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  • Temporalidades

    Temporalidades

    por 
    Luiz Menna-Barreto e Mario Pedrazzoli
    resumo 
    Esta edição da Revista Estudos Culturais foi dedicada a estudos sobre o tempo, tema recorrente em diversas áreas do conhecimento e que vem adquirindo relevância crescente num mundo globalizado no qual as pessoas acabam se expondo a desafios inéditos até meados do século XX. Atravessamos fusos horários, acompanhamos bolsas de valores em Tóquio e Nova York e assistimos a jogos que ocorrem do lado oposto do planeta, numa sucessão de eventos que acontecem em tempos próprios e que nem sempre coincidem com os tempos de cada indivíduo. Surge nesse contexto certa tensão entre nossas percepções da passagem do tempo, aquela interna que dialoga com nosso sono ou fome e a outra externa, imposta pelos vários relógios aos quais tentamos obedecer. Dessa tensão emergem reflexões que trazemos aos leitores, reflexões inspiradas em diferentes olhares que vão desde aspectos filosóficos e sociológicos a aspectos biológicos.
  • Sobre os autores

    Sobre os autores

    resumo 
    Luiz Menna-Barreto, Mario Pedrazzoli, Robert Levine, Muara Kizzi Figueiredo, Rafael H. Silveira, Rafael Chequer Bauer, Alexandre Panosso Neto e Luiz Gonzaga Godoi Trigo escrevem no número dois da Revista de Estudos Culturais.
  • Ordem e progresso, aceleração e alienação

    Ordem e progresso, aceleração e alienação

    por 
    Rafael H. Silveira
    resumo 
    Como diversos exemplos dados em Aceleração e alienação [1] [1] ROSA, Hartmut. Beschleunigung und Entfremdung: Entwurf einer kritischen Theorie spätmoderner Zeitlichkeit. Traduzido do inglês para o alemão por Robin Celikates. Berlim: Suhrkamp Verlag, 2013. confirmam, a condição de especialista no campo da aceleração social muitas vezes não exime o próprio autor da ação dos fenômenos por ele analisados – sobretudo por se tratar de uma das personalidades acadêmicas mais conhecidas, citadas e requisitadas na imprensa alemã atualmente. Como minha resenha da análise de Hartmut Rosa mostra, a obra está longe de ser die Entdeckung der Langsamkeit ou um éloge de la lenteur, como interpretado por alguns. No diálogo, conduzido em 23/10/2014 na cidade de Jena, Alemanha, originalmente em alemão, transcrito, editado e traduzido para o português por Rafael H. Silveira, são abordados pontos que complementam o entendimento da Teoria da Aceleração através de uma perspectiva voltada para a realidade brasileira.
  • Tempo e bem estar

    Tempo e bem estar

    por 
    Robert Levine
    resumo 
    Neste artigo examino o impacto da experiência temporal – o emprego do tempo, concepções do tempo e normas temporais - sobre a felicidade e o bem estar; sugiro políticas públicas voltadas à ampliação dessa experiência. Inicio com uma revisão da literatura relativa às interrelações entre o tempo, dinheiro e felicidade. Em segundo lugar, reviso dados e questões em torno dos horários de trabalho e não trabalho ao redor do mundo. Em terceiro lugar, descrevo numa perspectiva mais ampla as questões temporal que deveriam ser levadas em consideração nas decisões de políticas públicas, por exemplo, medidas de relógio versus eventos, enfoques monocrônicos versus policrônicos, definições de tempo perdido, ritmo de vida e orientação temporal. Concluo com sugestões para a elaboração de políticas do emprego do tempo voltadas para aumentar a felicidade individual e coletiva. Trata-se de um truísmo virtual o modo como empregamos nosso tempo se expressa no modo como vivemos nossas vidas. Nosso tempo é o bem mais valioso do qual dispomos. Boa parte desse tempo, no entanto, é controlado por outros, desde nossos empregadores até nossos familiares mais próximos. Também está claro que existem diferenças profundas – individuais, sócio econômicas, culturais e nacionais – no grau de controle que indivíduos exercem sobre seus próprios tempos (ver p. exemplo LEVINE, 1997; LEE, et al., 2007). Pode ser argumentado que políticas públicas são necessárias para proteger os “direitos temporais” dos indivíduos, particularmente aqueles mais vulneráveis à exploração. Este artigo foi motivado por um projeto de largo espectro do qual tive a oportunidade de participar. O projeto começou na primavera de 2012 na sequência de uma resolução da ONU, aprovada por unanimidade em sua Assembleia Geral, na qual “felicidade” foi incluída na agenda global. O Butão foi convidado a receber um grupo interdisciplinar de “experts” internacionais com a tarefa de elaborar recomendações para incentivar a busca da felicidade no planeta; mais especificamente desenvolver um “novo paradigma para o desenvolvimento mundial”. O Butão é um pequeno país pobre, cercado de montanhas na região do Himalaia, foi escolhido para essa tarefa em função do pioneirismo de seu projeto de “Felicidade Nacional Bruta” - FNB (Gross National Happiness - GNH). “Progresso” na definição dos autores desse projeto, “deveria ser visto não apenas através das lentes da economia como também a partir de perspectivas espirituais, sociais, culturais e ecológicas”. Felicidade e desenvolvimento, em outras palavras, dependem em mais fatores do que o crescimento e acumulação de capital. Inglaterra, Canadá e outros países e organizações de dimensões nacionais seguiram na mesma direção do Butão, estabelecendo medidas de FNB (LEVINE, 2013). Um dos domínios centrais do índice de FNB do Butão é “emprego do tempo” que correspondeu à minha participação no relatório do grupo de estudo. Este artigo está bastante apoiado naquele relatório e nas inferências que o projeto me proporcionou. Discuto quatro conjuntos de temas: I. As interrelações entre tome, dinheiro e felicidade. Máxima importância, qual a relevância do emprego do tempo com o bem estar e a felicidade? II. Emprego do tempo: questão dos horários e políticas de organização do trabalho. III. Outors fatores tempais que devem ser considerados ao formularo políticas de promoção de felicidade.. IV. Sugestões para elaboração de políticas: a chamada para uma “Lei de Direitos Temporais”.
  • A ilusão dos relógios: uma ameaça à saúde

    A ilusão dos relógios: uma ameaça à saúde

    por 
    Mario Pedrazzoli
    resumo 
    A mecanicidade ou digitalidade dos relógios representa a imutabilidade da duração de frações de tempo. A contagem das 24h de um dia teve como referência, a princípio, as pistas ambientais associadas às condições do dia e da noite que são diferentes em diferentes locais da terra e portanto mutáveis. A emergência de uma sub-área da Biologia, a Cronobiologia, em meados do século XX permitiu a interpretação de que a apreensão do tempo de um dia como regularidade mecânica aliena os seres humanos da percepção da temporalidade diária como integração entre temporalidade ambiental e temporalidade biológica. Pretendo demonstrar que esse equívoco perceptual da duração do tempo de um dia pode ter como consequência uma desorganização temporal fisiológica que é a origem ou está associada a origem de muitas doenças modernas.
  • Os horários fora de lugar – ritmos biológicos e literatura

