Nanopartículas de lignina do tronco de laranjeira para tratamento do câncer de fígado

Citrus sp. é uma das culturas de maior produção global, com geração de 10 a 15 milhões de toneladas anuais de biomassa derivados da cadeia produtiva de frutos e sucos. O bagaço e a madeira são os principais componentes da biomassa total gerada, sendo a madeira uma das maiores preocupações da indústria. Nessa linha, com cerca de 50% da produção mundial, o Brasil se enquadra como líder na produção de laranja, gerando mais de um milhão de toneladas de madeira residual anualmente. 

O tronco da laranjeira é uma madeira dura composta por cerca de 20% de lignina (uma macromolécula presente na parede celular da planta). Pesquisas recentes investigam o potencial bioquímico de biopolímeros da lignina obtidos a partir da despolimerização da lignina, com aplicações promissoras na área da nanotecnologia. Em meio a este cenário, com base na ampla disponibilidade, aplicabilidade e escassa investigação da lignina de madeira de laranjeira (Citrus sinensis) e de suas propriedades biológicas, como baixa citotoxicidade, atividade não hemolítica,  antimicrobiana e antioxidante, Deyvid Porto e colaboradores (Grupo de Nanotecnologia e Nanotoxicologia – Instituto de Física de São Carlos da USP) desenvolveram nanopartículas de lignina à base de resíduos de tronco de laranja para encapsular moléculas bioativas, como a curcumina, para aplicação como agente de terapia contra câncer de fígado. 

Nessa pesquisa a lignina foi utilizada em sua forma nanoparticulada, obtida por nanoprecipitação* com grande estabilidade (Figura 1), para encapsular a curcumina, obtida dos rizomas da cúrcuma. As nanopartículas de lignina-curcumina foram testadas quanto à sua citotoxicidade em células saudáveis ​​(hepatoma humano, HepaRG), aplicadas em testes in vitro contra células de câncer de fígado (hepatocarcinoma, HTC) e com diferentes concentrações de curcumina (1 e 5%). Os resultados indicaram eficiência de encapsulamento da curcumina superior a 90%, além de apresentarem toxicidade seletiva para a linha celular cancerígena, com uma pequena quantidade de curcumina.

O uso de um método ecologicamente correto, econômico, rápido e fácil para a síntese de nanopartículas de lignina, com aproveitamento efetivo de resíduos de plantios de Citrus sp, expandiu os horizontes para o desenvolvimento de novos estudos atrelados à aplicação do método para o tratamento de outro tipos de cânceres. Isso mostra que é possível explorar, concomitantemente, o potencial das nanopartículas de lignina como agentes de entrega de fármacos. O estudo revelou, também, o potencial da biomassa residual para o desenvolvimento de novas pesquisas e aplicações tecnológicas.


Figura 1: Imagens simplificadas da formação de nanopartículas de lignina. Adaptado de Aplicativo ACS. Polim. Matéria. 2021 , 3 , 10 , 5061-5072.

*Método baseado na preparação de nanopartículas por meio do deslocamento do solvente que consiste na precipitação interfacial de um polímero (Souto et al., 2012).

Para saber mais, acesse: https://doi.org/10.1021/acsapm.1c00822

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