conhecimento do que acertou, do que errou e como corrigir o que errou.

              Uma estratégia que utiliza o primeiro princípio apresentado é a técnica Feynman, nomeada em homenagem ao físico e ganhador do prêmio Nobel no ano de 1965, Richard Feynman, em referência à sua habilidade em apresentar conceitos complexos com uma linguagem simples, de forma didática. O ponto crucial dessa técnica é justamente exercitar essa habilidade. Como? É simples, simule que você esteja explicando o conteúdo estudado para outra pessoa usando mensagens de texto, então, escreva-as com suas palavras. Com isso, escrevendo e relendo, é possível identificar os pontos que você não entendeu completamente ou que estão muito complexos, evidenciando partes do conteúdo que você precisa revisar para conseguir reescrever sua explicação de forma mais simples e intuitiva.

              Esse processo pode ser repetido diversas vezes até que a sua explicação esteja satisfatória, apontando que compreendeu bem o assunto, já que alcançou uma explicação mais simples para ele. Esse método é bastante interessante e faz uso dos testes e da auto explicação, que foram avaliados com utilidade alta e moderada, respectivamente, no estudo apresentado pelos pesquisadores John Dunlosky, Katherine A. Rawson, Elizabeth J. Marsh, Mitchell J. Nathan, Daniel T. Willingham em Improving Students’ Learning With Effective Learning Techniques (https://goo.gl/Vgt2d1), que avaliou essas e outras oito técnicas utilizadas pelos alunos.

              Na imagem abaixo há um exemplo da técnica sendo utilizada para explicar o teorema de Pitágoras. O texto na imagem é uma explicação construídas com as próprias palavras do estudante, enquanto o desenho e o exemplo são parte do processo de tornar a explicação mais simples. Mais dicas ou exemplos dessa técnica podem ser encontrados no blog College Info Geek (https://goo.gl/Zaj4zD).

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Tradução do texto na imagem: O teorema de Pitagoras. Para qualquer triângulo quadrado, você pode encontrar o comprimento ao quadrado da hipotenusa, somando os comprimentos ao quadrado dos outros dois lados. Fórmula: A² + B² = C² (C é a hipotenusa). Exemplo: Para A = 5 e B = 3, C = 5.93 Exemplo desenvolvido por Thomas Frank em College Info Geek

              O segundo princípio trata da repetição espaçada. Arthur Melton da Universidade de Michigan, reafirmou, em 1970, o que estudos de 1930 já apontavam: evidências de que a repetição auxilia o ato de relembrar. Então, é bom dividir o conteúdo em partes, e, para cada parte estudada, voltar a estudá-la, inicialmente, com intervalos mais curtos entre os momentos que estuda uma mesma parte e, conforme adquirir maior confiança quanto a parte estudada, aumentar esses intervalos. Claro que a aplicação desse princípio exige disciplina e planejamento, e isso faz com que por vezes, acabe topando com um grande vilão, a procrastinação.

              Por fim, o último princípio mencionado, apesar de não menos importante, é mais fácil. Trata-se de dormir. Independente da estratégia utilizada para estudar, o descanso é importante. É durante o sono que as memórias são formadas. Não só isso, o acúmulo de sono pode prejudicar sua habilidade de pensar claramente, causando efeitos similares ao álcool (https://goo.gl/mxNhHJ).

              Esses princípios são totalmente contrários a uma prática amplamente utilizada que trata de começar a estudar x horas antes da prova e y minutos antes começar a torcer, rezar ou chorar (x e y dependem do objeto estudado, ou melhor, do objeto estudante). Afinal, muitas vezes x horas não é suficiente nem para estudar, muito menos revisar, além de sobrepor horas de sono. Mas é óbvio que depois de saber disso, não voltaremos a utilizá-la.

              Os princípios apresentados estão fortemente ligados à memória, contudo, é importante dizer que esse não é o único ponto relevante ao estudar. O uso de material adequado, gerenciamento do tempo, motivação e cuidados com a saúde, principalmente a mental, são muito importantes também.

O ENSINO

              Outro extremo da eficiência no processo de construção do conhecimento e aquisição de saberes é o ensino. Nesse processo é importante considerar o fator de motivação do educando, gerando o interesse de desenvolver sua aprendizagem e ao mesmo tempo anular os impedimentos que sente ao assimilar o conhecimento a ser adquirido. Devemos também considerar que o ensino, além de impulsionar, busca encorajar, despertar e até aguçar o interesse do estudante no processo de aprendizagem. Em outras palavras, podemos dizer que a forma como se ensina constrói o caminho que alguém idealiza no âmbito escolar.

              Dentro deste contexto é que se insere novas plataformas que possibilitam uma nova forma de ensinar. Formas estas que podem ser lúdicas ou até em formato de jogos, que fornecem um novo conceito na promoção de conhecimento. Podemos citar, por exemplo, o curso “Aprender como aprender”, que mostra muita coisa sobre como ensinar, além de como aprender. É fácil observar como esses princípios foram incorporados em algumas plataformas famosas, como por exemplo o Só Matemática (http://somatematica.com.br), e bem legais de utilizar (e até nas aulas que gostamos na universidade).