    Os horários fora de lugar – ritmos biológicos e literatura

    por 
    Muara Kizzy Figueiredo
    resumo 
    Este trabalho analisa a relação existente entre personagens e ambiente e objetiva investigar como, supostamente, se deu a implantação no Brasil do século XIX dos ritmos sociais europeus, tendo em vista os ritmos biológicos da população brasileira (em termos coletivos) – adaptada ao ambiente tropical. Para tal estudo, foram analisados alguns textos literários do período (em especial a obra de Machado de Assis e Eça de Queirós) - visando identificar menções aos horários de sono, refeições, atividades sociais e aspectos do sono; bem como a leitura de autores contemporâneos que discutem a construção de identidades nacionais – em especial no Brasil – e ainda; autores que investigam a temática do tempo – seja em termos cronológicos, psicológicos e biológicos.
    palavras-chave 
  • Slow movement: reação ao descompasso entre ritmos sociais e biológicos

    Slow movement: reação ao descompasso entre ritmos sociais e biológicos

    por 
    Rafael Chequer Bauer, Alexandre Panosso Netto e Luiz Gonzaga Godoi Trigo
    resumo 
    Este artigo discute o descompasso entre os ritmos biológicos e os ritmos sociais emergentes a partir da Revolução Industrial. Para tal, são apresentados indícios de mudanças rítmicas nas últimas décadas, acarretando um processo contínuo e profundo de aceleração e mecanização sociocultural, predominante nas estruturas societárias capitalistas. Em seguida, discute-se a relação entre ritmos sociais e ritmos biológicos, com a contribuição conceitual advinda da Cronobiologia. Por fim, destaca-se o processo de surgimento e consolidação do Slow Movement nas últimas décadas, tornando-se mais um indício da desarticulação temporal vivenciada nos dias atuais.
  • Os tempos da vida

    Os tempos da vida

    por 
    Luiz Menna-Barreto
    resumo 
    O tema do tempo tem atraído bastante atenção no ambiente acadêmico contemporâneo. Apresentarei uma abordagem na qual são associados os conceitos de condicionamento reflexo clássico com a cronobiologia, área na qual a dimensão temporal da matéria viva é explorada. O conceito de antecipação é proposto como elo central dessa associação. Discuto a seguir os níveis de determinação que podem ser propostos a partir da observação de fenômenos temporais nos organismos. Concluo com as noções de desafios e armadilhas temporais que parecem caracterizar fortemente os dilemas humanos num mundo globalizado, conduzindo a diferentes processos de adaptação resultantes desses desafios e armadilhas.
  • Resenha do livro Aceleração e alienação: Esboço de uma teoria crítica da temporalidade na Modernidade tardia, Harmut Rosa

    Resenha do livro Aceleração e alienação: Esboço de uma teoria crítica da temporalidade na Modernidade tardia, Harmut Rosa

    por 
    Rafael H. Silveira
    resumo 
    Em Aceleração e alienação: Esboço de uma teoria crítica da temporalidade na Modernidade tardia, Hartmut Rosa recapitula resumidamente e amplia sua Teoria da Aceleração Social. A ampliação da teoria se dá em primeiro lugar através da análise de elementos desaceleradores da tendência aceleratória e, em seguida, da análise das consequências da aceleração para a Teoria Crítica social atual, cujos questionamentos levantados e respostas dadas até o presente momento não apresentariam uma solução para a perda da credibilidade do projeto da Modernidade, uma vez que a aceleração social teria sucumbido e instrumentalizado a possibilidade de autonomia prometida. Partindo da busca de uma resposta à questão de o que seria uma vida plena, Rosa retraça, assim, o contexto do surgimento de diferentes categorias de alienação, retratando em sua teoria uma tendência social crescente extremamente relevante e em crescimento na era moderna.

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  • Editorial

    Editorial

    por 
    os editores
    resumo 
    A Revista Estudos Culturais chega agora ao seu número três, no mesmo momento em que o Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da EACH-USP completa seu sexto ano de atuação. O amadurecimento de nossas empreitada é marcado pela amplitude dos temas desta edição da Revista. O campo dos estudos culturais, sempre liberto das amarras disciplinares tradicionais, aparece aqui em várias de suas múltiplas chaves.
  • Sobre os autores

    Sobre os autores

    resumo 
    Eduardo Wanderley Martins, Carlos Velázquez, Damián Cabrera, Madalena Pedroso Aulicino, Daniela Signorini Marcilio, Agnès García Ventura, André Vitor Brandão Kfuri Borba e Mariana Moreira.
  • Mídia: o Novo Totem Dessacralizado

    Mídia: o Novo Totem Dessacralizado

    por 
    Eduardo Wanderley Martins e Carlos Velázquez
    resumo 
    O presente texto tem como objetivo refletir sobre a função de mediação da Mídia para o Sagrado, partindo da concepção de Mídia como novo totem nas sociedades contemporâneas. Sob a metodologia indutivo-analítica de base bibliográfica e documental, explora-se a hipótese de que a mídia, como novo totem nas sociedades midiáticas , cumpre a função organizadora, mas não a função mediadora. A mídia não liga as aspirações e necessidades humanas ao Transcendente, encerrando em si mesma a satisfação dessas aspirações através do fornecimento de bens simbólicos, mas que não têm contato com suas fontes originárias – não há relação com o Sagrado. Dessa forma, a mídia se apresenta nas sociedades midiáticas como um totem dessacralizado - oferece bens de grandes valores universais, mas desprovidos de lastro divino.
    palavras-chave 
  • Literatura paraguay/guaraní - transversalidades

    Literatura paraguay/guaraní - transversalidades

    por 
    Damián Cabrera
    resumo 
    Passando por trabalhos compilatórios dos escritores paraguaios Augusto Roa Bastos e Rubén Bareiro Saguier, e a partir de discursos literários e não literários, analisa-se a ambiguidade fundada na palavra guarani; que designa, indistintamente, uma língua, uma cultura, uma etnia; e que, por metonímia, constitui-se em apelido-gentílico dos paraguaios. Relações entre literatura paraguaia e literatura Guarani são exploradas, desde a perspectiva dos autores citados; tanto conhecedores e divulgadores da mesma, como dois dos poucos paraguaios capazes de ultrapassar um cerco de isolamento cultural graças, em parte, ao exílio político; sob a luz de uma tradição crítica latino-americana hispanizante que, enquanto invisibiliza a literatura paraguaia, contribui com uma mistificação dela, fundada em sua peculiaridade linguística, seja ela real ou inventada.
    palavras-chave 
  • O brincar e o saber de experiência: uma forma de resistir

    O brincar e o saber de experiência: uma forma de resistir

    por 
    Madalena Pedroso Aulicino e Daniela Marcílio
    resumo 
    O brincar é uma atividade livre e séria, possui finalidade autônoma e é um intervalo da vida cotidiana (HUIZINGA, 2005; CAILLOIS, 1990). A criança se desenvolve, adquire experiência, constrói e transmite sua cultura lúdica brincando (WINNICOTT, 1979; BROUGÈRE, 2008). Mas, que brincar é esse promovido e recomendado na atualidade? O objetivo desse artigo é refletir sobre a redução do tempo da infância em prol de uma ideologia da produção e do consumo, que valoriza a informação, o conhecimento e o aprendizado técnico e científico, e reduz o “saber de experiência” (BONDÍA, 2002). Nesse contexto, a retomada do brincar como atividade livre e uma experiência de vida seria uma possibilidade de resistência aos valores vigentes. Constatou-se que os Estudos Culturais como estratégia crítica e política podem contribuir para repensar o brincar hoje.
    palavras-chave 
  • Investigación feminista, historia de las mujeres y mujeres en la historia en los estudios sobre Próximo Oriente Antiguo

