NANOPARTÍCULAS: A CHAVE PARA DESBLOQUEAR O POTENCIAL DA IMUNOTERAPIA ANTICÂNCER

Caracterizado pelo crescimento desordenado de células, o câncer ainda representa uma grave ameaça à saúde pública. As vacinas possuem um papel essencial na prevenção de doenças infecciosas, estimulando respostas imunes adaptativas e inatas do corpo para combater patologias diversas. Nesse cenário, com o aumento da compreensão de doenças e da sua conexão com o sistema imunitário, novas estratégias para treinar o sistema imune no combate às doenças malignas, como as neoplasias, têm crescido exponencialmente. Uma abordagem promissora atual se utiliza de sistemas de nanopartículas para entrega de antígenos para potencializar as respostas imunológicas como vacinas e/ou adjuvantes. A fim de traçar perspectivas e potenciais barreiras para a implementação da nanotecnologia na imunoterapia, Yanli Shi e colaboradores propuseram uma revisão abrangente dos recentes avanços no campo da imunologia das vacinas terapêuticas e preventivas contra o câncer e das aplicações de nanopartículas na imunoterapia.

Um dos principais tópicos discutidos no respectivo estudo está vinculado às limitações atuais das vacinas antitumorais, como a sua incapacidade de provocar uma resposta imunológica robusta contra células cancerígenas. Para driblar este problema, pesquisas em andamento exploram diversas estratégias, incluindo vacinas contra o câncer modificadas, vacinas de DNA e outras baseadas em peptídeos – mais comumente usadas -, assim como combinações dessas estratégias. As vacinas baseadas em peptídeos fornecerem epítopos peptídicos de antígenos* associados a tumores para ativação de células do sistema imune contra o câncer, como as T CD8 (linfócitos T citotóxicos que atuam na eliminação de células cancerosas). Esta especificidade, ausente nas vacinas clássicas, tornou-as altamente usuais na área da imunoterapia contra o câncer. Entretanto, a incapacidade do próprio antígeno em atravessar membrana celular, assim como a sua propensão à degradação, limitam o alcance deste método. Para superar esse desafio, a nanotecnologia entra em campo a partir de um sistema de entrega eficiente de antígenos capaz de elevar a eficácia terapêutica e a precisão de vacinas contra o câncer, como esquematizado na Figura 1. 

As nanovacinas, em comparação às vacinas convencionais, oferecem diversas vantagens, incluindo tempo de liberação prolongado e entrega direcionada, além da customização de forma e tamanho para atender as mais variadas aplicações. As nanopartículas têm sido estudadas por diversos grupos de pesquisa e com grande sucesso de aplicação na área de vacinação. Apesar de haver pesquisas bem documentadas do seu uso no tratamento de doenças, infecções e outros problemas de saúde, há poucos relatos da utilização de nanovacinas na imunoterapia contra o câncer. Por exemplo, Bhardwaj e colaboradores (2020)são citados por descreverem o uso de nanovacinas no tratamento de doenças infecciosas e não infecciosas, como malária, tuberculose, vírus da imunodeficiência humana (HIV)/AIDS, gripe e câncer. Zhou e os membros de seu grupo (2022) também ganham espaço por contribuírem na examinação do status atual da imunoterapia contra o câncer cervical usando vacinas terapêuticas e terapias celulares adotivas**. 

As nanovacinas são capazes de desbloquear o potencial da imunoterapia do anticâncer, proporcionando aos pacientes tratamentos eficazes com efeitos colaterais mínimos. As vacinas de nanopartículas estabelecem, também, bases para uma tecnologia capaz de elevar os padrões de saúde pública e promover diversos avanços no domínio da terapia do câncer. No entanto, desafios  referentes à transição da inovação laboratorial para a realidade clínica, à produção e à obtenção de aprovações regulamentares continuam sendo pontos cruciais a serem explorados e superados. Apesar dos impedimentos atuais, à medida que as pesquisas avançam, as nanovacinas alcançam uma nova era de terapias inovadoras, permitindo um grande salto na luta contra o câncer. 


Figura 1: Vacina de nanopartículas para ativação do sistema imunológico. 
NPs polímeros: nanopartículas à base de polímeros; NPs inorgânicos: nanopartículas à base de inorgânicos; NPs lipídeos:  nanopartículas à base de lipídeos; NPs veículos bioinspirados:  nanopartículas à base de veículos bioinspirados. AEN: antígenos entregues por nanopartículas.
Sun, Z., Zhao, H., Ma, L. et al. A busca por vacinas movidas a nanopartículas na imunoterapia contra o câncer. J Nanobiotechnol 22 , 61 (2024).

*Segmentos específicos de proteínas ou peptídeos que são reconhecidos pelo sistema imunológico como estrangeiros e desencadeiam uma resposta imune. 

**Tipo de tratamento que envolve transferência de células especializadas para o corpo do paciente.

Para saber mais, acesse o artigo: https://doi.org/10.1186/s12951-024-02311-z

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