Nanotecnologia otimiza a vacina contra o câncer utilizando o próprio sangue!

O avanço e a reincidência de câncer nos seres humanos, por diversas vezes, se deve à não identificação do tumor pelo organismo, pois as células cancerosas frequentemente mimetizam células saudáveis e aproveitam seu “disfarce” para produzir proteínas que podem enfraquecer e inativar as células do sistema imune que as atacariam.

Estudos prévios na literatura mostraram que a entrega correta dos antígenos (partículas que caracterizam cada patógeno e induzem a resposta imunológica) para as células do sistema imune gera uma resposta ao câncer muito mais eficaz, aludindo ao mecanismo de resposta imunológica semelhante ao das vacinas. Essa capacidade surge da necessidade de uma identificação precisa, permitindo que o organismo reconheça e elimine eficazmente as células cancerosas. Assim, pesquisadores da Universidade de Soochow e da Universidade da Carolina do Norte utilizaram células do sangue, chamadas de glóbulos vermelhos ou eritrócitos, naturais ao próprio corpo, para melhorar o mecanismo de entrega de antígenos. Eles esvaziaram o interior do eritrócito para que, então, passassem por um filtro poroso usualmente composto por uma membrana de policarbonato, gerando os chamados nanoeritrossomos, um sistema de vesículas de até 100 nanômetros (Figura 1).


Figura 1. Transformação dos glóbulos brancos esvaziados (RBC) em nanoeritrossomos.
Fonte:  Buss, Nicole et al. (2020), alterações próprias

Quando os eritrócitos ficam velhos ou danificados eles são levados ao baço, um órgão responsável por reciclá-los e que também é rico em células do sistema imunológico. Como os nanoeritrossomos sofrem o mesmo processo que seus predecessores, é possível se aproveitar do destino natural dessas células a esse ambiente suscetível à geração de resposta imunológica para a entrega dos antígenos tumorais.


Figura 2. Fusão do nanoeritrossomo com a membrana tumoral, formando o
Nano-Ag@eritrossomo.
Fonte: Han, Xiao et al. (2019), alterações próprias

No estudo publicado em setembro de 2019, os nanoeritrossomos tiveram sua membrana fundida à membrana tumoral, formando o Nano-Ag@eritrossomo, que servirá como antígeno e carregando-a até o baço (Figura 2). O objetivo era, portanto, que as células linfóides presentes nesse órgão, após o processo de reconhecimento do antígeno, permitissem a identificação do câncer e gerassem uma resposta imunológica mais eficaz, tornando ainda mais promissora a “vacina contra o câncer”. 

Os autores testaram a terapia para células de melanomas (câncer de pele) e de câncer de mama e os resultados foram promissores: três doses de nano-Ag@eritrossomo foram capazes de aumentar a sobrevida de camundongos sem efeitos colaterais como a perda de peso, além de controlar o crescimento tumoral em camundongos reincidentes em câncer. Corroborando com os resultados positivos, notou-se o aumento de citocinas, proteínas que regulam a resposta imunológica e a quantidade de células linfóides. O processo também é muito rápido: os nanoeritrossomos atingiram o baço dentro de 1 hora após a administração intravenosa. 

O uso de um derivado do próprio sangue como uma vacina contra o câncer se mostra uma estratégia eficaz, pois supera problemas de biocompatibilidade e toxicidade ao organismo, muito latentes em tentativas prévias de uso de nanocompósitos para a entrega de remédios. Ainda, os pesquisadores ressaltam como a técnica traz uma perspectiva positiva para o tratamento de câncer, pois permite a personalização do tratamento, a consideração de particularidades genéticas e de cada tumor de acordo com o indivíduo. A partir da nanotecnologia, as perspectivas para o tratamento de câncer se tornam cada vez mais positivas.

Para mais informações, acesse o artigo aqui

Referências:

Buss, Nicolle; Yasa, Oncay; Alapan, Yuso; Akolpoglu, Mukrime Birgul; Sitti, Metin. Nanoerythrosome-functionalized biohybrid microswimmers. APL Bioeng. 7 de abril de 2020. doi: 10.1063/1.5130670.

HAN, Xiao et al. Red blood cell–derived nanoerythrosome for antigen delivery with enhanced cancer immunotherapy. Science advances, v. 5, n. 10,  23 de outubro de 2019. doi: eaaw6870


doi: 10.1126/sciadv.aaw6870

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