    Investigación feminista, historia de las mujeres y mujeres en la historia en los estudios sobre Próximo Oriente Antiguo

    por 
    Agnès García Ventura
    resumo 
    Suele decirse que el estudio del pasado siempre tiene relación con el presente y con el futuro, bien porque presente y futuro se construyen a su imagen y semejanza, bien porque no podemos imaginar un pasado sin los referentes de nuestro presente. Por este motivo, ocuparse de la historia de las mujeres en la Antigüedad y de cómo incluir a las mujeres en la historia, nos permite reflexionar acerca de la situación de las mujeres en el mundo presente en el que vivimos y en el mundo futuro en el que querríamos vivir. En este artículo propongo aproximarnos a este tema con las herramientas críticas de la investigación feminista, ilustrando la propuesta con algunos ejemplos acerca de cómo algunos sesgos pueden afectar al modo en que se aborda el estudio de las vidas de las mujeres en el Próximo Oriente Antiguo.
  • A higienização do século XIX e o "contra corrupção" do século XXI: Similaridades no discurso das elites no Brasil

    A higienização do século XIX e o "contra corrupção" do século XXI: Similaridades no discurso das elites no Brasil

    por 
    André Vitor
    resumo 
    Cada momento histórico é único, mas carrega em si tensões permanentes, num paradoxo entre o novo e o velho, valendo-se de novas experiências sem, entretanto, negar toda a bagagem cultural adquirida. Assim, este trabalho busca relacionar dois momentos distintos da história do Brasil, mas com características em comum: a higienização do início da República e o momento recente, em que estava em jogo o mandato da presidente Dilma Rousseff. Por ser o Brasil um país com pouca mobilidade social e sem alterações substanciais no seu controle político, veremos como os interesses das camadas superiores da sociedade se reproduzem e se perpetuam, no intuito de fazer a população aderir a essa ideologia em favor de seus interesses privados.
    palavras-chave 
  • Resenha do livro Memória Coletiva e Identidade Nacional, Miryam Santos

    Resenha do livro Memória Coletiva e Identidade Nacional, Miryam Santos

    por 
    Mariana Moreira
    resumo 
    A presente resenha aborda o livro “Memória Coletiva e Identidade Nacional”, de autoria de Myrian Sepúlveda dos Santos. Importante pesquisadora de temas como memória, identidade, práticas políticas, culturais e relações raciais, obteve seu título de doutora em Sociologia pela New School for Reserch de Nova Iorque e desenvolveu pesquisas em pós-doutorado no Centro de Estudos Latino-Americanos da University of Cambridge; no Centro de Pesquisa sobre Relações Sociais da Université de Paris V e no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Atualmente é professora associada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e coordena o Grupo de Pesquisa Cultura e Poder, registrado no CNPQ Arte, e o museu Afrodigital. Suas análises abordam teorias de nomes de grande relevância para os Estudos Culturais como Karl Marx, Walter Benjamin, Michel Foucault, Maurice Halbwach, Stuart Hall entre outros.
    palavras-chave 
artigo anterior 

Funk ostentação em São Paulo: imaginação, consumo e novas tecnologias da informação e da comunicação

por 
Alexandre Barbosa Pereira
resumo 
O artigo aborda a configuração recente de um movimento musical, protagonizado principalmente por jovens de origem pobre, em São Paulo, o funk ostentação. A partir da pesquisa em casas noturnas e da observação de videoclipes na internet, explora-se a importância das referências a marcas de diferentes produtos e bens de valor elevado e a imagem como componente fundamental para a apresentação e divulgação desse estilo musical. Nesse circuito funk, a proposição de Arjun Appadurai sobre a centralidade do deslocamento pelas migrações e novas tecnologias da comunicação mostra-se como um caminho importante para se refletir sobre esse funk a partir da ideia de imaginação.
próximo artigo 

Estudios culturales en América Latina

por 
Eduardo Restrepo
resumo 
Duas grandes confusões parecem operar, com frequência, nos discursos em torno dos estudos culturais na América Latina. A primeira é a equivalência de estudos culturais e estudos sobre a cultura. A segunda, muito frequente no contexto estadunidense, é misturar sob o rótulo de estudos culturais a produção heterogênea de intelectuais latino-americanos que abordaram assuntos de cultura e poder e a de acadêmicos latino-americanistas das universidades do Norte. Neste artigo se evidenciam os problemas de ambas as confusões e se sublinham algumas de suas nefastas consequências para a articulação de um projeto intelectual e político de estudos culturais na América Latina.
 
dossiê sobre cultura popular urbana

Marcos fundamentais da Literatura Periférica em São Paulo

por 
Antonio Eleison Leite
resumo 

A literatura da periferia de São Paulo se divide em dois períodos históricos: a) Literatura Marginal, de 2000 a 2005 e b) Literatura Periférica, a partir de 2005 até os dias atuais. A primeira fase teve como marco inaugural a publicação do livro Capão Pecado, de Ferréz, no ano 2000, obra muito influenciada pela cultura hip hop, especialmente o RAP. Este escritor foi o principal nome dessa fase, sendo também seu maior articulador, ao coordenar inúmeras coletâneas literárias que proporcionaram o surgimento de dezenas de autores. O segundo período é marcado pela ascensão dos saraus, principalmente do Sarau da Cooperifa. Este Coletivo publicou sua antologia em 2005 e estimulou diversos saraus a fazerem o mesmo. Viabilizados, em boa parte, por políticas públicas, perto de 200 livros, coletivos e individuais, foram lançados desde então, configurando um vigoroso movimento cultural. Entretanto, passados 12 anos, a rubrica periférica e/ou marginal se mostra insuficiente para identificar essa prática literária. Este artigo apresenta duas hipóteses para superação desse problema. A primeira é contextualizar a literatura periférica como uma dimensão da cultura popular urbana, ampliando assim o seu alcance como expressão cultural, sem prejuízo da sua identificação de origem. A segunda é de ordem estética e implica na afirmação da busca da qualidade como um imperativo da criação. Esse desafio, porém, requer, por parte dos escritores, uma disposição para se submeterem à crítica, ao mesmo tempo em que torna-se necessário um novo paradigma crítico que possa responder à especificidade dessa literatura.

abstract 

Literature from the outskirts of São Paulo is divided in two historical periods: a) Literatura Marginal (marginal literature), from 2000 to 2005, and b) Literatura Periférica (peripheral literature), from to 2005 to present days. The first phase had as starting point the release of the book Capão Pecado, from Ferréz, in 2000, a work much influenced by hip hop culture, particularly RAP. Its author was the main actor during this phase, also being its most important advocate, by coordinating several literary selections that allowed for the emergence of tens of authors. The second period is marked by the rise of the saraus (literary evenings), notably the Sarau da Cooperifa (literary evenings from Cooperifa). This collective published its anthology in 2005 and supported several other saraus into doing the same. Made possible, for most part, by public policies, around 200 books, both collaborative and single-authored, were released since then, shaping a vigorous cultural movement. However, as 12 years have passed, the label marginal and/or periférica have become inadequate to identify such literary practice. This article presents two hypothesis to overcome such problem. The first one is two contextualize Literatura Periférica as a dimension of popular urban culture, widening, as such, its range as cultural expression, without any detriment to its origin identification. The second one is of aesthetic order and implies the statement of search for quality as an imperative of creation. This challenge, however, requires the writers’ disposition to undergo critique, while at the same time a new critical paradigm that can attend to the specificity of such literature becomes a necessity.

