Durval Muniz na EACH: A Construção da ideia de Nordeste.

Durval Muniz na EACH: A Construção da ideia de Nordeste.

(Texto: Valéria B. Magalhães).

No dia 11 de novembro de 2019, às 14h (com duração de três horas e meia), aconteceu no Auditório Vermelho da EACH/USP a conferência Identidade, Tolerância e Construção da Noção de Nordeste, organizada pelas professoras Valéria B. Magalhães (GEPHOM/USP) e Valéria Cazetta (Grupo de Pesquisa Culturas Visuais e Experimentações Geográficas/USP), ambas docentes da EACH/USP.

O evento teve financiamento do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais/USP e contou com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais, do Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política/USP, e do Observatório Interdisciplinar de Políticas Públicas.

A atividade foi transmitida pelo IPTV/USP (em breve, será publicada para que os interessados tenham acesso ao seu conteúdo) e contou com aproximadamente 110 participantes, entre alunos de graduação e de pós-graduação, docentes da EACH, docentes de outras unidades, e público do entorno do campus.

O evento foi aberto pela professora Valéria B. Magalhães, que lembrou os 10 anos de existência do GEPHOM e agradeceu a presença de todos e a ajuda dos organizadores e dos setores da EACH que colaboraram com o evento. Ela ressaltou a importância da presença dos nordestinos na configuração atual dos bairros da Zona Leste de São Paulo e, dessa forma, a relevância de se fazer um ciclo de debates sobre o tema “Nordeste” no campus da USP Leste. A palestra de Durval faz parte do Ciclo de Debates Nordeste(s), promovido pelo GEPHOM.

Em seguida, a professora Cynthia H. Correia falou em nome do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais, o qual financiou o evento com verba PROAP/CAPES. Ela deu as boas-vindas aos presentes. A professora Valéria Cazetta apresentou Durval Muniz de Albuquerque e sua obra, mediando as perguntas, ao final da palestra.

A conferência do professor Durval versou sobre a história da construção de uma noção de Nordeste, a partir do final do século XIX, ideia que não existia até então. Processos que contribuíram para essa invenção foram citados detalhadamente e explicados a partir dos vieses cultural, histórico, econômico e político.

Dentre esses processos, foram mencionados, por exemplo, o deslocamento de uma nacional do Nordeste para o Sudeste, no começo do século XX, e a produção cultural do final do século XIX, que diferenciava modos de vida do norte e do sul do país (literatura do norte X literatura do sul), a chamada “Literatura das Secas”, a qual fomentou um certo imaginário de Nordeste árido, rural e atrasado.

Segundo o professor, o termo “Nordeste” apareceu pela primeira vez em 1891, ainda não como identidade e sim como campo geográfico. Foi nos anos 1920, que intelectuais como Gilberto Freyre começaram a dar sentido ao termo e a um conjunto de imagens ligadas a ele. O conceito então foi ressignificado, ao longo do século XX. Ele também explicou o que significa a ideia de “conceito”.

Na literatura, Durval apontou, entre outras, a tentativa de Mário de Andrade de criar uma oposição entre o modernismo paulista (de Mário de Andrade) e uma ideia de tradicionalismo/regionalismo pernambucano (de Gilberto Freyre).

O professor Durval Muniz tocou em inúmeros outros assuntos ligados a essa construção de Nordeste, passando pelas artes (por exemplo, tropicalismo, Mangue Beat e Movimento Armorial), Literatura (Suassuna, José Lins do Rego e outros), pintura (Portinari), cinema (Glauber Rocha) migrações, política, a diversidade dos aspectos naturais de toda a região, a história da literatura de cordel, etc.

Dentre os principais eixos que sustentam a construção do Nordeste, Durval apontou os seguintes: sua natureza imaginada; uma ideia de cultura própria (uma suposta  cultura brasileira original); e o imaginário do coronelismo/cangaço.

A abrangência do conhecimento de Durval Muniz e seu carisma e oratória contribuíram para que os presentes permanecessem concentrados e encantados com sua exposição. Tivemos mais do que uma conferência: foi uma aula em que todos aprenderam sobre a história do Nordeste e de suas configurações sociais, e que nos proporcionou uma reflexão crítica sobre a forma como os “de fora” veem o Nordeste.

Veja a entrevista de Durval no Jornal USP: https://jornal.usp.br/universidade/eventos/cabe-a-diversidade-do-nordeste-em-uma-palavra-com-nove-letras/?fbclid=IwAR2uXr4XIaMuHCSgK35xsH12PxabSeaQSgB3cdgfxc_zoxgFRRXTYet8nEk

* Durval Muniz de Albuquerque é historiador, professor visitante da UEPB e professor Titular aposentado da UFRN. Coordena o Comitê da Área de História do CNPq. Dentre suas principais publicações estão: A Invenção do Nordeste e Outras Artes, e História: A Arte de Inventar o Passado. Atua nos seguintes temas: gênero, nordeste, masculinidade, identidade, cultura, biografia histórica e produção de subjetividade.

Mais informações sobre o evento e sobre as próximas palestras do Ciclo de Debates Nordeste(s): https://www.facebook.com/gephomusp/

Durval 11nov19 sozinho

Foto: Durval Muniz de Albuquerque na EACH, em 11/11/19.