              Temos também plataformas online que surgiram com conceitos diferentes dos então existentes. Não existem, atualmente, estudos suficientes para concluir a eficácia individual de cada plataforma. Entretanto, existem diversos artigos e estudos citando a relevância de softwares educativos no processo ensino-aprendizado, como o estudo realizado por FARIAS et. al.:, 2013 “ … percebemos a importância de proporcionar aos alunos um ambiente mais dinâmico, enriquecedor e motivador para o processo de ensino-aprendizagem por meio da inserção do recurso tecnológico, como no caso, o software educativo.” Neste estudo, os autores, realizaram uma experiência utilizando operações matemáticas com alunos do quarto ano do ensino fundamental.

Dentro desse cenário podemos citar:

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Figura 3 – Aprendendo com Duolingo. Fonte: duolingo.com

• Duolingo, plataforma focada no ensino de diversos idiomas por meio de uma técnica pautada, principalmente, em testes e repetição espaçada. No site do próprio aplicativo há diversos estudos desenvolvidos por pesquisadores filiados. Dentre eles o Duolingo Effectiveness Study escrito por VESSELINOV e GREGO, 2012. Neste artigo, os autores exploram um estudo feito pelo período de oito semanas, e para a realização do teste foram convidadas 727 pessoas. Os resultados permitiram responder questões bastante importantes na eficácia do uso da plataforma, como podemos observar na seguinte citação “…Based on these findings we can say that for a completely novice user of Spanish it would take on average 26 to 49 hours of study with Duolingo to cover the material for the first college semester of Spanish.”. Podemos observar na figura a seguir de como é a dinâmica da plataforma, onde a associação das palavras à imagens é a técnica mais utilizada pelo sistema.

• Codeacademy: outra plataforma bastante parecida, mas voltada ao ensino de linguagens de programação e desenvolvimento web, que apresenta diversos cursos com o conteúdo sendo apresentado com testes e exercícios.

• A FreeCodeCamp tem uma plataforma bem parecida voltada ao desenvolvimento web, principalmente, frontend. Além de fomentar a atividade em comunidade, para que seus usuários sempre possam tirar suas dúvidas, pedir que os colegas avaliem seus trabalhos e troquem conteúdos interessantes, experiências e etc.

• O ChinguCohorts monta equipes de pessoas com interesses parecidos em aprender conteúdos sobre desenvolvimento e os aloca em projetos voluntários para que esses possam exercitar o conteúdo aprendido. Essa estratégia não só desenvolve suas habilidades em lógica de programação e linguagens de programação, como também ajuda a melhorar na comunicação, no trabalho em grupo e no gerenciamento de tempo.

• Outra ideia bem legal é o Coruja Indica, do grupo PET de Sistemas de Informação da Universidade de São Paulo, esse projeto visa concentrar em uma plataforma vários vídeo-aulas, materiais didáticos, cursos online, ferramentas entre outros focados em assuntos da área de computação como inteligência artificial e desenvolvimento de jogos. Podemos observar na imagem abaixo como os conteúdos estão dispostos.

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Figura 4 – Coruja Indica. Fonte:each.usp.br/petsi/?page_id=733

             Desta forma fica evidente que as tecnologias geraram muitos benefícios em termos de avanço científico, na educação, na comunicação, no lazer, na busca e produção do conhecimento. Esses benefícios favorecem o processo de ensino e aprendizagem, à medida que, quando bem utilizadas pelos professores e alunos permitem intensificar o aprendizado.



Referências

Jornal Sage – Improving Students’ Learning With Effective Learning Techniques.
https://goo.gl/nK77M4.

Cell – The critical role of retrieval practice in long-term retention. https://goo.gl/moeYrb.

College Geek – How to Use the Feynman Technique to Learn Faster (With Examples). https://goo.gl/cjHkjj.

Forbes – The Pomodoro Technique And 3 More Research-Backed Study Tips. https://goo.gl/uruk9d.

Coursera – Learning how to learn. Em português: https://goo.gl/FGMskf. Em inglês: https://goo.gl/jbcJte.

Uma noite aprendendo – Resumo de Learning how to learn em tirinha. https://goo.gl/7VdfsH.

Mudenu – As 10 melhores técnicas de estudo, segundo a ciência. https://goo.gl/Q6rLeK
Duolingo – https://goo.gl/suFxH1.

Codeacademy – https://goo.gl/DrZwqH.

FreeCodeCamp – https://goo.gl/dRtQoe

Chingu-cohorts – https://goo.gl/Nsoh9B

Vesselinov, Roumen.; GREGO, John. PhD; Duolingo Effectiveness Study. University of South Carolina. New York. 2012

Eisenkraemer, Raquel Eloisa, Jaeger, Antonio, & Stein, Lilian Milnitsky. (2013). A Systematic Review of the Testing Effect in Learning. Paidéia (Ribeirão Preto), 23(56), 397-406.