 

A escrita periférica como elemento da cultura popular urbana

O escritor da periferia encontra-se numa bifurcação semelhante a do escritor latino americano a que se refere Silviano Santiago, entre a assimilação de um modelo e a transgressão e nesse cruzamento busca seu texto:

Entre o sacrifício e o jogo, entre a prisão e a transgressão, entre a submissão ao código e a agressão, entre a obediência e a rebelião, entre a assimilação e a expressão – ali nesse lugar aparentemente vazio, seu templo e seu lugar de clandestinidade, ali se realiza o ritual antropófago da literatura latino-americana (SANTIAGO, 1978, p. 28)

Não me parece porém que o escritor periférico sofra de um “torcicolo cultural”, pelo menos crônico, usando as palavras de Roberto Schwarz ao citar a tendência histórica no Brasil, em particular das artes, de adotar modelos que não se ajustam a nossa realidade:

[...] Para as artes, no caso, a solução parece mais fácil, pois sempre houve modo de adotar, citar, macaquear, saquear ou devorar as maneiras e modas todas, de modo que refletissem, na sua falha, a espécie de torcicolo cultural em que nos encontramos. (SCHWARZ, 2009, p. 76-77)

Embora não seja possível estabelecer, neste momento, um nível confiável de generalização, a literatura produzida na periferia de São Paulo parece gozar de uma certa originalidade. Isso não lhe tira da exposição à influências. Não há evidências de estrangeirismos, não obstante, duas características associadas a essa literatura tenha raízes fora do Brasil. Uma é o RAP (rythm and poetry), gênero musical criado nos Estados Unidos na década de 1970, um dos elementos da cultura hip hop. Presente no Brasil desde a segunda metade da década de 1980, o RAP se espalhou pelas periferias estimulando a criação poética entre os jovens e é, a meu ver, o fator mais importante de ressignificação positiva da periferia, base sobre a qual podemos hoje falar de cultura de periferia e, por extensão, de uma literatura periférica.

Outra é o sarau. Este tipo de reunião artística muito disseminada nos salões das elites parisienses no Século XIX foi trazido para o Brasil num desses processos de macaqueação ao qual se refere Schwarz. Fora de moda há muitos anos, o sarau ressurgiu num boteco de quebrada na periferia da Zona Sul de São Paulo com os poetas da Cooperifa em 2001[1][1] Sarau criado por Sergio Vaz e Marco Pezão em 2001 no Taboão da Serra, migrado 2 anos depois para o Bar do Zé Batidão no bairro Chácara Santana na periferia da Zona Sul de São Paulo onde está até hoje realizando encontros semanais ininterruptos todas as quartas-feiras dos quais participam cerca de 50 poetas e mais de 100 pessoas na plateia. É o maior e mais antigo sarau da periferia de São Paulo. Ver: VAZ, Sergio: Antropofagia Periférica – O Sarau da Cooperifa. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2008. . Nos recitais da Belle Époque francesa e brasileira se declamavam poesia das arcádias, do romantismo, versos parnasianos. Parece uma ideia fora do lugar se pensado no ambiente de um bar em bairro popular. Desses estilos literários porém, o que se ouve na Cooperifa é apenas Castro Alves (Navio Negreiro) , recitado por um poeta negro ( Helber Ladslau ) em grande performance. No mais, são poesias de autoria dos próprios frequentadores do sarau, letras de canções e muitos RAPs em composições que abordam a realidade local numa representação lírica das vivências dos poetas que fazem uso desse recurso estético para se expressarem.

Tanto um aspecto “estrangeiro” quanto o outro corroboram para uma característica fundamental da literatura da periferia que é a oralidade. A literatura periférica não pode ser abordada apenas pela obra que se encontra publicada. Até mesmo as coletâneas de saraus onde estão lá muitos poemas que surgiram antes na boca dos poetas diante do microfone e da plateia sedenta não podem ser analisadas apenas na frieza do papel.

Essa assimilação ressignificada de modelos externos à cultura brasileira é uma das chaves para entender a cultura periférica, porém não única. A base fundamental da cultura periférica é a cultura popular no sentido de contemporânea e também histórica (WILLAMS, 2007, p. 319). Uma cultura que tem no seu inventário a tradição do circo-teatro com seus dramas, melodramas e as comédias, presentes no imaginário dos apreciadores dos espetáculos circenses tão comuns desde as décadas de 1960 até 1980 nas periferias de São Paulo (MAGNANI, 2003), os sambas de terreiro, sambas de partido alto que remetem aos batuques dos escravos nas senzalas, tocados nas rodas de samba atualmente, assim como os DJs de RAP sampleando sons de todos os tipos a partir de um notebook conectado ao mixer das pick-ups. É como diz Alfredo Bosi (1994, p. 55): “A cultura do povo é localista por fatalidade ecológica, mas na sua dialética humilde é virtualmente universal: nada refuga por princípio, tudo assimila e refaz por necessidade.”

Todo texto é intertexto, ou seja, formado por outros textos. Há na obra portanto um autor implícito (BOOTH, 2008). Assim ocorre com a Literatura Periférica. Toda a originalidade e o vigor da cultura da periferia e da literatura periférica reside nessa força popular, posto que é uma produção simbólica emanada das classes populares, nela referenciada e para ela voltada num movimento de autovalorização nos termos que propõe Stuart Hall:

O papel do “popular” na cultura popular é o de fixar a autenticidade das formas populares enraizando-as nas experiências das comunidades populares das quais elas retiram o seu vigor e nos permitindo vê-las como expressão de uma vida social subalterna específica, que resiste a ser constantemente reformulada enquanto baixa e periférica. (HAAL, 2011, p. 323)

O caso em questão aqui não dispensa o termo periférico, porém dá a ele um significado positivo de afirmação, dessa forma, inclusive, a cultura popular na sua relação com a cultura de periferia nos permite forjar o termo “cultura popular periférica”, atribuindo assim o aspecto urbano inerente ao adjetivo ”periférico”, uma nomenclatura permeada de significados e contradições estando exposta, inclusive, aos riscos da mercantilização como adverte o próprio Hall:

Ela é o espaço da homogeneização em que os estereótipos e as fórmulas processam sem compaixão o material e as experiências que ela traz para dentro de sua rede, espaço em que o controle sobre as narrativas e representações passa para as mãos das burocracias culturais, às vezes até sem resistência. (HALL, 2011, p. 323)

Literatura Marginal x Literatura Periférica

Considerando, portanto, a Literatura Periférica como uma manifestação da cultura popular urbana, busco aqui estabelecer, sem pretensões conclusivas, alguns marcos que ajudam a compreender a sua gênese e o seu desenvolvimento. Tomando a publicação do livro Capão Pecado, de Ferréz no ano 2000 como obra fundadora deste movimento, localizo dois períodos históricos distintos por meio dos quais é possível observar a emergência dessa expressão cultural entendendo-a como um fenômeno que está “continuamente criando novos significados, valores, práticas e relações” (WILLAMS, 1979, p. 126). O primeiro período é marcado exatamente pela atuação do escritor Ferréz. Além de se firmar na cena literária periférica, tendo inclusive extrapolado seu circuito ao se posicionar no mercado, este autor foi um fomentador da produção literária de escritores marginalizados ao lançar mão de iniciativas como os suplementos literários Literatura Marginal, publicados pela Revista Caros Amigos. O segundo ciclo está associado ao movimento dos saraus literários que cresceu a partir de 2005, tendo a Cooperifa como principal expoente dessa vertente.

