Curativo inteligente detecta infecções em feridas
Nova tecnologia à base de nanocelulose promete revolucionar o cuidado de lesões na pele por meio de sensibilidade ao pH.
A pele merece nossa atenção e nossos cuidados, pois é o maior órgão do corpo humano e possui várias funções importantes, incluindo a proteção contra agentes externos e a manutenção da homeostase do organismo. Quando ela é ferida, bactérias podem penetrar no corpo e causar infecções que, se não forem tratadas adequadamente, podem levar a complicações graves, incluindo septicemia e morte. Além disso, as infecções cutâneas podem atrasar o processo de cicatrização e aumentar o tempo de recuperação. Portanto, é importante monitorar os ferimentos para detectar precocemente infecções e tratá-las antes que se tornem mais graves.
Com tal finalidade, cientistas da Universidade de Linköping (Suécia) desenvolveram um curativo que pode ajudar na prevenção de infecções e na cicatrização de lesões na pele. Feito de nanocelulose bacteriana e nanopartículas de sílica mesoporosa, ele é capaz de detectar mudanças no pH da pele, indicando a presença de infecções.
O curativo de nanocelulose é mais eficiente do que os curativos convencionais, já que é fabricado com uma malha muito apertada. Essa característica impede que bactérias e outros microrganismos penetrem na ferida, enquanto ainda permite a passagem de gases e líquidos, que são essenciais para a cicatrização. Além disso, o produto com a nova tecnologia não precisa ser trocado com frequência, pois é capaz de monitorar continuamente o pH da pele e mudar de cor caso haja uma infecção. Essa abordagem envolve a incorporação de um corante sensível ao pH em nanopartículas de sílica mesoporosa, as quais são encapsuladas na nanocelulose bacteriana para a fabricação dos curativos. A mudança de cor ocorre porque as bactérias causadoras de infecções liberam ácido, alterando o pH do ambiente local da ferida e ativam a coloração.
Um dos maiores benefícios desse recurso é a possibilidade de prevenir infecções e contaminações. Os materiais convencionais usados para proteger feridas precisam ser trocados com frequência, pois são projetados para absorver líquidos, incluindo sangue, exsudato e outras secreções, que com o tempo se tornam um ambiente perfeito para a proliferação de microrganismos, aumentando o risco de contaminação e infecção da ferida. Já o curativo de nanocelulose é capaz de permanecer na ferida durante todo o processo de cicatrização, sem a necessidade de ser removido e trocado várias vezes, evitando também danos ao tecido saudável ao redor da ferida e a dor que os curativos atuais podem causar durante sua remoção.
A possibilidade de ver instantaneamente se uma ferida se tornou ou não infeccionada leva à melhora da qualidade de vida de pacientes com feridas de difícil cicatrização. Além disso, o curativo pode reduzir o uso desnecessário de antibióticos.
Profº Daniel Aili – professor da Divisão de Biofísica e Bioengenharia na Universidade de Linköping e co-autor do estudo.
Outro benefício do nanomaterial é a sua sustentabilidade em comparação com os curativos convencionais. Ao contrário deles, que frequentemente são fabricados com materiais sintéticos e químicos, a tecnologia de nanocelulose é produzida a partir de seres vivos e utiliza matéria orgânica, o que torna o processo de fabricação menos prejudicial ao meio ambiente. Além disso, como é feito da mesma substância encontrada na parede celular de plantas, o material seria biodegradável.
Embora o novo curativo ainda esteja em fase de testes, ele apresenta um grande potencial para aprimorar os cuidados com feridas e prevenir infecções, principalmente em casos de agravantes como internações e pós-operatórios, quando os pacientes estão expostos a diversos microrganismos que apresentam periculosidade. Com o tempo, espera-se que o curativo possa ser produzido em larga escala e utilizado em hospitais e clínicas médicas em todo o mundo, melhorando a qualidade de vida de milhares de pessoas.
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E para saber mais sobre a nanocelulose, acesse o artigo “Com propriedades exclusivas, nanocelulose revoluciona materiais”, do Jornal da USP.
Fonte: ESKILSON, O. et al. Nanocellulose composite wound dressings for real-time pH wound monitoring. Materials Today Bio, online, vol. 19, abr. 2023.