A literatura de Ferréz, bem como a escrita de muitos dos autores por ele lançados, filia-se esteticamente ao movimento hip hop, tendo no RAP uma influência fundamental, remetendo assim as origens da literatura periférica à década de 1990 onde o Movimento Hip Hop se consolidou impulsionado pelo sucesso do grupo Racionais MC’s[2][2] Criado em 1990, o Racionais MC’s ganhou destaque com seu terceiro CD Raio X do Brasil lançado em 1993 que teve rapa de sucesso como O Homem na Estrada e Fim de Semana no Parque. Em 1997, o grupo lançou o CD Sobrevivendo no Inferno que obteve um sucesso avassalador com os raps Diário de Um Detento, Fórmula Mágica da Paz, Capitulo 4 Versículo 3, entre outros.. Esse período liderado por Ferréz é chamado de Literatura Marginal, pois assim, ele o denominou, imprimindo esta marca aos produtos literários que empreendeu. Já a produção literária vinculada aos saraus expande o arco de influências, incorporando uma escrita vinculada à negritude (algo presente no Rap também), à música popular brasileira, aos cânones da literatura brasileira, além do próprio Hip Hop, adensando uma produção literária que adquiriu forma de livro a partir de diversas coletâneas publicadas com o apoio de editais públicos, notadamente do Valorização de Iniciativas Culturais (VAI)[3][3] Programa de fomento da Prefeitura de São Paulo, criado em 2004 que financia projetos de jovens até 29 anos, moradores de bairros periféricos aportando atualmente a quantia de R$ 21.000,00. Cerca de 10% dos projetos do VAI são destinados a projetos de literatura, sendo que vários deles resultam na publicação de livros. como será visto adiante. Esse período é marcado pela emergência do termo Literatura Periférica. A homologação dessa terminologia tem seu marco histórico no I Encontro de Literatura Periférica, organizado por Allan da Rosa e pela ONG Ação Educativa em 2005 por ocasião do lançamento do livro de poesia Vão, obra de autoria deste poeta[4][3] Programa de fomento da Prefeitura de São Paulo, criado em 2004 que financia projetos de jovens até 29 anos, moradores de bairros periféricos aportando atualmente a quantia de R$ 21.000,00. Cerca de 10% dos projetos do VAI são destinados a projetos de literatura, sendo que vários deles resultam na publicação de livros.

Ao longo desses dois períodos históricos mais de 100 livros foram publicados[5][5] Não há um número preciso de títulos publicados, mas esta cifra superior a 100 é confiável, posto que possuo em meus arquivos e fazem parte do corpus de minha pesquisa, 103 obras. Importante destacar neste aspecto, a importância do Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), Programa de fomento da Prefeitura de São Paulo que, ao longo de 8 anos de existência, apoiou mais de 800 projetos, pouco mais de 100 deles relacionados à literatura e cerca de 60 dos quais resultaram na publicação de livros.. Inúmeros autores talentosos apareceram, o número de saraus se multiplicou, a Global Editora lançou uma coleção dedicada ao gênero, lançando autores no mercado[6][6] Trata-se de Coleção Literatura Periférica que surgiu em 2007 e tem oito títulos no catálogo.. A cena literária se firmou, se adensou e se ramificou. Inúmeras denominações surgiram dentro do movimento. Não há, porém, uma disputa acirrada, um campo de tensão. As diferentes denominações da literatura produzida na periferia (marginal, periférica, divergente, literarua, literatura hip hop, literatura negra), são menos uma evidência de facções e mais uma indicação de diversidade de concepções estéticas, tendo os termos Literatura Marginal e Literatura Periférica, como as principais denominações, sendo a segunda com maior presença há alguns anos. Isto posto, busco identificar na minha pesquisa uma caracterização dessa literatura a partir do reconhecimento de sua originalidade artística e qualidade estética.

Primeiro período (2000 a 2005): Ferréz e a Literatura Marginal

Capão Pecado – obra seminal

Reginaldo Ferreira da Silva adotou a alcunha Ferréz em função de seu engajamento político. Este nome é a junção de Virgulino Ferreira: Ferre, o Lampião, e Zumbi dos Palmares: Z (NASCIMENTO, 2008, p. 200). Iniciou sua carreira literária com um livro de poesia concreta, chamado Fortaleza da desilusão publicado em 1997 quando tinha 22 anos de idade. Nessa época foi seduzido pelo Rap, tomou consciência política, adotou o nome de guerra e publicou Capão Pecado no ano 2000, pela Editora Labortexto. A partir de 2005 passou a editar esta obra pela Editora Objetiva e entre uma edição e outra, lançou em 2003 seu segundo romance Manual prático do ódio, também pela Editora Objetiva, firmando seu nome na cena literária extrapolando o circuito restrito da Literatura Marginal.

“Querido sistema”, você pode até não ler, mas tudo bem, pelo menos viu a capa

Ferréz fez de Capão pecado uma obra coletiva. Não se trata de uma autoria coletiva. A coletividade se expressa nos paratextos através da participação de seis autores, quatro deles grupos, que publicam seus textos na abertura dos capítulos e na orelha[7][7] Os escritores são: Gaspar ( Z’áfrica Brasil)texto de orelha; Mano Brow ( Racionais MC’s) A número 1, sem troféu ( abertura da primeira parte); Conexão do Morro – Senhora Zona Sul( abertura da segunda parte); Outra Versão – Se eu quero, eu posso, eu sou ( abertura da terceira parte); Realismo Frontal – Talvez seja melhor seguir na honestidade ( abertura da quarta parte); Conceito Moral – Ponto de Vista sobre o campo de batalha( abertura da quinta parte).. A epígrafe, cOs escritores são: Gaspar ( Z’áfrica Brasil)texto de orelha; Mano Brow ( Racionais MC’s) A número 1, sem troféu ( abertura da primeira parte); Conexão do Morro – Senhora Zona Sul( abertura da segunda parte); Outra Versão – Se eu quero, eu posso, eu sou ( abertura da terceira parte); Realismo Frontal – Talvez seja melhor seguir na honestidade ( abertura da quarta parte); Conceito Moral – Ponto de Vista sobre o campo de batalha( abertura da quinta parte).ontundente e irônica, dá a justa medida dos propósitos dos participantes da obra:

A capa de fato é provocativa aos olhos de um observador vinculado às classes dominantes e que, portanto, responde pelo “Sistema”. Traz a imagem de um menino aparentemente na faixa de 12 anos de idade com uma arma em punho e braços abertos, tendo ao fundo uma foto panorâmica de um denso conjunto de casas precariamente erguidas, paisagem muito comum nas áreas mais pobres das periferias, conhecidas como Quebrada. Tendo os olhos ocultados graficamente por uma tarja preta que lhe confere anonimato, este “soldado” parece ser o guardião daquele lugar denominado Capão Pecado que é o bairro do Capão Redondo, distrito da Zona Sul de São Paulo. No canto inferior direito da capa aparece em destaque a participação de Mano Brown, líder do Racionais MC’s, outorgando ao livro uma credencial fundamental, posto que ele é um ilustre morador daquele bairro além de figura de muito prestígio político e artístico; um selo de credibilidade pra o livro.

Quase todos os autores manifestam simpatia ou se afirmam como integrantes da 1Da Sul, organização criada por Ferréz em 1999 que quer dizer somos todos Um pela dignidade da Zona Sul (NASCIMENTO, 2008, p. 268). Concebida nos moldes de uma posse de hip hop, a 1Da Sul tem derivações, inclusive comerciais, posto que é nome de uma grife e loja de roupas e acessórios, mantida até os dias de hoje pelo escritor.

Essa coletividade dos manos expressa no livro por meio dos textos e da iconografia remete às imagens do material gráfico do CD Sobrevivendo no inferno, do Racionais MC’s, de 1997 também abundantemente ilustrado com fotos de jovens negros em grandes grupos, todos homens, alguns de arma na mão em atitude de desafio, prontos para o combate. Há portanto uma vinculação estética muito evidente entre o livro e o CD reforçando o que a psicanalista Maria Rita Kehl definiu como frátria.

O tratamento de “mano” não é gratuito. Indica uma intenção de igualdade, um sentimento de frátria, um campo de identificações horizontais em contraposição ao modo de identificação/dominação vertical da massa em relação ao líder ou ao ídolo. (KEHL, 2000, p. 212, grifos da autora)

Encarte do CD Sobrevivendo no inferno do Racionais MC,s, 1997

Essa característica estabelece uma importante distinção entre Capão pecado e a obra Cidade de deus, de Paulo Lins, publicada três anos antes, livro em relação ao qual, Capão foi e ainda é muito associado. É certo que há semelhanças em vários elementos, porém não é algo fundamental, porque as comparações só fazem sentido em função da semelhança dos contextos e não na estrutura do texto.

Vejamos algumas diferenças. Primeiro que a dimensão coletiva não está colocada na obra do escritor carioca. Muito menos há a presença do hip hop, nem poderia, pois Cidade de deus termina na primeira metade da década de 1980. Por último a história. Capão pecado tem no seu foco narrativo uma história de amor improvável que termina em tragédia. Já Cidade de deus apresenta três histórias de bandidos que se entrecruzam, onde o foco da narrativa é a própria formação da criminalidade em torno do tráfico de drogas e a organização urbana de uma favela gigantesca formada por moradores despejados de várias outras favelas do Rio de Janeiro em um contexto histórico definido (décadas de 1960 a 1980).

Capão pecado mostrou ter originalidade e vigor literário o suficiente para se manter até os dias de hoje como uma obra de referência e um êxito de mercado com sucessivas reimpressões. Não se trata de um grande romance. Não está à altura de Cidade de deus, obra muito mais densa e melhor articulada. O romance Manual prático do ódio, a meu ver, é um livro melhor elaborado, embora não tenha tido o mesmo destaque. Mas Capão pecado não estaria até hoje em discussão se não fosse uma obra relevante. Além de seus méritos literários, esta obra marca com muita propriedade o surgimento do movimento literário na periferia de São Paulo que Ferréz chama de Literatura Marginal.

Antologias da Literatura Marginal

Ferréz era colunista da Revista Caros Amigos, periódico de grande circulação e penetração no público progressista e de esquerda. Já desfrutava de certo reconhecimento como escritor quando negociou com a Editora Casa Amarela que edita a referida revista a publicação de um suplemento literário que reunisse escritores da periferia não só de São Paulo, mas de outras regiões metropolitanas do Brasil. Surgiu o Caros AmigosLiteratura Marginal que teve três edições denominadas Atos I, II e III, publicados respectivamente nos anos 2001, 2002 e 2004.

Nas páginas deste suplemento foram editados 80 textos de 56 autores, sendo 13 deles rappers. Dentre todos os autores havia apenas oito mulheres, corroborando para a imagem inequívoca da predominância masculina no movimento de literatura marginal, aspecto herdado do Hip Hop. Com tiragem de 30 mil exemplares cada, os suplementos venderam cerca de 50 mil cópias causando um impacto importante em termos de difusão dos textos dando um contorno para o movimento que estava emergindo. Os autores por sua vez guardavam uma razoável diversidade entre si. Figuravam entre eles escritores reconhecidos como João Antonio, Plinio Marcos, Solano Trindade, Paulo Lins e Lima Barreto. Há um texto do Subcomandante Marcos, líder do Exército Zapatista do México. Entre os rappers estava Mano Brown e GOG. Entre os autores ainda hoje ativos e bem posicionados no circuito da literatura periférica, estão, entre outros, Sergio Vaz, Sacolinha, Alessandro Buzo e Allan da Rosa.

Em 2005, Ferréz encerra o ciclo da Literatura Marginal publicando um livro com o nome de Literatura Marginal – Talentos da escrita periférica, editado pela Editora Agir, do Grupo Ediouro, sediada no Rio de Janeiro. Nesta obra Ferréz apresenta 25 textos de 10 autores (apenas uma mulher) sendo quatro deles rappers. Este livro representou a entrada desses escritores no mercado editorial a partir de uma grande editora. Mas a insígnia Literatura Marginal foi perdendo espaço para outra nomenclatura chamada Literatura Periférica que ganhou força com os saraus literários e com a produção editorial feita pelos próprios autores com ajuda de editais públicos de fomento.

Segundo período (2005 a 2012): Os saraus, coletivos e a Literatura Periférica

Sarau da Cooperifa

O movimento dos saraus literários teve início com a Cooperifa que desde outubro de 2001 vinha organizando seus encontros semanais no Bar Garajão em Taboão da Serra, município da Região Metropolitana de São Paulo que faz divisa com a região do Campo Limpo na capital. Criado pelos poetas Sergio Vaz e Marco Pezão, o sarau da Cooperifa mudou-se dois anos depois para o Bar do Zé Batidão, que fica no bairro Chácara Santana, periferia da Zona Sul de São Paulo. O motivo da transferência foi o despejo decorrente da venda do Garajão. Surpreendidos, os poetas encontraram abrigo no bar que já havia pertencido ao pai de Sergio Vaz (VAZ, 2008). Até 2004, a Cooperifa era o único sarau literário regular da periferia paulistana. A partir daquele ano o poeta Binho criou seu evento semanal que acontecia em seu bar no bairro do Campo Limpo, não muito distante do Bar do Zé Batidão.

Quando já havia ganho projeção, tendo sido objeto de várias reportagens na Grande Mídia, a Cooperifa teve a iniciativa de agregar outras ações ao sarau que se restringia às declamações em seus encontros de quartas-feiras. Com o apoio do Instituto Itaú Cultural, publicaram sua primeira Coletânea: O rastilho da pólvora – antologia poética do sarau da Cooperifa. Negociado em novembro, o livro foi lançado no dia 22 de dezembro de 2004, repercutindo portanto a partir de 2005. Tendo somente poesias, a obra traz 61 poemas de 43 autores, sendo apenas três mulheres. Foi a primeira coletânea de um sarau. O feito causou grande impacto no movimento e despertou em outros coletivos o desejo de fazer também seu livro. Começava um novo ciclo da literatura da periferia.

A própria Cooperifa se se sentiu fortalecida após a publicação do livro que foi vendido de mão em mão pelos próprios poetas que dele participaram, esgotando-se em poucas semanas. Na época o Sarau ainda não tinha sua famosa logomarca com um menino empinando uma pipa. Até então a marca da Cooperifa era uma navalha, imagem antagônica à natureza lúdica da atual logomarca. Essa mudança é algo importante na trajetória do Sarau. A Cooperifa se abre a parcerias, se expande e inova mais uma vez publicando em 2006, novamente em parceria com o Itaú Cultural, um CD do qual participaram 26 poetas (quatro mulheres) cada um com uma poesia. Os feitos da Cooperifa repercutem e disseminam uma imagem muito positiva do sarau, fascinando a Mídia, ONGs, lideranças políticas e setores da intelectualidade. Esse sucesso acaba por influenciar a criação de vários saraus em todas as regiões. O movimento de literatura, até então restrito às publicações coletivas do Ferréz se completa com a força da oralidade e performances dos saraus.

Edições Toró

No ano de 2005 surge a Edições Toró com a publicação do livro Vão, de Allan da Rosa. A obra foi lançada em outubro daquele ano num evento denominado pelo autor de I Encontro da Literatura Periférica. Cerca de 200 pessoas, muitas delas ligadas ao Sarau da Cooperifa, do qual Allan era assíduo frequentador, participaram do encontro que consistiu num grande recital e algumas falas políticas. Poetas e escritores de várias partes da Grande São Paulo compareceram à sede da ONG Ação Educativa onde aconteceu o Encontro. Até o Ferréz apareceu, mas um tanto desconfiado da nova chancela que surgia para designar o movimento literário do qual foi o principal fomentador. Na ocasião o falecido poeta Solano Trindade foi homenageado através de sua filha, a dançarina e poeta Raquel Trindade, conferindo ao evento uma exaltação da cultura negra, algo muito presente na poesia de Allan da Rosa e de outros poetas e escritores que despontavam naquele momento. Estava sacramentada a nova denominação para a literatura feita nas bordas da metrópole: Literatura Periférica.

A Edições Toró ali anunciada, rapidamente lançou outros livros chegando ao ano de 2010 com 16 títulos em catálogo, todos semimanufaturados, com projeto gráfico arrojado, com elementos artesanais, dando a cada exemplar uma identidade própria. Um empreendimento editorial único até então, impulsionado por editais públicos, principalmente o VAI, mas que se destacou também pela qualidade literária dos escritos, escolhidos com muito critério por Allan da Rosa editor do selo editorial. Os escritores da periferia aprendem a publicar seus próprios livros.

Semana de Arte Moderna da Periferia

Realizado em novembro de 2007, foi um evento coletivo organizado por mais de 40 grupos que se juntaram motivados pela ideia de fazer um contraponto à Semana de Arte Moderna de 1922 que, naquela ocasião, comemorava seus 85 anos. Essa efeméride inspirou a criação de um manifesto redigido pelo poeta Sergio Vaz, chamado Manifesto da Antropofagia Periférica numa alusão direta ao Manifesto Antropofágico escrito por Oswald de Andrade em 1928[8][8] Impresso em fac-símile e redigido no livro Antropofagia Hoje? Oswald de Andrade em Cena. RUFFINELLIE, J.; ROCHA, J.C. de Castro. (Orgs.). São Paulo: É Realizações Editora, 2011..

O manifesto lido por diversas vezes nas atividades do evento teve a virtude de traduzir um sentimento de emancipação que entusiasmou os ativistas e o público que se envolveu na Semana de Arte Moderna da Periferia. “Por uma periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor” defende o texto num contraponto explícito ao manifesto modernista, e continua: “é preciso sugar da arte um novo artista: o artista-cidadão [...] um artista a serviço da comunidade, do país. Que, armado da verdade, por si só exercita a revolução”.

O texto de Sergio Vaz tem um caráter político e estético de grande contundência. No mesmo evento, um coletivo de artistas periféricos ligado ao vídeo, também divulgou seu manifesto. Com clara proposição estética, o texto porém não logrou a mesma repercussão do outro. Trata-se do Manifesto do Olhar Visceral. Neste documento se lê: “Nossa estética é a da procura, a do resgate, a do encontro, da experimentação [...] Celebração do personagem vivo, do personagem alma, da periferia viva [...] O encontro entre personagem, espectador e realizador, um na bolinha do olho do outro [...]”[9][9] Os dois textos foram inicialmente publicados na Revista Cultura Periférica. São Paulo, n.0, 2007, publicação que, pelo que pode ser averiguado, teve apenas esta edição..

A Semana de Arte Moderna da Periferia, com sua abrangência e seus manifestos, logram ao movimento da literatura periférica uma contribuição fundamental no sentido de afirmar propósitos estéticos elevando o potencial artístico das práticas culturais existentes no universo da cultura de periferia, significando um acontecimento que permitiu um nível de aglutinação nunca mais visto dentro do movimento, mas que continua influenciando sua produção artística.

Pelas Periferias do Brasil

O escritor Alessandro Buzo lançou em 2007 o primeiro número da coletânea Pelas Periferias do Brasil. Tratou-se de um esforço para revelar novos autores de várias partes do Brasil. Com o apoio da ONG Ação Educativa e do Centro Cultural da Espanha, Buzo publicou cinco volumes editados entre 2007 e 2011, mobilizando 84 autores (vinte e uma mulheres) oriundos de 19 estados brasileiros. Buzo assume para si o legado de Ferréz como fomentador da literatura com uma abrangência nacional muito mais ampla e um conjunto de autores diversificados.

Diferente de Ferréz, Buzo não se apoia numa retórica de combate ao Sistema. Pragmático, ele se move pelo espírito empreendedor que lhe caracteriza e faz dele um importante agitador e divulgador da cultura periférica, estando atualmente com um quadro nas edições de sábado do Jornal SPTV da TV Globo, algo inimaginável para o Ferréz que, a exemplo dos Racionais MC´s, abomina esta emissora e quase toda a Grande Mídia. A coletânea Pelas Periferias do Brasil cumpriu um papel relevante principalmente pelo seu alcance, porém como se tratava de uma publicação onde os autores entravam por adesão e não por seleção, posto que cada participante pagava uma quantia que depois era ressarcida com exemplares da publicação, os textos eram muito desiguais, alguns de qualidade duvidosa e nem todos os autores eram de fato periféricos. Ainda assim sua importância histórica é fundamental, pois dá um panorama interessante além de ter um projeto gráfico e ilustrações belíssimas feitas pelo artista gráfico e jornalista Alexandre de Maio.

Coleção Literatura Periférica

Atenta à ascensão da literatura da periferia, informada que era pela ONG Ação Educativa, da qual era parceira, a Global Editora se propõe a lançar uma coleção dedicada a este segmento literário. Com tradição em publicar autores tidos como marginais, entre eles Plinio Marcos e João Antonio, a Global surgiu como uma editora ideal para a inserção dos principais talentos daquele momento. Entre 2007 e 2009 foram publicados os cinco primeiros volumes: Sergio Vaz, Alessandro Buzo, Sacolinha, Allan da Rosa e Dinha. Em 2010 chegou o rapper GOG que, com o livro A Rima denuncia, protagonizou o primeiro livro do gênero de um único autor, publicado em editora comercial. Sergio Vaz publicou em 2011 um novo livro, agora de crônicas, Literatura, pão e poesia, sua estreia na prosa e, finalmente em 2012 o escritor Luiz Alberto Mendes, conhecido autor de livros com memórias de seus 30 anos de reclusão em presídios de São Paulo, publica na coleção sua mais recente obra: Cela forte.

Volume 6 da Coleção Literatura Periférica da Global Editora

Até os dias de hoje, este é o principal projeto existente no mercado editorial dedicado à Literatura Periférica, resgatando em certa medida o que fez a extinta Editora Labortexto no início da primeira década do século XXI. Nenhuma outra editora se arriscou em iniciativa semelhante. Por outro lado, não houve até aqui nenhum caso de sucesso de vendagem. Os autores continuam comercializando seus livros de mão em mão em eventos e palestras, uma vez que obtêm exemplares da editora pela metade do preço. Fora o fato de que, estando numa grande editora, participam dos eventos do mercado, entre outras garantias que só estando num catálogo de prestígio podem ter, a vida desses autores em nada mudou, fato que arrefeceu as expectativas de outros autores que almejavam uma inserção deste tipo. Porém, é inegável a importância de se ter uma coleção desse porte no mercado editorial, algo que ajuda até a definir um certo cânone dentro do Movimento.

Antologias dos saraus

Desde 2008, diversos saraus, surgidos depois da Cooperifa, lançaram suas coletâneas, todas elas financiadas por editais públicos, especialmente o VAI. O primeiro a publicar foi o Sarau Elo da Corrente, de Pirituba, Zona Oeste que lançou seu primeiro registro editorial ainda em 2008. Este Sarau criou um selo editorial e publicou vários outros livros e produziu um DVD. Na vizinha Brasilândia (Zona Norte), o Sarau da Brasa publicou sua primeira coletânea em 2009 e desde então mantém a publicação anual de sua antologia, somando quatro obras. Os saraus Perifatividade (Sacomã, Zona Sul), Sarau da Ademar (Jardim Miriam, Zona Sul) e Sarau Suburbano ( organizado por Alessandro Buzo, no Centro ) lançaram seus livros em 2011.

Coletânea do Sarau da Ademar
Coletânea do Sarau da Brasa

Toda essa produção consolida os saraus como espaços de formação de escritores, para além de apreciadores de literatura e ratificam a tese de que são os saraus hoje o principal espaço de produção e difusão da literatura de periferia. Os saraus inclusive têm contribuído para um melhor equilíbrio de gênero, dada a razoável presença de mulheres nesses encontros. A predominância ainda é masculina, mas a participação feminina é muito maior do que nas publicações da Literatura Marginal. Neste aspecto cabe destacar o Sarau da Brasa que, conforme quadro abaixo, apresenta uma importante participação feminina, quase paritária a dos homens.

Sarau

Livro

Ano

Nº de autores

Nº de mulheres

Elo da Corrente

Prosa e Poesia Periférica 2008 20 05

Da Brasa

Antologia vol. I 2009 43 18
Antologia vol. II 2010 45 19
Antologia vol. III 2011 42 20

Perifatividade

Fundão do Ipiranga 2011 36 07

Ademar

Primeiras Prosas 2011 69 23

Suburbano

Poetas do Sarau Suburbano 2011 26 05

Total

281

97

Duas questões para encerrar

Não há um manifesto com proposição estética e política representativo a ponto de aglutinar o movimento de escritores e escritoras dando a este uma consistência de movimento literário. O Manifesto Encruzilhador de Caminhos (Manifestação da Literatura Divergente), escrito e divulgado pelo poeta Nelson Maca, de Salvador, talvez cumpra esse papel. Este manifesto, entretanto, não se restringe apenas aos escritores moradores das periferias urbanas. Lançado em um encontro em São Paulo, em setembro de 2012, este manifesto foi referendado por autores da periferia, como Allan da Rosa, rappers como GOG, mas também autores reconhecidos como Glauco Matoso e Marcelino Freire, além de coletivos como o Poesia Maloquerista e o Zona Autônoma da Palavra (ZAP) que flertam com a periferia, mas são compostos por pessoas que não moram nos extremos da Cidade. Maca pretende criar uma zona de convergência a partir de uma divergência básica com o cânone e o questionamento da sacralização do livro como suporte único do texto literário. É uma perspectiva que se abre para o movimento que vive hoje o seu amadurecimento.

Vivemos um momento em que o discurso da oposição periferia/centro dá sinais de esgotamento. O desafio que se coloca para a literatura da periferia hoje e para todas as demais linguagens é o da valorização artística, sem prejuízo de sua identidade, obviamente. Para isso é necessário se estabelecer um campo da crítica. Estariam os escritores periféricos dispostos a se submeterem à crítica? Por outro lado, os padrões da crítica literária, hoje restrita à universidade, se prestam à análise da literatura periférica? Os Estudos Culturais oferecem uma possibilidade muito promissora para resolver essa equação, posto que une análise crítica com o reconhecimento do valor cultural e/ou artístico da produção literária das periferias. Assim, o fato do tema da literatura das periferias estar na pauta deste seminário é um indicativo muito importante de que estamos num estágio distinto da apreciação acadêmica deste fenômeno cultural que é dos mais instigantes da cena cultural urbana brasileira.

notas de rodapé

 
[1] Sarau criado por Sergio Vaz e Marco Pezão em 2001 no Taboão da Serra, migrado 2 anos depois para o Bar do Zé Batidão no bairro Chácara Santana na periferia da Zona Sul de São Paulo onde está até hoje realizando encontros semanais ininterruptos todas as quartas-feiras dos quais participam cerca de 50 poetas e mais de 100 pessoas na plateia. É o maior e mais antigo sarau da periferia de São Paulo. Ver: VAZ, Sergio: Antropofagia Periférica – O Sarau da Cooperifa. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2008.
    [2] Criado em 1990, o Racionais MC’s ganhou destaque com seu terceiro CD Raio X do Brasil lançado em 1993 que teve rapa de sucesso como O Homem na Estrada e Fim de Semana no Parque. Em 1997, o grupo lançou o CD Sobrevivendo no Inferno que obteve um sucesso avassalador com os raps Diário de Um Detento, Fórmula Mágica da Paz, Capitulo 4 Versículo 3, entre outros.
[3] Programa de fomento da Prefeitura de São Paulo, criado em 2004 que financia projetos de jovens até 29 anos, moradores de bairros periféricos aportando atualmente a quantia de R$ 21.000,00. Cerca de 10% dos projetos do VAI são destinados a projetos de literatura, sendo que vários deles resultam na publicação de livros.
[4] Allan da Rosa teve textos publicados por Ferréz no Ato III do Suplemento Literatura Marginal Caros Amigos ( 2004) , no livro Literatura Marginal – Talentos da Escrita Periférica, organizado por Ferréz e publicado pela Editora Agir ( 2005) e na Coletânea O Rastilho da Pólvora – Antologia Poética do Sarau da Cooperifa ( 2004).
[5] Não há um número preciso de títulos publicados, mas esta cifra  superior a 100 é confiável, posto que possuo em meus arquivos e fazem parte  do corpus de minha pesquisa, 103 obras. Importante destacar neste aspecto, a importância do  Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), Programa de fomento da Prefeitura de São Paulo que, ao longo de 8 anos de existência, apoiou mais de 800 projetos, pouco mais de 100 deles  relacionados à literatura e cerca de 60 dos quais resultaram na publicação de livros.
[6] Trata-se de Coleção Literatura Periférica que surgiu em 2007 e tem oito títulos no catálogo.
[7]Os escritores são: Gaspar ( Z’áfrica Brasil)texto de orelha; Mano Brow ( Racionais MC’s) A número 1, sem troféu ( abertura da primeira parte); Conexão do Morro – Senhora Zona Sul( abertura da segunda parte); Outra Versão – Se eu quero, eu posso, eu sou ( abertura da terceira parte); Realismo Frontal – Talvez seja melhor seguir na honestidade ( abertura da quarta parte); Conceito Moral – Ponto de Vista sobre o campo de batalha( abertura da quinta parte).
[8] Impresso em fac-símile e redigido no livro Antropofagia Hoje? Oswald de Andrade em Cena. RUFFINELLIE, J.; ROCHA, J.C. de Castro. (Orgs.). São Paulo: É Realizações Editora, 2011.
[9] Os dois textos foram inicialmente publicados na Revista Cultura Periférica. São Paulo, n.0, 2007, publicação que, pelo que pode ser averiguado, teve apenas esta edição.

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